Uma das maiores revelações recentes da música brasileira, DAY lançou nesta quinta-feira (29), o seu álbum de estreia ‘Bem-Vindo Ao Clube’, que chega contando uma história de incertezas e frustrações da geração.
Ao longo das incríveis 12 faixas do disco, DAY deixa evidente a influência do pop rock e punk rock, que vivem agora o seu momento de revival, mas já estão presentes nas referências da cantora desde o início de sua carreira. O toque pessoal e a abordagem honesta sobre as incertezas e frustrações da vida adulta geram uma fácil identificação para quem escuta.
Entre as músicas, um dos grandes destaques é ‘Isso Não É Amor’, parceria com Lucas Silveira, da banda Fresno, e o single ‘Clube dos Sonhos Frustrados’, composição de DAY em parceria com Tiê Castro e Los Brasileiros. A faixa chegou acompanhada de um clipe super produzido, com direção de Malu Alves e produção executiva de Vanessa Guedes.
Em conversa com o Track durante essa semana, DAY contou mais detalhes sobre o processo de produção de seu primeiro álbum e as expectativas para as reações dos fãs! Confira:
Leia a entrevista com a DAY na íntegra:
TRACKLIST: “Bem-Vindo Ao Clube” é o seu primeiro álbum de estúdio! O que ele fala sobre a DAY e sua trajetória até esse momento?
DAY: Caramba, a primeira pergunta já intensa! Eu passei a enxergar esse disco como o meu propósito de vida. Foi muito perrengue fazer ele acontecer, desde um rolê emocional, até a parada prática. É muito difícil fazer um álbum, não sei se as pessoas têm noção disso, especialmente um álbum que é tão pessoal. Eu decidi por livre e espontânea vontade contar um pouco da minha história, exatamente por ser a história de qualquer outra pessoa, que está vivendo essa pandemia como qualquer outra pessoa. Então, sinto que é meu propósito de vida porque eu sinto que vai se conectar com bastante gente, já que é um disco acessível, sabe? Artisticamente é o meu projeto mais ousado até agora eu acho, e até corajoso, porque há um tempo atrás quando eu decidi incluir um pouco dessas referência do pop rock e do pop punk, de modo geral nas minhas músicas, eu vi muita coisa mudar na minha carreira, só que ao mesmo tempo eu comecei a ficar muito orgulhosa do que eu estava fazendo e me sentindo muito em casa. Então, para mim, artisticamente, eu não gosto de falar ‘ah encontrei o meu som!’, porque tudo que fiz até agora me representa. Eu só finalmente aceitei que eu posso ser o que eu quiser ser! Esse álbum é o que eu quero fazer hoje, é a Day agora e amanhã eu já posso ser outra coisa, e eu finalmente aceitei isso. Que eu posso mudar!
TRACK: Você mesma disse que esse disco é muito pessoal! Como foi o processo de composição de ‘Bem-Vindo ao Clube’?
Eu percebi na real que em todos os meus trabalhos eu sempre falo a mesma coisa, é sempre muito pessoal. Mas, nesse foi um pouco diferente, porque eu queria contar uma história, queria que tivesse começo, meio e fim. Eu já sei os nomes e a ordem das músicas tem praticamente um ano e essa ordem nunca mudou. Eu já sabia o que eu queria falar e essa história partiu de mim, eu só queria que fizesse sentido. Claro que dei minhas exageradas e tudo mais, pra ficar emocionante do jeito que a gente gosta (risos)! Então foi um pouquinho diferente só por conta dessa história que eu queria contar, mas como ela já existia, foi só uma coisa de ir encaixando a narrativa, encaixar uma palavra, de às vezes conectar uma frase a outra música, teve todo esse cuidado também, pra realmente fazer sentido. Foi diferente, mas ao mesmo tempo foi uma coisa mais certeira, sabe? Pra mim, o mais louco foi produzir elas no estúdio e depois ver elas prontas, que foi a parte mais emocionante. Foi lindo e me tirou vários momentos de emoção!
TRACK: ‘Clube dos Sonhos Frustrados’ vai ser a próxima música lançada como single, com clipe e tudo! Por que ela foi escolhida para ser single?
Cara, eu acho que por mais irônico que pareça, ela é a música mais alto astral do disco, ouvindo você provavelmente reparou isso! Ela é divertida e meio que um hino. ‘Clube dos Sonhos Frustrados’ define muito bem o disco, ela não é uma música que canto pra outra pessoa romanticamente, é uma música em que eu falo para um grupo de pessoas, então é meio que um recado chamando as pessoas tipo ‘a gente não tá sozinho! Vamos nos abraçar e dar as mãos porque tá todo mundo nessa, tá todo mundo assim e vamos nessa’! Acho que era a melhor música para chamar esse disco e ela foi o motivo do álbum ter esse nome. Ela foi uma das primeiras a serem feitas e quando ela foi feita o conceito inteiro do disco já tava feito também. Foi bem no início da pandemia, então não tinha como ser outra música, já está decidido que ela seria o single a vir com o álbum há muito tempo, desde sempre, esse plano nunca mudou.
TRACK: Falando um pouco do visual do clipe, a gente vê diversas referências ao pop rock, punk rock e emo dos anos 2000, que são ritmos que já tiveram certa influência em alguns de seus trabalhos passados. Você teve uma contribuição criativa pra construção desse visual? Como foi o processo?
O que geralmente acontece nos clipes é que eu tenho toda uma ideia na minha cabeça, especialmente para os projetos desse álbum, por ser uma história e por eu ser geminiana também, eu gosto de explorar diversos cenários e estéticas diferentes pra testar mesmo. Para esse clipe eu pensei ‘cara, preciso de um clipe diurno’, eu precisava de um clipe que acontecesse de dia, porque parece que todos os meus clipes acontecem de noite em uma densidade e tensão do caramba (risos) e eu amo isso, inclusive é uma coisa que eu pedia! Mas aí eu pensei que precisava de um clipe um pouco mais leve e que realmente trouxesse essa mensagem de que o mundo real não é suficiente pra mim. Eu acabo encontrando uma brechinha, e nessa brechinha eu acabo encontrando meu sonho, isso me dá coragem e eu acabo levando todo mundo junto comigo depois, a gente queria passar essa noção. Então, passamos isso para a Malu e o Pedro, que são os roteiristas, e eles brisaram nessa ideia do colégio e eu já fiquei ‘pelo amor de Deus, eu ia me amarrar em ter um colégio’! É aquela coisa que a gente cresce vendo e ouvindo. O clipe de ‘Misery Business‘ se passa em um colégio, vários do Blink-182 também e o próprio filme do Machine Gun Kelly se passa em um colégio. Essa coisa do colégio é desde RBD, Elite, Gossip Girl, Atypical, todos passam nesse ambiente e estão em alta também. Então quando trouxeram essa ideia eu achei irado mas pensei ‘cara, será que a gente vai conseguir?’. Eu sempre fui assim, acho que pelo disco você percebeu. Antes de dar certo, eu sempre fico um pouco em dúvida, então eu fiquei assim por um tempo, mas eu sabia que se desse certo ia ser muito bom. Aí acabou que uns dias antes de rodar o clipe a gente bateu o martelo e conseguimos o colégio e eu fiquei sem acreditar! Quando eu cheguei lá eu até fui surpreendida, porque por ter participado muito da produção de outros clipes e me esgotado demais, esse eu deixei a galera da equipe ser mais livre com a questão da estética. Claro que contribuí com vários pitacos, mas deixei eles bem livres, principalmente por confiar muito e me identificar com o gosto da Malu. Eu acho que a gente conseguiu chegar em um resultado muito legal! É o meu clipe mais pop, por mais louco que pareça, acho que não dá pra discordar. Tem troca de look, cabelo, cenários diferentes e todo aquele rolê. Sei lá, é um sonho realizado!
TRACK: Além do visual, o pop rock e pop punk também estão presentes muito forte na sonoridade do álbum. Essas referências estão voltando com tudo, principalmente com os recentes lançamentos da Willow e Olivia Rodrigo. Você citou agora algumas referências como o Paramore e Blink. Quais foram as suas maiores influências durante o processo de gravação do disco?
Acho que a que fica mais nítida quando você vai ouvindo o disco é a Avril Lavigne, talvez até nos backing vocals. Eu tava ouvindo e até pensei ‘nossa eu bebi muito dessa fonte mesmo’, porque realmente a primeira pessoa que eu ouvi e tive vontade de fazer música foi a Avril. Tem gente que nem considera ela pop punk, mas eu sempre busquei referências mulheres, então ela foi a primeira e a que realmente mudou tudo pra mim. Por isso, é muito cíclico e representativo estar fazendo um som e lançando um single como ‘Clube dos Sonhos Frustrados’ sabendo que a primeira música que eu ouvi e fiquei com vontade de fazer música foi ‘Sk8er Boi‘! É muito próximo saber que está tão vivo e que ela vai lançar um disco. A Avril também está presente no disco da Willow, e é muito importante ter o apoio dessas lendas do pop rock e do emocore. Aqui no Brasil também, é muito importante para mim ter o Lucas no disco, é um carimbo de validação muito importante. Ter o apoio do Di [Ferrero], saber que isso tudo está realmente acontecendo e que estou tendo a oportunidade de também mostrar isso para o mundo na minha voz. Um gênero que eu sempre ouvi e sempre me motivou tanto, ter músicas na minha voz com essa roupagem é a realização de um sonho. Eu confesso que quando a gente começou a introduzir isso um ano e meio atrás, a gente estava com muito medo, sem saber o que ia acontecer. E agora ver o que está acontecendo, essa movimentação toda me deixa esperançosa. Mas ao mesmo tempo com o pé no chão, porque expectativa e frustração andam lado a lado (risos)! Mas eu tô bem otimista, e muito feliz com esse momento de revival do pop rock, acho que é um momento muito bom pra mim!
TRACK: Casou super esse momento com o disco que vem sendo produzido já há um tempo né? Inclusive, você citou o Lucas Silveira e o álbum conta com uma parceria incrível com ele em ‘Isso Não É Amor’! Como surgiu essa colaboração?
Eu sempre fui muito fã do Lucas e, obviamente, da banda Fresno. Que bizarro! É muito louco acreditar que isso tá acontecendo! Às vezes quando eu paro pra pensar eu fico ‘Clube dos Sonhos Frustrados uma ova, né?’ (risos). Eu conheci o Lucas em um festival de música pop, ele estava como DJ e eu como uma das atrações. Era bem pop mesmo, tinha Lexa, Rebecca, Luísa Sonza, PK e eu lá cantando ‘Sk8er Boi‘ depois de todo mundo rebolar bastante a raba! E eu acho que isso deve ter chamado a atenção do Lucas de alguma forma e depois ele falou comigo, trocamos uma ideia, aquele papo de artista que se encontra no backstage mesmo, tipo ‘a gente podia fazer um som depois, né?’. Eu já ouvi isso de tanto artista que eu fico pensando que podia muito ser verdade! Mas a gente acabou mantendo o contato e em um determinado momento, eu não lembro se já tinha começado a produção efetiva do meu disco ou não, mas no início da pandemia a gente começou a trocar ideia. Fizemos uma primeira tentativa muito infeliz, e aí na segunda tentativa, que foi ‘Isso Não É Amor’, ele mandou logo um trapzão que eu não tava esperando! Eu acho que isso que é o legal da música, essa mistura. Especialmente nessa música com o Lucas, acho que é a música mais emo, e ao mesmo tempo a mais fresh do disco. Ela é muito linda, é uma das mais incríveis eu acho, e pra mim é uma honra ter ele nesse disco. A forma como aconteceu, tão organicamente e de forma fluida torna tudo muito melhor!
TRACK: E sobre essas conversas de backstage que você disse que sempre rolam, tem alguém que você tem um sonho muito grande de fazer um feat?
Nossa eu tenho uma lista gigante! Mas acho que no momento, o sonho segue sendo a Pitty aqui no Brasil, ia ser uma realização muito grande. Eu ia adorar fazer feat com a galera do trap também, acho que ia ficar muito legal um som nessa atmosfera com um cara tipo Matuê ou o próprio Xamã que tem uma veia ali no rock. Ele tem um álbum só de rock, o cara é malucão! O Matuê também era bem apegado ao Chorão e viveu essa época do rock. Acho que ia ser bem legal ter um som assim. Além dos internacionais, né? Travis, Yungblud, Machine Gun Kelly e toda essa galera que ia ser bem da hora. Com a Willow ia ser foda também! Mas aí a gente sonha…
TRACK: Joga pro universo!
Isso! Jogo pro universo!
TRACK: Olhando hoje pra tracklist do álbum, tem alguma música que você acha que te representa mais?
Nossa… Eu acho que ‘Clube dos Sonhos Frustrados’! Eu descrevi ali realmente o que se passa pela minha cabeça de forma nua e crua. ‘A Maldição da Expectativa’, que é o epílogo, também é bem honesta, mas foi escrita em um momento bem ruim. Hoje eu já enxergo de uma forma mais otimista, eu tô mais naquela vibe ‘nunca é tarde, carpe diem, segue o baile’, mas no momento que eu escrevi essa música eu já pensei que era a mais honesta do disco. Mesmo assim, acho que a que mais me representa de forma geral é ‘Clube dos Sonhos Frustrados’.
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TRACK: Você fala abertamente sobre relacionamentos com mulher nas suas músicas, nesse disco em específico, na faixa ‘Efeito Colateral’. Como foi se abrir publicamente sobre isso e poder ser uma fonte de representatividade para tantas meninas?
Eu fico muito feliz de poder ser essa fonte de representatividade. Confesso que fui pega de surpresa, porque pra mim sempre foi muito natural falar sobre a minha sexualidade, igual qualquer outra pessoa que fala sobre seus relacionamentos. Então foi natural, mas eu levei um baque quando percebi que era um big deal. Eu tinha acabado de entrar no ramo da música e logo quando apareci no The Voice pela primeira vez, a chamada foi com a minha namorada na época, então eu já apareci assim. Mas foi quando eu lancei minha primeira música que levei esse susto, tipo, é tão chocante assim falar ‘mina’ na música sendo uma menina? E aí, a longo prazo, eu fui vendo que isso realmente faz diferença na indústria, por mais que seja uma coisa bem camuflada, faz muita diferença, porque talvez a minha carreira tivesse ido para um lugar bem diferente se eu tivesse feito a misteriosa. Mas, pra mim não tem problema nenhum, isso é uma realidade da minha vida. Quando vi o peso que isso tem para as pessoas e o quanto isso muda a vida das pessoas eu pensei ‘caramba, isso é realmente bem representativo e grande’, então eu aceitei isso como parte da minha missão de vida também, poder fazer com que essas pessoas que se parecem comigo se sintam aceitas. A minha mensagem é para qualquer pessoa se inspirar e se expressar da forma mais autêntica possível, seja na sua sexualidade, profissão ou qualquer âmbito da sua vida. Mas em questão de sexualidade, sempre foi muito natural e sempre vai ser. Eu costumo brincar que as pessoas que lutem mesmo. A gente tá aqui, a gente existe e as pessoas que lutem, porque não vamos sair.
TRACK: Você tem uma fan base muito apaixonada. Enquanto a gente conversa aqui, eles estão na expectativa pra ouvir seu primeiro álbum! Como você acha que eles vão reagir às músicas e como você espera que eles recebam esse trabalho nesse momento de tantas incertezas?
Eu confesso que tô aqui na expectativa só imaginando o que eles vão achar, meu Deus do céu! Eu trabalhei muito pra que essa história fizesse sentido não só pra mim, mas para as pessoas. Eu quero muito que eles se sintam muito, muito, muito abraçados e representados com esse disco, porque eu também fiz pra eles. Fiz pra que o máximo de pessoas possam se conectar, então estou muito na expectativa de que eles gostem. Quero que tenham uma experiência real e que escutem na ordem! Pelo amor de Deus, é pra escutar na ordem pra ter a experiência completa prestando atenção em cada letrinha! Talvez à primeira instância não dê pra prestar tanta atenção porque é muita emoção (risos). Eu quero muito que gostem. Não sei se vão gostar, mas eu quero muito que gostem!
TRACK: Eu tenho certeza que eles vão amar!
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