A cantora e drag queen Kaya Conky lançou, no dia 16 de março, o seu primeiro disco de estúdio, “SEXTAPE”. Composto por 11 faixas, o material traz parceiras com Grag Queen, Puterrier, A Travestis e Baile do Gunna.
O lançamento acompanha visualizers para todas as faixas, trabalhando diferentes perspectivas para o disco, que traz gêneros como brega-funk, pop e pagodão baiano em sua composição.
Conversamos com a Kaya Conky sobre o projeto e sobre as ideias por trás das produções. Confira!
Entrevista com Kaya Conky
Tracklist: O “Sextape” é o seu primeiro álbum e ele veio depois de um tempo desde o começo da sua carreira. Você trabalhou alguns EPs, parcerias, mas agora eu quero saber como é botar um projeto full na rua depois de tanto tempo produzindo e trabalhando nele?
Kaya Conky: É uma sensação de realização muito grande, sabe? De dever cumprido. É gostoso quando você bota esforço, empenho em um trabalho e ele se finaliza, nasce e acontece. É como você falou, já fazia um tempo que eu vinha trabalhando em outras coisas, singles, parcerias, EPs, remixes e eu queria muito a coisa do álbum.
No começo eu até achava que não queria um disco, mas depois eu comecei a viajar muito nessa coisa de contar história, trazer as pessoas para o meu mundo e aí surgiu o álbum como uma oportunidade de amplificar essas histórias. Falar sobre alguns temas, trazer várias perspectivas e ao menos tempo novas sonoridades dentro de um contexto… Vê-lo lançado é uma satisfação muito grande.
Eu imagino. É muito comum alguns artistas falarem que durante a produção de um álbum o percurso muda. Inclusive agora, pós-pandemia, a própria Pabllo Vittar falou que o “Noitada”, seu mais recente disco, mudou no meio do processo. Isso aconteceu com você também ou foi algo linear?
Rolou! Rolou bastante durante o processo de composição do álbum. Escrevi músicas que acabaram nem entrando, algumas inclusive quase foram os singles para abrir o álbum e acabaram que no fim das contas elas saíram do álbum. Eu tenho o meu tempo e nem toda música envelhece tão bem, nem toda música dura tanto tempo assim… Algumas eu pensava “essa vai ficar boa com essa”, “essa com aquela fica boba”, a única certeza que eu tinha era o conceito do álbum, que foi o que saiu.
Uma coisa que me chamou bastante atenção é o fato de você ter feito visualizers diferentes para todas as faixas. De onde saiu essa ideia? Eu sei que é um conceito que a galera lá de fora usa bastante, mas aqui acho que não conheço um artista que tenha feito como você, com essa singularidade.
Então, eu queria muito que esse meu primeiro álbum – acredito que todos os próximos que eu venha lançar também, enfim, eu queria gostar de todas as músicas, sabe? Não queria aquela vibe de “isso aqui é só pra encher, para completar”. Eu queria gostar de tudo, e no final das contas foi o que aconteceu. Me dava aflição em escolher uma para single. Tem aquele negócio de que se uma não tivesse tantos plays eu ia acabar não trabalhando, porque essa é lógica mercadológica, né. Fora que o som que você se apega não é o que a galera se apega.
Como eu falei antes, queria muito contar uma historinha, contextualizar. Quando eu vejo o audiovisual de alguma música, eu tenho a oportunidade de entrar na atmosfera que o artista propôs quando ele estava fazendo aquela faixa. É sobre proporcionar a experiência completa, daí vieram os visualizers.
Você possui colaborações pontuais nesse disco e que funcionam muito bem nas faixas. Como foi feita essa seleção de parcerias?
A princípio eu não tinha pretensão de fazer parcerias nesse disco porque como fazia muito tempo que eu não lançava trabalhos completos e as últimas coisas que eu tinha lançado eram singles soltos, eu tinha essa necessidade de trazer a minha singularidade, minha estética, minha vibe, nessa oportunidade. O momento de trabalhar a Kaya, sabe? De trazer quem de fato eu acredito que eu sou agora, que é totalmente diferente da Kaya Conky de “Sequência do Bota”, de “Quebradinha”, e principalmente da Kaya Conky de “E Aí Bebê”.
Por exemplo, com o Puterrier desde o ano passado a gente já vinha trocando ideia sobre fazer um som junto e tal, mas aí como a gente queria fazer literalmente junto, no mesmo lugar, nossas agendas não estavam batendo e foi quando surgiu a ideia do remix.
“Putaria 2000” já é uma música curtinha, aí eu falei: “Puterrier acho que dá para gente fazer um remix que é um formato que ainda não tenho no meu álbum”. Ele adorou, eu escrevi meu verso e rolou. Para a minha surpresa, a música original começou a viralizar no TikTok, acho que foi em novembro mais ou menos, e o álbum estava para sair em fevereiro. Eu até fiquei pensando em algumas dinâmicas para soltar “Putaria 2000 remix” antes ou naquele momento ali da viralização para ver se dava em alguma coisa, mas acabei deixando para lá e o remix veio agora como um up, um suspiro para faixa.
Você é uma drag que tem uma pegada muito regional e canta abertamente sobre coisas explícitas. Em algum momento dessa jornada você sentiu algum tipo de rejeição, preconceito? Sabemos que só por fazermos parte da comunidade LGBTQIAP+ ficamos de fora de alguns espaços, você temeu por isso em algum momento? Recalculou a rota?
Isso já passou pela minha cabeça, é uma situação que acontece no geral, mas em nenhum momento eu temi por isso. Depois de todos esses anos trabalhando como drag, com música, fazendo o que faço, o que literalmente me incomodou foi não me ver tão presente em trabalhos meus.
O álbum, por exemplo, eu queria principalmente estar presente ali, com todo mundo que fosse ouvir, que fosse consumir, fui nesse caminho e me agarrei a isso. No funk, na putaria, com vários gêneros, estou muito feliz como que faço, e fico feliz em ver que a galera abraça.
RuPauls Drag Race Brasil foi confirmado e muito tem se especulado sobre. Você participaria de um Drag Race Brasil? Caso não, você vai assistir essa primeira temporada?
Eu sou obcecada por reality show de drag, sou cria de RuPaul assisto desde o começo, e foi a RuPaul que me inspirou a me montar. Participar já é uma outra camada, mas adoraria a experiência de estar em um programa desses, acho esperaria para ver umas duas ou três temporadas para sentir o feeling, a dinâmica, a vibe… Prestaria atenção se algo me acrescentaria ali, pois a gente fica receosa com esse povo de reality show, ainda mais de drag onde tudo é intenso (risos).
Para encerrarmos, quais são os planos de Kaya Conky para 2023? Turnê do “SEXTAPE”, clipes, remixes?
Clipes eu não pretendo fazer, mas performances elaboradas é algo que quero, principalmente para os feats que acabei não conseguindo gravar os visualizers com as pessoas. Aí penso em algo assim, trazer umas versões ao vivo, com uns retoques nas músicas…
Além disso, estamos a todo vapor na produção da “SEXTAPE Tour”. É um show que venho me empenhando bastante, quero trazer uma experiência diferente das que eu já venho trazendo para o palco, trabalhar ainda mais a conexão palco e público, com um show mais interativo, divertido, safado, e do jeito que eu gosto.