Marcelo Monteiro
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A banda Foo Fighters fez história, no último domingo (20), ao realizar o primeiro grande show após as casas de shows permanecerem fechadas por conta da pandemia. Cerca de 20 mil pessoas foram ao icônico Madison Square Garden. Todas já vacinadas – incluindo com a 2ª dose, a depender da vacina – contra a Covid-19. Um pouco antes disso, na quinta-feira, Coldplay foi a grande atração da retomada das apresentações ao vivo no TODAY Show, o principal programa matinal da TV estadunidense, após grande campanha de vacinação.
Nos Estados Unidos, a vida começou a voltar ao normal quando, em maio, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendou que, quem já está completamente imunizado, pode circular sem máscaras em diversos locais. O fim da grande maioria das medidas de restrição foi celebrado com fogos de artifício em Nova York.
Tudo isso só foi possível com um robusto programa de vacinação em massa. Após assumir a presidência sem um plano de imunização organizado por Donald Trump, o presidente Joe Biden assumiu um compromisso ousado: vacinar 100 milhões de pessoas em 100 dias. E conseguiu – com 41 dias de antecedência. Enquanto isso, o Brasil vendo péssimos exemplos de conduta ética e sanitária, dos remédios com ineficácia comprovada ao desrespeito às medidas de controle e às famílias enlutadas das mais de meio milhão de vítimas da doença.
As previsões de shows e festivais após a vacinação
Frente à realidade brasileira, o setor de eventos vem apenas acumulando adiamento atrás de adiamento. Com um cenário ainda incerto, sequer cogita-se uma retomada ainda em 2021. Enquanto a organização do Lollapalooza esperava poder realizar o festival em setembro, precisou ser adiado pela terceira vez e, agora, acontecerá em março de 2022. O caso do Rock In Rio talvez seja o mais emblemático. Com a edição de 2021 prevista praticamente há dez anos, por mais que o público torcesse para que, agora, já estivéssemos em uma situação bem diferente, não houve outra opção senão adiá-lo para setembro de 2022.
Apesar dos adiamentos, o cenário pode parecer minimamente tranquilo no que diz respeito aos artistas. Mas existe um outro lado da história completamente desfavorecido. Desde março do ano passado, técnicos, auxiliares, toda um cadeia de pessoas que trabalham nos bastidores ou indiretamente estão sem trabalho e sem renda.
Para que os shows e festivais retomem, os artistas possam voltar aos palcos, como tanto sonham, e toda uma cadeira de profissionais volte a trabalhar, não há caminho diferente senão a vacinação em massa. Ao mesmo tempo, parece que boa parte da indústria musical ainda não se deu conta do fato e segue em uma realidade paralela em que, basta uma live patrocinada aqui, e um single novo ali, que o sustento está garantido.
Artistas, empresários, produtores: posicionem-se
Salvo algumas exceções, é difícil ver artistas se posicionando publicamente, cientes do seu papel social e do seu direito como cidadãos. Gravadoras e produtoras de eventos, então, sequer tocam no assunto. Por outro lado, sobram maus exemplos de figuras públicas que insistem em promover aglomerações, isso quando não estão reivindicando seu direito de se manterem nulas – como se isso fosse possível.
Aos que insistem em se manter nulos, que assumam essa condição integralmente e anulem a si mesmos da sociedade, pois alguém que não quer acrescentar à discussão será incompetente em acrescentar à cultura. O espetáculo, o palco, são lugares para pessoas com expressão genuína, e isso não é para os neutros.
Já passou da hora de artistas, empresários, produtores e trabalhadores de toda a cadeia produtiva da cultura se juntarem em uma mobilização pela vacinação em massa. Em um provável cenário em que, para poder assistir a um show, será necessário comprovar a vacinação, os neutros vão escolher dar o exemplo ou se beneficiarão às custas dos que, correndo risco de arruinarem suas carreiras, colocaram a cara a tapa?