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Entrevista: Woodkid fala sobre o seu novo álbum, “S16”

Lançar um álbum com canções densas e musicalmente sombrias no ano de 2020 não é tarefa fácil. Que o diga o músico francês Yoann Lemoine, mais conhecido pelo pseudônimo Woodkid, que lançou o disco “S16” em outubro.

O álbum foi o seu primeiro lançamento em sete anos. Em 2013, Lemoine (ou Woodkid) lançou o álbum “The Golden Age”, que conta com músicas como “Run Boy Run”, cujo vídeo, dirigido por ele próprio, foi indicado para o Grammy Awards de 2013.

Aliás, de videoclipe, Lemoine entende; entre os seus trabalhos, destaca-se a direção de vários vídeos de prestígio, como “Born To Die”, de Lana Del Rey e “Sign Of The Times”, de Harry Styles.

Mas, neste momento, o foco de seu trabalho está em seu próprio projeto. Em abril, o músico lançou o clipe do single “Goliath”, que está presente no novo álbum. Segundo Lemoine, “S16” é um álbum traz canções de amor, mas com uma “camada de suspense em cima que ecoa com o (momento atual do) mundo”. E como é lançar um disco que dialoga de forma subversiva com o ano de 2020? “Não é fácil”, confessa Lemoine em entrevista exclusiva ao Tracklist.

Saiba mais sobre o novo trabalho de Woodkid a seguir.

Entrevista com Woodkid

Seu novo álbum se chama “S16”, o que ecoa o símbolo químico e o número atômico do Enxofre na tabela periódica. Você pode nos dizer por que o escolheu para ser o nome do seu novo álbum?

Acho que eu faço música um pouco como um cientista, como um químico. Eu queria que o álbum fosse “lavado” com uma camada de ácido, como se estivesse corroído, atacado.

Trabalhei em uma imagem industrial e, muito rapidamente, o simbolismo do Enxofre no mundo industrial se tornou interessante. O enxofre está ligado à vida e à morte, à produção de fertilizantes, mas também ao gás mostarda, na alquimia… adorei a ambiguidade desse elemento. Acho que o álbum é sobre essa ambiguidade, o paradoxo da atração e repulsão, no amor em particular, e seus mecanismos de vício.

O seu primeiro álbum, “The Golden Age”, foi lançado em 2013. Por que você levou 7 anos para lançar um novo projeto só seu?

Eu acho que essa é a hora que eu precisava aprender algo novo para formar novas ideias. Eu também queria desafiar meu sucesso e não surfar no sucesso do primeiro álbum e ser esquecido. Você sabe que também sou diretor de cinema, então estou acostumado a “ficar na sombra”, e gosto muito disso também. Às vezes, é muito confortável criar sem ser exposto frontalmente.

Foto: Divulgação

Depois do lançamento de seu primeiro álbum, você permaneceu muito ativo, colaborando com nomes como Nicolas Ghesquière para a Louis Vuitton; JR para o NYC Ballet; Sidi Larbi Cherkaoui em um trabalho coreográfico; e Jonas Cuaron na trilha sonora do longa-metragem “Desierto”. Como você escolhe os projetos com os quais vai colaborar?

Na realidade, eu não os escolho. São projetos que acontecem muito naturalmente, a partir de encontros e coincidências. Eu acredito nas relações humanas e na amizade no trabalho, esse é meu único combustível realmente. Conheci a Larbi através de uma amiga nossa que fez uma entrevista cruzada, nos apaixonamos musicalmente e pronto, éramos almas gêmeas artísticas. Conheci JR através de outro amigo… sempre foi muito natural.

Como você diferencia as faixas de “S16” com as de “The Golden Age”?

Eles são mais interessantes e ricas musicalmente, eu acredito. É um disco mais inventivo, em termos de produção. Eu também acho que meu alcance vocal me permite fazer mais coisas, ser mais livre. Tematicamente, optei por algo mais cru e honesto, (a faixa) “So Handsome Hello” no álbum é muito sexual. É a primeira vez que escrevo uma música assim.

Suas músicas dialogam com o contexto global atual. Quais assuntos podemos ver em “S16”?

São canções de amor, elas são muito íntimas e cruas, eu acho. Mais sexualizadas também. Mas há uma camada de suspense em cima que ecoa com o mundo, com a dificuldade que é suportar o peso disso. Quase como um diretor, eu uso relacionamentos amorosos para falar sobre algo maior.

Você pode ler o que quiser nas músicas: o desafio do aquecimento global, a ascensão de uma nova forma de fascismo no mundo, a aceleração e saturação da informação… E dentro disso há luz. Momentos de felicidade e brilho. Queria falar sobre a beleza de pedir ajuda, de confiar em alguém.

Tive o prazer de ouvir “S16” e, na minha opinião, as faixas são densas e até um pouco sombrias. Isso teria alguma coisa a ver com os assuntos abordados neste trabalho?

Claro. Eu gosto de dizer que queria que este álbum fosse quase um thriller de ficção científica. Tive muito interesse em explorar essas sonoridades que ecoam em tantos filmes e temas que adoro. Eu também queria que o álbum fosse cheio de silêncio, ruptura e contraste. Quase como se fosse fragmentado e caótico.

Em abril, você lançou o videoclipe da música “Goliath”. Teremos outros vídeos de “S16” saindo em breve?

“Pale Yellow” e “In Your Likeness”. “Pale Yellow” fala sobre os mecanismos internos do corpo. Já “In Your Likeness” foi muito desafiador para mim, como eu tinha que estar no vídeo. É uma música muito íntima, mas eu queria filmar no local mais épico: plataformas de petróleo no mar. Eu queria que o invisível, o emocional, colidisse com o gigantesco.

Como é lançar um álbum tão profundo em um momento tão caótico para a sociedade?

Para ser honesto, não é fácil. Mas não posso reclamar, ainda sou muito privilegiado. Estou orgulhoso de que este álbum exista agora e em 10 anos, espero, terei orgulho de ter o lançado neste momento.

Gosto de como essa música se alinha estranhamente com o mundo e como posso mudar a forma da conversa em torno dele e da situação atual.

E como você vai promover o “S16” nos próximos meses?

Não tenho certeza se realmente vou conseguir. Tudo está absurdamente lento e congelado. Ainda posso contar com minhas redes sociais, mas não sou um grande fã delas. Espero que a turnê aconteça em algum momento e acho que é onde minha música realmente acontece, tenho trabalhado muito nisso com minhas equipes e espero que as pessoas gostem.


Ouça “S16” de Woodkid abaixo:

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