Existe um motivo pelo qual toda a indústria musical para quando é a vez de Adele lançar um novo álbum, e “30”, seu quarto disco de estúdio, sintetiza a influência da britânica no mercado fonográfico. Recém-divorciada e passando pelo seu “retorno de Saturno”, conhecido pela astrologia como o momento da vida onde tudo muda, “30” não é somente mais um álbum em sinergia com suas confissões geracionais — como o “19”, “21” e o icônico “25” —, mas também representa um novo olhar para a vida enquanto mãe, mulher e artista que se coloca no epicentro da sua própria história e reconhece seu papel diante dos outros.
“30”, lançado nesta sexta-feira (19), possui 12 faixas, entre elas o lead single “Easy On Me”, que contou com clipe já divulgado e foi determinante para a expectativa do que estava por vir no novo trabalho da voz de “Hello“. Com vocal imponente e uma balada “deprê” típica de Adele, a primeira faixa para divulgar o novo álbum deixou claro que ela estava de volta, e voltaria para arrebatar mais uma temporada de premiações.
O single de retorno já bateu o primeiro recorde do “30” antes mesmo do lançamento e foi a faixa mais ouvida em apenas um dia da história do Spotify. Mas quem se baseou nele terá uma surpresa sobre as outras 11 músicas que enredam o álbum — não somente sobre as novas experimentações da artista, mas também na aposta de um disco com faixas longas, sendo algumas até com mais de 6 minutos.
Em entrevista com Zane Lowe pela Apple Music divulgada na última quarta-feira (17), ela confessou que esse trabalho robusto foi proposital e falou sobre a efemeridade das músicas atuais por causa de redes como o TikTok. “Se todo mundo está fazendo música para o TikTok, quem está fazendo a música para a minha geração? Quem está fazendo a música para os meus pares? Eu vou fazer esse trabalho com prazer”, defendeu Adele, que aos 33 anos já representa um dos grandes nomes da música.
Em seu retorno triunfal para a nova fase, Adele apresentou mais 3 faixas do seu novo projeto em um especial para a CBS no domingo, 14 de novembro. “Adele: One Night Only” quase alcançou a marca de 10 milhões de espectadores e estará disponível no Globoplay, apesar de ainda não ter sido divulgada oficialmente a data de lançamento. Com uma grande orquestra, banda, um elegante vestido preto e a imponente voz, Adele apresentou para o mundo os singles “Hold On”, “Love Is a Game” e “I Drink Wine”, além de uma entrevista com a apresentadora Oprah para falar sobre o novo álbum.
“30” já gravou seu nome na história antes do lançamento mundial
Antes da sua estreia, “30” se tornou o álbum mais aclamado de Adele pela crítica especializada, com 90 pontos no Metacritic. Além disso, com “25” e “30”, Adele se tornou a primeira e única mulher do século a receber a nota 100 pela revista Rolling Stone duas vezes seguidas. Apesar de debutar acompanhando as expectativas, a preocupação é sobre todas as mudanças que o mercado fonográfico passou nos últimos anos.
O antecessor “25”, que levou o Grammy na categoria de Álbum do Ano em 2017, foi lançado em um contexto muito diferente do atual, o que pode significar um desafio para a Adele e seu hábito de recorde de vendas, sobretudo na força dos streamings. Ainda assim, para o seu quarto projeto, Adele saturou as fábricas de vinis mundiais para o seu novo lançamento. Ela mandou produzir cerca de 500 mil LPs, o que atrapalhou o lançamento de artistas como Ed Sheeran e Taylor Swift. As informações são da revista Variety.
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Experimentações e potência de Adele marcam o álbum “30”
Confessional como seus antecessores, o novo trabalho de Adele é uma grande aposta em todos os sentidos, sobretudo em uma narrativa ainda mais obscura — mas não necessariamente depressiva — em que a artista aborda sua relação com cobranças, seu divórcio, e seu filho, Ângelo, que está presente na faixa “My Little Love“, uma carta confessional e talvez uma das composições mais intimistas do disco. Nela, é possível ouvir trechos de conversas entre ela e seu filho, fruto do seu relacionamento com seu ex-marido, Simon Konecki, em que ela tenta entender qual caminho percorrer e buscar a felicidade para ambos.
As baladas continuam carregadas nas suas músicas, uma marca da sua carreira, mas Adele também fez apostas audaciosas que podem parecer estranhas no primeiro momento, como com a primeira faixa do álbum, “Strangers By Nature”, com um refrão bem repetitivo e um arranjo que remete a um musical Disney, como se a “mágica” estivesse prestes a acontecer. Em “Cry Your Heart Out“, é possível notar uma influência do reggae, e “Can I Get It“, tem muito violão e batidas diferentes do que os fãs estão acostumados e referências, inclusive, a Marvin Gaye, como ela chegou a declarar em entrevista exclusiva para a Vogue. “Oh My God”, com um refrão de fazer mexer o corpo de qualquer um, foi outra aposta de Adele, mas através de uma balada bem pop para seu tom.
Mas foram com as faixas “Woman Like Me” e “All Night Parking” — essa última um interlúdio introduzida com um piano de Erroll Garner e com uma pegada bem sensual — em que é possível notar uma real virada de chave da artista. Na primeira, Adele pega carona na onda lo-fi e brinca sobre homens inseguros que tentam paquerá-la, e a outra é uma declaração de amor no seu primeiro momento. “I Drink Wine”, sétima faixa na tracklist e escrita em conjunto com Greg Kurstin (autor também do sucesso “Hello”), é outra com letras potentes e uma das músicas mais fortes do disco, com uma narrativa de contemplação e redenção sobre as escolhas da vida.
“Hold On“, “To be Loved” e “Love is a Game” introduzem o fechamento de um disco coeso com início, meio e fim bem separados, mas sem paralelismo. As três faixas são, definitivamente, as mais potentes de todo o álbum em todos os requisitos e preparam para um grand finale perfeito para deixar as expectativas no topo sobre o mais esperado lançamento do ano. Individualmente, “30” traz faixas fortes, mas juntas, elas têm poder bélico na voz de Adele.
Apesar da construção impecável, letras emocionantes e um empenho robusto nos arranjos, o verdadeiro brilho de “30” é a proximidade com sua intérprete e sua busca por algo muito comum a nós — quem somos no mundo e o que representamos para aqueles que amamos. Em mais um trabalho irreverente, “30” pode ser sintetizado em apenas uma palavra: confiança. O novo álbum fala sobre a ousadia de recomeçar ciclos, de amar e ser amado, de dar a volta por cima depois de momentos obscuros e de, por fim, abraçar as suas próprias fraquezas.
Nota: 9/10