Se você nasceu em meados dos anos 1990, ou no começo de 2000, certamente cresceu assistindo ‘Looney Tunes’ na sua televisão. As aventuras de Pernalonga e companhia encantam há décadas os apaixonados por desenhos animados, com enredos engraçados e calorosos como uma manhã de domingo. E “Space Jam: Um Novo Legado”, lançado neste mês nos cinemas (e que em breve entrará para o catálogo da HBO Max no Brasil) é uma boa forma de lembrar disso.
O filme é uma continuação de “Space Jam: O Jogo do Século”, de 1996, que estrelava o ícone do mundo do basquete, Michael Jordan, eterno ex-Chicago Bulls, da liga da NBA. Dessa vez, o protagonismo é assumido por LeBron James, atual ala do Los Angeles Lakers.
O jogador, que já tem uma certa familiaridade e gosto pelas câmeras (apesar da aparência carrancuda que demonstra em quadra), recebeu a missão de reviver o clássico 25 anos depois e, aqui, não se faz necessário expressar como ele tiraria de letra o papel de um jogador de basquete (por razões óbvias).
Com enredo leve e divertido, “Space Jam: Um Novo Legado” volta a se passar em uma partida no espaço, contra alienígenas, assim como o primeiro filme. No entanto, diferente do que se imaginava, ele não tem a menor pretensão de tornar um novo clássico: é um revival para nós, que crescemos tendo os personagens como referência.
Isso é observado pelo elenco, composto de vozes que conhecemos bem, como Zendaya, Don Cheadle e Michael B. Jordan, além de outros jogadores profissionais (amigos e rivais de quadra de James): Kyrie Irving (Brooklyn Nets), Anthony Davis (Los Angeles Lakers) e Klay Thompson (Golden State Warriors).
“Space Jam: Um Novo Legado”, além de ser totalmente pop, que beira uma interface de e-Sports com personagens mais descolados, traz jogadoras da liga feminina da NBA como parte ativa do elenco, com Diana Taurasi (Phoenix Mercury) e Nneka Ogwumike (Los Angeles Sparks). Era algo que não tínhamos até então, criando representatividade para as gerações mais novas – tanto no esporte, quanto no cinema.
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Referências e contrapontos de “Space Jam: Um Novo Legado”
O filme, em si, é carregado de alusões dos últimos 20 anos, como “Matrix“, “MIB (Homens de Preto)” e “King Kong“, levando o enredo para o que temos nos dias de hoje: muita discussão sobre tecnologia, exploração espacial, e a nossa fascinação pela vida extraterrestre. Tudo da maneira mais esquisita e cômica possível.
Ainda que tenha recebido total desaprovação do diretor de “O Jogo do Século”, Joe Pytka, é importante encarar “Um Novo Legado” não como um oponente, mas sim uma atualização necessária. Sabe-se bem que Michael Jordan não foi só um jogador de basquete, mas também a maior celebridade do mundo daquela década. Ele é uma das personalidades que se tornaram um adjetivo para os que vêm depois dele, tal qual Einstein foi para a ciência – “inteligente como Einstein”, “o novo Michael Jordan em quadra”. E, é claro, esse anacronismo nunca é fiel, mas chega a ser engraçado.
Na trilha sonora, a faixa “Gametime” (Lil Tecca ft. Aminé) faz referência a isso. I can’t be stopped, you know I’m restless / Puttin’ up them numbers, scorin’ like my name was Michael Jordan (Não podem me parar, você sabe que eu sou incansável / Colocando números, marcando como se meu nome fosse Michael Jordan). Mais claro, impossível. LeBron James é uma celebridade tão reconhecida e um jogador tão bom quanto, e essa provocação está presente tanto na cultura pop, quanto no meio esportivo.
Trilha cria “clima de arena”
Quem acompanha a NBA pode estar familiarizado com a trilha sonora dos ginásios e arenas em dias de competição. Os alto-falantes ecoam hip-hop, rap e pop a todo volume, e não é muito difícil encontrar artistas como Drake, Jay-Z, Beyoncé, Justin Bieber, Rihanna e outros famosos na primeira fila de espectadores. E o filme faz jus à essa parte da indústria musical. A trilha sonora do novo “Space Jam” ganha seu destaque merecido por ter grandes nomes que dominam os charts. SZA, Lil Wayne, John Legend, Aminé, Saweetie e G-Eazy são alguns que assinam composições e produções.
“Space Jam: Um Novo Legado” tem esse ponto como principal: uma ambientalização que refaz muito bem o clima de um jogo de basquete, rivalidade e ostentação que os jogadores profissionais representam. É divertido e provocador, como uma boa partida costuma ser.
A faixa “About That Time” (Dame D.O.L.L.A., G-Eazy, P-Lo & White Dave) fala justamente sobre a ascensão meteórica de jogadores que surgem do nada, vencem pelo talento e influenciam seus rivais. E uma curiosidade: Dame D.O.L.L.A. é o nome artístico do rapper Damian Lillard, mais conhecido como armador do Portland Trail Blazers. Então, é um caso de conhecimento de causa.
E, para não se afastar totalmente de seu antecessor, somos presenteados com uma nova versão de “Pump Up The Jam”, clássico dos anos 1990, por Lil Uzi Vert. Além de batidas mais marcantes, a releitura faz uma reverência à Jordan, ao mesmo tempo em que levanta a moral de James. O jogador já se mostrou totalmente “nem aí” com a baixa aprovação dos críticos de cinema – não é a toa o apelido de King James. Seu estilo é único, importante para causar uma nova impressão nesse longa.
Ele continua sendo o verdadeiro MVP (Most Valuable Player, jogador mais valioso, uma das principais premiações no universo do basquete). James não é Jordan, mas as crianças de hoje não sabem disso. O dono das partidas mais emocionantes da NBA carrega seu reinado onde quer que vá. E, fazendo a espera de mais de duas décadas por uma adaptação/sequência valer totalmente a pena, deixa um novo legado.