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#TBTRACK: “Blonde”, o retrato da vulnerabilidade de Frank Ocean

Blonde

Quando Frank Ocean atraiu os holofotes da indústria para si no início da última década, o mundo era outro para o cantor. Enquanto compunha para outros artistas e gravava suas próprias faixas sem grandes pretensões, sua carreira crescia em curtos passos até o lançamento de seu aclamado álbum de estreia, “Channel Orange”, em 2012, responsável por uma das maiores transformações musicais nos tempos recentes.

A primeira mixtape do californiano, “Nostalgia, Ultra”, disponibilizada gratuitamente no ano anterior, já havia tornado seu nome conhecido e chamado a atenção de gigantes como Jay-Z e Kanye West, consolidando-o como uma das grandes promessas do R&B. Entretanto, foi com “Channel Orange” que Ocean provocou um impacto realmente significativo na indústria a partir de histórias pessoais que vão além de meros hits como “Thinkin Bout You” e “Lost”; trata-se de um manifesto pessoal que não só revelou um dos mais talentosos músicos e compositores da nova geração, como também levantou importantes debates em torno de temas como a sexualidade, a autoaceitação, a espiritualidade e o vício em drogas.

Desde então, Frank conquistou um espaço único de influência em um meio cada vez mais restrito. Em 2013, o cantor foi listado pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e foi indicado a seis categorias no Grammy, entre elas as de “Álbum do Ano”, “Gravação do Ano” e “Artista Revelação”, criando expectativas colossais para o futuro de sua carreira. Por anos, Ocean se manteve recluso trabalhando em seu próximo projeto, que logo veio a se tornar um dos lançamentos mais aguardados dos últimos tempos — uma espera que, como sabemos hoje, resultaria no seu mais especial disco.


A obra-prima de Frank Ocean

“Blonde” foi lançado no dia 20 de agosto de 2016 e, cinco anos depois, é lembrado como uma das obras mais completas dos últimos anos. Em seu álbum mais sentimental e transparente, o cantor mergulha em suas experiências enquanto traça um retrato de sua própria vulnerabilidade — talvez o tema mais recorrente ao longo de uma hora de audição, presente em cada uma das 17 faixas e suas diferentes narrativas.

Ao mesmo tempo que a obra disseca a fundo as lutas e as mágoas de Ocean, “Blonde” também reflete a ascensão de sua influência por meio de mínimos detalhes. Não só as canções soam mais grandiosas e simbólicas, como também o trabalho por trás delas: para o disco, Frank contou com a colaboração de artistas como Beyoncé, Kendrick Lamar, Kanye West, André 3000, Pharrell Williams, Tyler, The Creator, James Blake e vários outros nomes creditados pelo cantor por terem o ajudado a gravar, produzir e escrever seu projeto.

Contudo, “Blonde” não é apenas um respiro de Frank Ocean ao mundo, mas principalmente a amostra mais fiel de seu lado artístico e criativo. Trata-se do trabalho mais denso do californiano, musical e liricamente, construído a partir de experimentações que complementam cada faceta apresentada pelo cantor. O tom dramático de “Skyline To” e a entrega em “Self Control” e “Seigfried”, por exemplo, parecem ser potencializados pelo clima introspectivo que se faz presente no decorrer das músicas.


Em seu teclado, violão e sintetizadores, Ocean reimagina seus sofrimentos pessoais, as idas e vindas amorosas e o processo de redescoberta que caracterizaram os quatro mais conturbados anos de sua vida, artisticamente e pessoalmente. Ao mesmo tempo que somos introduzidos ao lado mais sensível e sincero de Ocean, momentos como “Pink + White” e “Nights” nos apresentam à sua versão mais confiante como artista, descobrindo novas possibilidades em sua sonoridade com liberdade e segurança ainda maiores do que em 2012.

São vários os momentos em que o álbum se distancia de seu antecessor, trazendo uma nova perspectiva para ilustrar suas temáticas. Enquanto “Channel Orange” é um trabalho mais direto e minimalista, com ênfase nas narrativas que o artista idealiza nas suas músicas, “Blonde” se sobressai pela atmosfera que protagoniza boa parte das canções. Em seu disco de estreia, Frank tinha um maior cuidado quanto à mensagem que transmitia; já em seu sucessor, o foco está no meio, ou seja, em como contar suas histórias.

Cada elemento da obra é pensado com perfeccionismo, de maneira a sofisticar a audição da forma mais detalhista possível. A transição de “Nights”, um dos momentos mais memoráveis do projeto, acontece na exata metade do disco, que também tem exatamente uma hora de duração; trata-se de um exemplo do cuidado que o cantor tem com seu trabalho, assim como nos vários interlúdios e passagens presentes ao longo da tracklist, que acrescentam aos tópicos narrados nas faixas.

“Blonde”, além de só mais um álbum de estúdio, destaca-se como uma verdadeira experiência pela profundidade que as faixas carregam. O cantor nos transporta para o seu próprio universo particular, além da figura pública que se criou em torno de seu nome na última década, para narrar as dores que marcaram sua vida pessoal e ressoam na de tantas outras.


O legado de “Blonde”, cinco anos depois

Desde que “Blonde” veio ao mundo, em um já longínquo 2016, Frank Ocean se mantém recluso em seus próprios projetos em um intervalo entre lançamentos que já dura cinco anos — um tempo ainda maior do que tomou para si após “Channel Orange” —, mas o disco permanece especial. Em apenas seu segundo álbum, o cantor gravou não só a obra-prima de sua carreira até aqui, mas também um registro que traduz a criatividade e a vulnerabilidade que marcam o seu trabalho e inspiraram a tantos nomes da indústria, seja aos mais novos ou até mesmo aos seus ídolos.

Cinco anos depois, “Blonde” está eternizado como um dos álbuns da geração. Frank desenha um retrato da sensibilidade nos tempos modernos e na música contemporânea, abrindo-se à arte e ao público como poucos são capazes de fazer com tanta segurança — talvez, o maior legado de um artista no auge de sua genialidade, acentuando o ponto fora da curva que vimos crescer por anos na indústria.

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