Há aproximadamente um ano, Pitty anunciava o retorno de sua banda após um longo período envolvida em um projeto paralelo com o guitarrista Martin Mendonça, o Agridoce. Seu novo álbum “Setevidas” foi lançado em junho de 2014 contendo 10 faixas com letras que abordam os temas morte e sobrevivência, marcadas por um som inovador.
O disco foi gravado no estúdio Madeira, em São Paulo, com a produção de Rafael Ramos e mixagem do inglês Tim Palmer. Os bastidores da gravação são mostrados no mais novo DVD, intitulado “Pela Fresta”. Em entrevista exclusiva cedida ao Tracklist, Pitty contou como o DVD foi construído, além de falar sobre sua influência no feminismo e shows em festivais. Ela ainda respondeu algumas curiosidades dos fãs, confira:
Tracklist: A liberdade e ausência de pressão externa na criação do “Setevidas” permitiu que vocês ousassem e utilizassem elementos inovadores nas novas músicas, como é mostrado no documentário do DVD “Pela Fresta”. O que mais influenciou para o processo acontecer de forma agradável e para chegar no resultado esperado? Em que ponto a sintonia com a banda contribuiu para isso?
Pitty: Isso tem sido crescente, essa experimentação veio vindo em todos os discos e acho que no SETEVIDAS foi mais um passo além. A cada disco o processo é mais solto, intuitivo, e ao mesmo tempo consciente em termos de como se chegar num determinado resultado de som. Desde o Chiaroscuro descobrimos que gravar “em casa”, no nosso estúdio é um fator muito benéfico. Sem horário fechado, sem cronograma rígido, dando vazão à criatividade na hora em que ela pinta. A sintonia com a banda contribui totalmente, inclusive a convivencia nunca foi tão harmonica, como todo mundo realmente a fim de somar e com know-how suficiente pra isso.
Tracklist: O novo DVD tem uma pegada diferente e traz várias imagens exclusivas. Como vocês pensaram nele e como você sente essas diferenças?
Pitty: Ele foi se montando por si só, de certa forma. Quando levava minha câmera para as gravações não estava pensando num DVD, mas sim em registrar aquilo pra guardar mesmo. Depois é que percebemos que o material renderia uma história bacana, que quem curte o som poderia gostar de ver tão de perto o processo de gravação. Acho que cada DVD é diferente um do outro, estamos sempre buscando novas linguagens e formatos; não tenho a menor vontade de fazer o que já fiz mesmo que tenha dado certo.
Tracklist: Para o DVD vocês gravaram performances de 9 canções do “Setevidas” no estúdio. Num DVD de um show ao vivo vocês talvez teriam que cortar algumas músicas novas para incluir os sucessos antigos. A intenção foi levar o máximo do novo álbum?
Pitty: Nesse DVD o foco é o disco novo, o SETEVIDAS. Queríamos mostrar esse momento atual, não fazia o menor sentido colocar as músicas antigas. Num DVD de show sim, aí o repertório estaria mais equilibrado.
Tracklist: Você tem sido uma das mulheres mais citadas, e talvez uma das mais importantes, na luta feminista. Como você tem enxergado tudo isso? Você acha que com a sua música, você conseguirá emponderar essas mulheres?
Pitty: Não sou pretensiosa a esse ponto, mas se isso acontecer eu vou achar massa. Eu só me expresso, e procuro desconstruir essa forma de opressão e isso não é de hoje. Mas, de alguma forma agora as pessoas perceberam isso, e é bacana ter outras vozes e ouvir de outras mulheres como essa luta é importante.
Tracklist: Vocês têm tocado em grandes festivais e eventos com um público bem diversificado. Com relação ao Lollapalooza, você acha que mesmo sendo um festival um pouco restrito e diferente do que vocês já fizeram, você sente que conseguiram conquistar mais gente com esse som atual? E você acha que os festivais ainda são peças primordiais para o crescimento de uma banda como um todo?
Pitty: Acho festival super importante, fiz vários nessa turnê, dos mais alternativos aos mais populares. No caso do Lolla especificamente, pra mim é massa porque eu dialogo com um público alternativo que tem as mesmas referências que eu, e que talvez ainda não tivessem tido a oportunidade de ver a banda no palco, de verdade; fora da esfera dos estereótipos ou coisa do tipo.
Manoel Netto: No CD “Chiaroscuro”, você experimentou, além do rock outros estilos musicais como bolero, etc. No agridoce você buscou mais o folk e o acústico, o “SETEVIDAS” é o resultado de tanta experimentação em outros projetos?
Pitty: Acho que tudo vai se somando, mas é tão diluído que às vezes não dá pra separar os ingredientes. Quando bota na receita vira tudo fruto de uma coisa só: o tempo.
Daniel Willian Dias: Sabemos que você é apaixonada por cinema e literatura e que boa parte de suas músicas talvez sejam inspiradas nos mesmos. No entanto, já ocorreu com que outro meio de referência, que particularmente não soasse tão comum ou provável, resultasse numa surpresa boa? Se sim, qual foi essa influência?
Pitty: Sempre tem poesia pra tirar de tudo, basta a gente estar nesse estado de espírito. Um dia de chuva, cinza, feio e escuro já me fez escrever, por exemplo.
Samara Marques: O que você pensa sobre os “rótulos musicais” e certos tipos de “rivalidades” entre gêneros?
Pitty: Acho bobagem, perda de tempo. Mas entendo que é essa coisa do ser humano de ser passional e competitivo; seja em ideologia, futebol ou música. Mas acho que a gente deixa de absorver muita coisa boa por preconceito ou medo do que vão pensar.
Entrevista por: Rodrigo Neves e Lorrany Farias
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