Há uns anos, só conhecia Ed Sheeran de nome. Para mim, ele era um ruivo britânico que andava chamando atenção no cenário, e que tinha feito aquela parceria com Taylor Swift. Quando o músico veio ao Brasil em 2015, porém, os elogios dos que haviam ido ao show eram inúmeros: o cara tinha uma ótima voz; se bancava sozinho no palco, sem músicos de apoio; e havia conseguido conquistar todo um grupo de pais que tinha ido à performance pelo simples incômodo de que seus filhos não podiam entrar sozinhos na apresentação. Resolvi dar uma chance ao cantor cheio de tatuagens e um carisma tímido, e só consegui concluir que todas as ótimas opiniões sobre ele eram verdadeiras.
Na época, me chamaram atenção faixas como “Thinking Out Loud” e “Don’t”. Foi o suficiente para que aguardasse o próximo álbum e, quando Divide saiu no início deste ano, só pensei “Tenho que ver isso ao vivo!”. Eis que no dia 30 de maio Sheeran visitou Belo Horizonte (MG), para apresentar a “Divide Tour”. O show foi o último dele no Brasil, após ter passado por Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.
Realizado na Esplanada do Mineirão, o show de Ed começou pontualmente às 21h. Eu nunca tinha amado tanto a pontualidade britânica – afinal, era terça-feira, e não dava para ficar esperando animadamente por um artista sabendo que no dia seguinte despertadores tocariam às 7h.
E é preciso reconhecer: Sheeran não decepciona nem no respeito ao público, nem em nada mais.
Para começar, o inglês segura facilmente 1h40 de performance no palco. Ele canta, faz rap, arrisca Beat Box e toca violão e guitarra alternados a cada faixa.
O britânico também apresentou uma setlist poderosa. Sucessos de outros álbuns, singles e novas faixas, que chamam o público a cantar, fizeram parte da lista. E além das canções “oficiais” divulgadas como setlist antes do espetáculo, o cantor incluiu “Feeling Good” e “I See Fire”.
Alternando ainda momentos de conversa com a plateia, ele convidava (e era prontamente atendido) por um enorme grupo de seguidores que faziam coro ou imitava os “Oooohhsss” solicitados. Gritos de “Edinho” e “Ed eu te amo” embalavam os pequenos intervalos entre uma canção e outra – alguns eram ensurdecedores, tanto que, em um certo momento, Sheeran disse, literalmente, “Calma galera, só me deixem cantar a próxima música”.
Listamos então as melhores situações da visita de Ed à BH, e alguns problemas, já que, infelizmente, nada é perfeito.
Pontos altos da noite
- Coros das versões estendidas
“Give Me Love” e “Photograph” são algumas das canções com versões diferentes em estúdio e ao vivo. No palco, as músicas ganham minutos a mais, com solos de violão, trechos repetidos do refrão e um coro crescente. Foram nestas oportunidades que os fãs demonstraram que estavam ali para perder a voz. Nestes mesmos minutos, Sheeran provou uma incrível capacidade de comando do equipamento que grava e reproduz os diversos sons que faz – equipamento este que permite sua performance sozinho.
- A junção de “Don’t” e “New Man”
Na hora de cantar um sucesso de X e um possível hit de ÷, Ed juntou-os. As canções foram acompanhadas a plenos pulmões, e renderam uma interpretação muito boa. No final, juntando os principais versos das duas músicas, o inglês conseguiu animar um público já em surto.
- As camadas de “Bloodstream”
A performance de “Bloodstream” é quase um show a parte. Ed não parece mais um cara sozinho no palco, tocando um violão com talento. Aqui ele se assemelha a uma banda completa, dominando perfeitamente as camadas de violão e vocais que a música requere (é sério, se você nunca assistiu a um ao vivo desta música, veja aqui). É difícil acreditar que ele faz tanto “barulho” sozinho.
- “Sing”, ” Shape Of You” e “Galway Girl”
Na hora das canções mais animadas da setlist, a resposta dos fãs (e acompanhantes) foi automática. Vozes altas encheram a Esplanada, e passos de dança improvisados – ou nem tanto -, com pulos nos respectivos ritmos, eram vistos por todos lados.
- “Hapier”, “Perfect” e “Thinking Out Loud”
Para as mais lentinhas, o clima era de total adoração. Focados completamente nos vocais e nos olhos fechados de Ed, os fãs pareciam pensar “Olhem como ele é fofo!”. Olhares assim perpassavam principalmente pelos mais jovens – o público tinha muitas crianças e adolescentes. E o coro, em destaque em “Thinking Out Loud”, talvez o maior hit do britânico até hoje, não deixou de acontecer em um só momento.
Memoráveis, in a bad way
- Palco baixo
Eu diria que o problema foi da logística da equipe de Sheeran, se não tivesse visto o mesmo inconveniente na apresentação do Maroon 5, no mesmo Mineirão, no ano passado. Eu diria também que é algo nacional, mas o palco do Rock In Rio, convenhamos, é alto o suficiente para que todo o público do festival assista aos shows, não importa quão distante esteja. O que me resta é pensar, então, que as produtoras têm um sério problema de visão – literalmente, do tipo que não pensa em como os 18 mil fãs que lotam a Esplanada irão ver o artista.
- Os telões
Outro problema foi o telão de Sheeran. Não, ele não é nada mau. Durante toda a performance, ele traz imagens distorcidas, em câmera lenta, sobrepostas por corações, luzes ou qualquer outro efeito. A questão está em quando ele resolve apresentar somente imagens aleatórias.
Por pelo menos três músicas foi assim: Ed cantou, e o que vimos no painel foram vídeos pré-gravados. Com certeza, aqueles que estavam mais atrás não ficaram satisfeitos: a voz do ruivo era ouvida perfeitamente, mas não era possível ver sua atuação.
A solução seria um acréscimo. Dois telões, um de cada lado do palco, apenas com imagens do live, teriam sido suficientes (espaço e estrutura haviam).
Finalizando sua performance com uma camisa e bandeira do Brasil, Sheeran deu adeus a uma bem sucedida tour pelo país. Agora, ele segue para outros shows na América Latina, passando por Colômbia, Porto Rico, Costa Rica e México.
Confira a tracklist e alguns vídeos da noite em BH: