Doja Cat pode ser lembrada por diversos fatos, desde o estrondoso sucesso de ‘Say So’ até as polêmicas envolvendo seu passado. Uma coisa é inegável: Doja entende, e muito, do mercado musical. E convenhamos, não é uma nota amarela no Metacritic que define o sucesso de um disco. A diferença da qualidade técnica e lírica é completamente diferente do potencial de sucesso de público. E em “Planet Her”, Doja Cat decide que não é pela crítica, nunca foi sobre isso.
Doja Cat lançou nesta sexta-feira (25/06) seu terceiro disco de estúdio. O álbum sucede “Hot Pink” (2019) que obteve um sucesso estrondoso e foi o grande responsável por catapultar sua carreira. “Hot Pink” inclusive é um dos discos que mais rendeu singles bem sucedidos nos últimos anos. Se analisarmos friamente, um disco de 2019 conseguiu emplacar hits em 2021, dois anos após seu lançamento, e de maneira orgânica.
A inteligência de Doja Cat se encaixa exatamente nesse quesito, por enxergar e abraçar as oportunidades como uma aposta. Foi a primeira artista do mainstream a incluir totalmente uma coreografia do TikTok e ter um grande destaque por esse ato. A partir disso, Doja começou a trabalhar as músicas do seu disco também na plataforma, onde, vez ou outra, posta um vídeo engraçado sobre algo que está em alta.
Fazer parte do TikTok e não apenas tentar usar a plataforma como catapulta para viralizar suas músicas foi o ponto chave do sucesso do ‘Hot Pink’. Em 2021 ‘Streets’ foi a música que viralizou por lá e ganhou clipe pela artista.
Em “Planet Her” é possível visualizar toda essa expertise e vivência na internet. Exatamente por usar a internet, Doja entende o que funciona e o que não, e nos entrega um disco de qualidade técnica e lírica questionável, mas cheio de potenciais hits e de músicas que você se verá cantando de repente.
Doja Cat mostra sua versatilidade em “Planet Her”
Se o novo disco não foi feito para agradar a crítica especializada, claramente funcionou para mostrar a amplitude e diversidade que Doja consegue atingir com suas músicas. Do R&B clássico ao afrobeat, ela consegue transitar entre diversos gêneros com fluidez e naturalidade. Chega a ser interessante observar a capacidade de se transformar, desde as apresentações do “Hot Pink” onde ela sempre apresentava uma nova versão de suas músicas, aqui ela só prova que consegue fazer de tudo um pouco, sem perder a qualidade.
Em um planeta existem diversas variáveis, desde climáticas a geográficas, e nomear o disco de “Planet Her” foi interessante na hora de acompanhar essa amplitude de gêneros dentre as 14 canções que compõem o disco.
Produção do disco
Majoritariamente produzido por Y2K, Yeti Beats, Rogét Chayahed e tizhimself, Doja consegue explorar os gêneros sem ter que escalar dezenas e dezenas de produtores. “Planet Her” soa como um disco que não contém o que chamamos de “Filler”, que são aquelas músicas sem apelo nenhum, feitas apenas para completar o álbum
As mais fracas do disco foram as produções de Dr. Luke, são elas ‘Need To Know’ e ‘You Right (feat. The Weeknd)’, ambas parecem não conter a mesma qualidade de ambientação do resto do disco. E quando falo em ambientação, o exemplo mais claro da excelência no quesito desse disco é ‘Naked’. Ao escutar, é completamente perceptível as diversas camadas que compõem a música, desde os “La La Las” de Doja ao fundo, como os que parecem efeitos sonoros de transição. Uma verdadeira viagem é criada aqui, que aparentemente Dr. Luke, anteriormente acusado de assédio sexual por Kesha, não conseguiu acompanhar.
Destaques de “Planet Her”
Os grandes destaques do disco são ‘Woman’ e ‘Naked’. A primeira segue uma linha do afrobeat, que para quem não conhece é um gênero africano que se popularizou em 1970 e mistura elementos do iorubá, jazz, funk e ritmos. Uma ótima linha de baixo abre a música que já é complementado pelos versos chicletes na voz de Doja. As chances de você abrir o TikTok e se ver inundado de vídeos com o trecho “Woman, Woman, Woman” nos próximos meses é alta.
Já ‘Naked’, produzida por Kurtis McKenzie e Al Shux, segue com elementos do afrobeat, porém em segundo plano. Toda a construção da música é feita com a batida abafada em segundo plano, até chegar no refrão, onde Doja apresenta uma música extremamente cativante e chiclete. Algumas vezes ao ouvir uma música podemos pensar: “Espero que o refrão não seja ruim”, por conta da construção ter sido tão boa, e em ‘Naked’ – e na maioria das músicas do “Planet Her” – essa preocupação não se torna realidade. A qualidade é incontestável.
Além desses destaques principais, Doja fez muito bem com suas parcerias. Não só as escolheu bem, como encaixou em produções que todos ficaram confortáveis. ‘I Don’t Do Drugs’, parceria com Ariana Grande, parece como se tivesse sido retirada de algum dos discos da própria Ariana. Apesar de não ser o ponto alto do disco, a parceria funcionou muito bem e tem potencial para ser trabalhada como Single.
As vantagens de se fazer um álbum com tamanha diversidade é que Doja não precisa se sentir pressionada a trabalhar singles específicos. Como já fez anteriormente, as músicas têm potencial para desenvolvimento próprio, cada uma em seu tempo. Não me surpreenderia se demorasse dois anos para recebermos um clipe para “Woman”, por exemplo, por conta de ter viralizado em alguma rede social em meados de 2023.
O que o futuro guarda para Doja Cat
Doja se consolidou como um grande nome, independente se do pop ou do rap. Sua vivência na internet, embora nem todas as vezes tenham sido positivas, a ajuda a entender o que as pessoas querem consumir e a como divulgar com efetividade seu trabalho. E “Planet Her” é sobre sua capacidade de se adaptar aos gêneros com fluidez e leveza.
Se o “Hot Pink” já era ótimo, agora recebeu um irmão mais novo tão bom quanto. O futuro? Nos resta aguardar e assistir Doja Cat brincar com as produções do “Planet Her” e sua conta no TikTok.
Nota: 8.2