Sexta-feira, 15 de julho. O Cine Joia recebia um bom público, composto por jovens – em sua maioria – na faixa etária entre 22 e 30 anos. Na plateia, algumas pessoas conhecidas: consegui avistar a Jout Jout e Jessica Tauane do Canal das Bee em meio ao público.
À meia-noite, uma hora depois do horário marcado para o show, vemos Candy Mel surgir no palco. Pensei: “será que ela vai participar?”. Adivinhando o pensamento da plateia, ela diz que aquela não era noite de Banda UÓ, sem deixar de fazer uma palhinha de “Arregaçada” e um discurso sobre a importância do projeto, que representa as pessoas negras e trans. “A gente se sente empoderada em representar esse grupo e esse movimento, o que é importante nessa época que a gente tá vivendo. É uma crise política, uma guerra política (*gritos de “Fora Temer”) que cada vez mais diminui esses movimentos sociais. E estão excluindo todo mundo. Mas a gente não deita!”, declarou antes de introduzir As Bahias e a Cozinha Mineira.
A banda entra em cena com a canção “Apologia às Virgens Mães”. Uma letra ousada, bem escrita que aborda o exemplo de “mulher” que é benquisto pela sociedade e o que é tido como tabu: o gozo e a própria maternidade ( que costuma ser vista de modo idealizado). Em seguida, emendam para “Reticências” , “Josefa Maria” e outras canções bem trabalhadas do disco “Mulher”, que também fazem referências à figura feminina. Com grande presença de palco e desenvoltura, as vocalistas Assucena Assucena e Raquel Virgínia se entregam aos temas e mostram um MPB que lembra bastante Gal Gosta (o timbre e o estilo). Em certo momento, o palco é invadido por Liniker e Tássia Reis para a performance de “Uma Canção pra Você”.
Fim do show de “As Bahias”. Há uma certa debandada do público que não fica para ver a apresentação solo de Tássia. A artista apresentou o disco homônimo de 2014, mas a performance foi sofrível. Sem voz, ela chegou a chorar e pedir desculpas pra plateia. “Como de costume, vou dar o meu sangue nessa porr*! Eu peço a colaboração de vocês… quem souber cantar, cante bem forte, tudo bem?” Com uma vocal de apoio, ela conseguiu concluir. Rolou até um cover de “Formation”, de Beyoncé, e uma versão empoderada de “Baile de Favela” com direito a dança. Infelizmente, nunca tinha visto ela antes, então não poderia fazer uma base de comparação entre a atuação da artista no Cine Joia e em outro momento em que estava com alto domínio de suas cordas vocais… Mas, conversei com fãs que disseram que normalmente a voz dela é poderosíssima ao vivo, o que dá pra entender a tamanha frustração.
Liniker entra em seguida, apresentando “Remonta”, “Caeu”, “Zero”, “Louise du Brésil, “Sem Nome, Mas Com Endereço”, entre outras canções. Em determinado momento, acontece a “renovação dos votos”, onde a plateia recebe “a benção do lacre”, “porque todo dia é um dia pra lacrar”. Não dá pra negar o envolvimento do artista, que com o timbre grave entrega uma mistura de jazz e soul combinada com dança. O encerramento, como não devia deixar de ser, aconteceu com todos no palco.
A importância de um projeto desse porte, que além de musical é também político, é inegável. As pessoas negras e trans precisam de exemplos bem sucedidos na sociedade, porque representatividade é necessário. A ideia é ótima e deve ser levada adiante. Sobre o evento, considerei algumas ressalvas: 1) O público entendeu que a Avon patrocina, mas ficar falando da marca o tempo todo não vai fazer as pessoas irem comprar maquiagem; 2) É um pouco exaustivo um evento de três horas, ainda mais quando há atraso; 3) Durante o show do Liniker, muitos já estavam cansados pra receber o lacre, talvez uma mudança do cronograma dos shows seja bem-vinda.
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