Saturday Night Live, The Lonely Island, Brooklyn 99. Se você acompanhou a televisão americana nos últimos anos, é provável que tenha visto o rosto de Andy Samberg e dado risada de suas piadas. O ator e comediante, que ganhou o mundo com seu carisma, coleciona decisões acertadas, que o consolidaram como um dos principais nomes da comédia atual.
Vencedor do Globo de Ouro (como melhor ator em série de TV, em 2014) e do Emmy (com melhor música e letra originais, em 2007), Samberg podia até parecer um jovem inconsequente e sem qualquer responsabilidade com a própria carreira, sem muita estética e beirando o escatológico. Porém, hoje ele é um dos poucos que sabem traçar os limites de uma piada e o faz de maneira séria.
Quem segue a carreira do ator o viu passar por diferentes transformações. Dentro da própria comédia, encontrou espaço como músico e produtor. Não satisfeito em caminhar sozinho, Samberg trouxe consigo Akiva Schaffer e Jorma Taccone, também atores, comediantes e músicos, seus melhores amigos de infância. Então, a sinergia do trio, desde os tempos de SNL, rapidamente atraiu a confiança e simpatia do público. Isso aconteceu justamente por ser algo 100% orgânico e genuinamente divertido de assistir.
E não é só o público que tem afeição por Samberg e pelo The Lonely Island, mas, sim, toda a indústria do entretenimento. No meio musical, o grupo possui parcerias com Justin Timberlake, Akon, Adam Levine, Usher, Julian Casablancas, Lady Gaga e diversos outros nomes da cultura pop. Independente de gênero, as músicas são criadas tendo o hip-hop como pano de fundo, agregando as melhores qualidades de cada artista e somando na equação. Os clipes são ainda melhores, colocando esses mesmos artistas em situações inimagináveis, dignos de uma esquete de comédia, rendendo milhões de visualizações
Já no meio da TV e do cinema, é comum que você encontre Samberg entre nomes tipo Tim Meadows (“Meninas Malvadas”), Maya Rudolph (“The Good Place”), Bill Hader (“Superbad”) e Chelsea Peretti (também “Brooklyn 99”). Ele também é um dos pupilos de Adam Sandler, quem o “passou o bastão” de melhor comediante do momento. Todos esses atores, além de amigos de longa data, constantemente são convidados especiais nos projetos, reforçando a familiaridade com os telespectadores.
Andy Samberg saiu do “cancelamento” para ser uma das pessoas mais queridas de Hollywood
Até aqui, não é difícil imaginar o porquê de Andy Samberg ser uma das pessoas mais queridas pelo público e pelas pessoas que fazem entretenimento. Além de crescer junto com a geração que o assistiu, a imagem de “amigo da galera” foi amplificada ao viver Jake Peralta, detetive da 99ª delegacia de polícia do Brooklyn.
O personagem, que carrega consigo uma personalidade infantilizada e que vive pelo impulso, ficou popular sem ofuscar o brilho do restante do elenco – que conta com personagens femininas fortes e de descendência latina (Melissa Fumero e Stephanie Beatriz), um capitão gay (Andre Braugher), um sargento amante das artes (Terry Crews), um detetive apaixonado pela gastronomia exótica (Joe Lo Truglio) e dois representantes da velha-guarda que sonham com a aposentadoria (Joel McKinnon Miller e Dirk Blocker).
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Essa combinação tinha tudo para ser errática e descompassada. No entanto, soube fazer aquilo que o mundo da comédia dizia ser tão difícil: estabelecer o limite do humor e transformá-lo em algo saudável. Afinal, até onde realizar críticas ou pautar desigualdade de gênero, brutalidade policial e racismo pode dar certo?
A série, que tinha o canal Fox como emissora (famosa por aderir um editorial mais conservador), chegou a ser cancelada após a 5ª temporada. Com isso, os fãs se mobilizaram nas redes sociais, levantando hashtags como #SaveBrookyn99 (“Salvem Brooklyn 99”) e #Save99.
Na 6ª temporada, a NBC tomou as rédeas do projeto, que antes havia sido ofertado para a concorrente. Um dos chefes de departamento da empresa, Robert Greenblatt, chegou a dizer que “se eu soubesse que Andy Samberg seria escalado para o programa, eu jamais teria vendido para a Fox”. Este ano, a série encerra seu tempo na TV com a 8ª e última temporada.
“Brooklyn 99” como contra-ataque à comédia ofensiva
“Brooklyn 99” mostrou que, com sensibilidade e um enredo bem trabalhado, é possível usar o talento de fazer outros rirem como principal arma de reflexão. Em português claro, é possível fazer comédia sem ser um babaca.
É importante ressaltar que a popularidade da série não está somente no protagonismo de Samberg, mas também suportado por esse elenco. “Brooklyn 99” reúne as principais minorias da televisão: latinos, negros e a comunidade LGBTQIA+. Esses, quando não são categoricamente interpretados de maneira caricata, não existem em peso na TV ou no cinema. É uma transformação que vemos acontecer em passos de tartaruga.
Portanto, todas aquelas pessoas que antes não se viam representadas, ganharam um lugar para chamar de seu. Essa pauta foi, inclusive, um dos motivos pelos quais Samberg se indignou com quem criticou as novas regras de diversidade determinadas pelo Oscar; a partir de 2024, a Academia passará a adotar critérios mais rígidos na escolha dos indicados.
Se “até ontem” Andy Samberg não era levado a sério, hoje a história é outra. Diferente da figura descompromissada de anos atrás, o ator não parece ter problemas em assumir o papel de “gênio” ou “o futuro da comédia”. E, embora esses títulos sejam bastante presunçosos, uma coisa é certa: se o futuro da comédia briga por essas pautas tão importantes para nós, consumidores desse conteúdo, é um sinal de que estamos caminhando num futuro mais justo, seguro, e igualmente divertido para todos.