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Madame X: o comeback experimental e multicultural de Madonna

Madonna nunca foi apenas uma cantora pop. Ela revolucionou e foi um das precursoras do gênero que conhecemos hoje. Desde seus clipes, looks, formas de realizar turnês e as mensagens por trás de suas letras. Basicamente sem Madonna o pop não teria o formato que conhecemos. Muito provavelmente as artistas femininas de hoje, que são donas de suas carreiras, não existiriam.

Como fã de música pop, sempre conheci Madonna e ouvia os seus principais hits. No entanto, devo admitir que até pouco tempo atrás, nunca tinha parado para sentar e ouvir todos os seus álbuns completos. Depois de tardiamente conhecer de mais perto o trabalho da rainha do pop, fui me encantando por suas letras, história de vida e todo o significado da cantora, tanto para a música, como para a comunidade LGBTQ+.

No entanto, em seus últimos discos lançados, como MDNA (2012) e Rebel Heart (2015), Madonna não ganhou o destaque merecido dentro da mídia e nas paradas musicais. Ela foi amplamente criticada e não teve a melhor receptividade, tanto pela mídia como pelo seus fãs. Após alguns anos sem lançar material novo, só agora em 2019 que seu comeback finalmente se concretizou. Nesse últimos anos, a cantora estava vivendo com seus cinco filhos em Portugal e se dedicando bastante à essa vida de mãe, se afastando um pouco dos holofotes.

Tudo isso é importante para compreender as influências e criação do seu 14º álbum, ‘Madame X’, lançado nessa sexta-feira (14). O disco consegue passar por várias influências de gêneros musicais multiculturais como: Reggaeaton, Fardo, Batuque, Funk, Dance, Trap, e tudo isso de forma experimental e fora do convencional. O álbum conta com parcerias de Anitta, Quavo, Swae Lee e Maluma. Vem conferir os principais destaques:

MEDELLÍN

O disco teve como seu primeiro single “Medellín”, com a participação inusitada do colombiano Maluma. Foi uma grande surpresa, por trazer essa vibe latina e com fortes influências do reggaeton. Porém, é claro que Madonna nunca vai para o caminho convencional. Mesmo com a música latina em alta, ela optou por uma produção alternativa e diferente do esperado. É uma música suave e sexy, onde predominante temos os vocais de Maluma, e que com o tempo se torna ainda mais prazerosa. De início realmente não tinha me pegado, mas ouvindo mais vezes se tornou algo mais agradável e rica de detalhes.

DARK BALLET

A música é uma das mais experimentais do disco. Aqui, a rainha do pop mistura uma espécie de balada de piano, com o sample de “Dance of the Reed Flutesuma”, do consagrado artista da música clássica Tchaikovsky. Tudo isso é produzido com elementos modernos e eletrônicos, com forte uso de vocoder e mixagens. É como se você ouvisse duas músicas em uma. Algo fresh e estranho mas que funciona de forma vigorosa. Na letra, ela aborda muito sobre a sociedade atual e os julgamentos e imposições que as mulheres sofrem na sociedade. Isso fica bem claro com suas analogias de ser “queimada na fogueira”, o que também é um ótimo complemento no videoclipe da música. É uma faixa incomparável e única.

GOD CONTROL

Outro destaque triunfal é ‘God Control’. Fui pego de surpresa, porque o inicio da música passa a impressão de que seria mais uma balada no piano, até chegar no segundo verso e mudar completamente de direção. A música ganha violinos e embala no ritmo daquilo que Madonna sabe muito bem fazer: Dance Music. Essa é uma das letras mais políticas do disco. Ela faz um trocadilho com o termo “Gun Control” (‘Controle de Armas’), e por isso retrata de forma crítica o uso de armas e a violência que o mundo doentio vive. Aqui eu senti como se estivesse ouvindo “American Life”, considerado um de seus álbuns mais político e controversos da carreira. O tempo todo Madonna brinca com a estrutura da música e faz melodias impecáveis. Talvez seja um dos grandes destaques, não só do disco, mas também de suas últimas músicas lançadas.

KILLERS WHO ARE PARTYING

Aqui a produção é baseada no famoso gênero musical português, o Fado. Guiada pela “guitarra portuguesa”, a música ganha essa sonoridade mais dramática que o gênero se propõe. Ao chegar na metade da faixa, ela se transforma, com a adição de batidas eletrônicas e trap. O grande mérito da música está na composição. Madonna fala sobre as minorias sociais, só que se botando no lugar delas. Sendo assim, uma forma de expressar compaixão ao próximo. Mais uma música que a rainha do pop canta versos em português, algo que se repete constantemente durante o disco.

FAZ GOSTOSO (FEAT. ANITTA)

Com versos rápidos e em ritmo de Funk Carioca, a cantora consegue reinventar muito bem o hit português, “Faz Gostoso”. A música original é de Blaya, que se tornou uma grande sensação em Portugal no ano passado.

Na nova versão, Madonna divide os versos com a brasileira Anitta. A música cresce ao ter uma produção mais rica em detalhes, o que deixa tudo mais energético e poderoso, em especial nas ultimas partes da faixa. Foi uma ótima adaptação e tem um refrão delicioso, que vai ser um hit na certa, pelo menos aqui pelo Brasil. No entanto, a participação de Anitta não teve grande destaque na música.

CONCLUSÃO

O álbum não é perfeito, tem algumas músicas descartáveis, mas no final ‘Madame X’ tem um saldo positivo. O disco consegue explorar vários gêneros musicais de forma não convencional. Cada música tem algo experimental e surpreendente, o que transforma em um de seus materiais mais fortes já lançados nesses últimos anos. O álbum é político, surpreendente, experimental, e tudo que uma artistas com mais de 30 anos de carreira precisava para se reinventar e ainda se manter atual. Com certeza é um marco em sua longa carreira

NOTA: 8.5/10

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