Ainda como meros prodígios do rap no novo milênio, Kanye West e Jay-Z se cruzaram pela primeira vez no início dos anos 2000 a fim de trabalhar em suas próprias obras, ajudando-se desde a gravação até a produção de suas canções. Nos anos seguintes, a conexão entre Atlanta e Nova Iorque se repetiria por inúmeras vezes, enquanto ambos construíam seus legados como dois dos mais importantes nomes da música contemporânea e deixavam sua marca por diferentes gerações.
Uma década depois, a dupla se reencontraria com carreiras consolidadas, ambições ainda maiores e em patamares inéditos para gravarem seu primeiro álbum de estúdio juntos, “Watch The Throne” — uma parceria histórica que abalou o mundo como um retrato dos principais nomes do rap nos anos 2000 em seu auge criativo.
O disco até hoje se mantém como uma referência para a música internacional, tendo acumulado números absurdos ao longo dos dez anos desde o seu lançamento, completados no próximo dia 8 de agosto. Dialogando sobre seus luxos e suas trajetórias, dois dos maiores egos da indústria se reuniram para gravarem um registro sonoro de seu próprio sucesso.
Uma parceria histórica entre Kanye West e Jay-Z
“Watch The Throne” foi lançado apenas nove meses após a chegada de “My Beautiful Dark Twisted Fantasy”, considerado por muitos fãs a obra-prima musical de Kanye West. O disco ficou conhecido como um divisor de águas na carreira do artista, destacando seus talentos como produtor e como rapper em uma sonoridade experimental com forte influência da música eletrônica, transformando-se em um clássico instantâneo pelo restante da década.
O perfil foi, em boa parte, reaproveitado nas canções com Jay-Z produzidas por Kanye, definindo uma direção que boa parte das futuras gerações seguiriam e desenvolveriam melhor. Singles como “Ni**as In Paris” e “H*A*M”, por exemplo, reforçam a identidade do disco, que resume os estilos que ambos adotavam em seus trabalhos na época — inclusive juntos, como em um remix de “Power” e em “Monster”, duas faixas assinadas por West.
A nobreza que o disco incorpora em suas músicas não se faz presente somente nas batidas pesadas e nos instrumentais frenéticos, mas também nos coros e no clima que várias delas carregam consigo. Há diversos momentos, como em “Otis” ou “Made In America”, que os artistas versam sobre ritmos conduzidos em órgãos e pianos, construindo uma ambientação densa e monumental como a trilha sonora em que Kanye e Jay cantam sobre suas jornadas.
Para reforçar o peso das faixas, a dupla performa ao lado de alguns dos nomes da elite da indústria fonográfica, trazendo colaborações de grande impacto para a tracklist: Frank Ocean inaugura o álbum questionando “o que é um rei para um deus”; já em “Lift Off”, ninguém mais, ninguém menos que Beyoncé canta sobre seu sucesso meteórico.
Muitos consideram “Watch The Throne” como uma sequência espiritual de “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” por herdar não apenas a sonoridade, mas principalmente a atmosfera grandiosa na qual Kanye tecia seus versos em seu disco anterior, algo que voltaria a explorar em seu sucessor, “Yeezus”, em 2013.
Da mesma forma, muitos podem enxergar o álbum como um antecessor de “Magna Carta… Holy Grail”, lançado por Jay-Z também em 2013 como uma maneira de explorar novas possibilidades em sua música dentro de um conceito mitológico e igualmente ambicioso, levando as histórias narradas pelo nova-iorquino a outros patamares.
“Watch The Throne”, entretanto, é um ponto fora da curva na discografia de ambos os rappers: trata-se do manifesto de dois astros que se reuniram no topo absoluto de suas carreiras para refletir, em meio à fama e ao sucesso que seus nomes alcançaram, sobre sua própria grandiosidade.
Os rumos após “Watch The Throne”
A relação entre Kanye West e Jay-Z passou por altos e baixos nos últimos dez anos. Antigamente considerados “irmãos”, ambos passaram por desentendimentos públicos em 2016, quando Kanye reclamou em um show sobre a falta de preocupação de Jay-Z sobre um assalto que Kim Kardashian sofreu em Paris. West seguiu fazendo declarações a respeito da família de Jay com Beyoncé, o que afetou a proximidade entre os dois.
Nos últimos anos, porém, a polêmica entre os artistas pareceu ter esfriado, apesar da falta de notícias ou relatos sobre a dupla até mês passado. No dia 23 de julho, Kanye West promoveu um evento para os seus fãs no Mercedes-Benz Stadium, estádio em Atlanta, para a audição de seu novo álbum de estúdio, “Donda”, que deve ser lançado nos próximos dias. Ao fim, o rapper apresentou uma música com a participação do próprio Jay-Z, levando a cena ao delírio com a primeira parceria entre ambos em uma década.
Em seus versos, posteriormente republicados pelo seu próprio serviço de streaming, o TIDAL, Jay-Z especula sobre o retorno do “The Throne”, como ficou conhecida a dupla. “Esse talvez seja o retorno do The Throne, Hova e Yeezus como Moisés e Jesus”, canta o nova-iorquino em seu trecho, suficiente para que muitos sonhassem com uma sequência do “Watch The Throne”.
Dez anos desde o seu lançamento, o disco continua sendo uma referência absoluta no rap e a combinação entre Kanye West e Jay-Z, para muitos, insuperável — e quem sabe, pronta para ser reprisada.