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Review: V – Maroon 5

Com uma combinação de funk rock, piano e a voz característica de Adam Levine, o Maroon 5 apareceu para o mundo da música há pouco mais de dez anos – com um estouro. Não havia quem não soubesse cantarolar a melodia de pelo menos um dos sucessos de Songs About Jane, o sensacional disco de estreia do grupo californiano; Seja a provocante “This Love”, a combinação rock e R&B de tirar o fôlego (perdão) em “Harder to Breathe”, a classuda “Sunday Morning” ou o liricismo encantador de “She Will Be Loved”, havia material para todos os gostos. O sexteto era original, versátil, íntegro. Uma beleza. O disco seguinte, It Won’t Be Soon Before Long, manteve a mesma pegada – embora os holofotes do sucesso já começassem a reluzir nos olhos dos integrantes, resultando em músicas mais ‘polidas’. Outros dois álbuns bem sucedidos depois e aqui estamos, com V, o quinto na carreira de Adam (e amigos).

A primeira faixa e single, “Maps”, passa uma impressão decente do que pode vir a ser o resto do disco. O tema é batido, mas Adam canta com alguma angústia: “Eu estava lá por você / Nos seus momentos mais obscuros / Eu estava lá por você / Nas suas noites mais escuras”. Também é uma das poucas canções na qual percebe-se claramente o som destacado de uma… guitarra! E olha que temos três guitarristas aqui. “Maps” está aprovada com ressalvas – e elas, infelizmente, são constantes durante todo o álbum. Na sequência temos “Animals”, uma de três músicas simplesmente detestáveis em V. Adam tem uma voz potente e um falsete inconfundível, que dispensa efeitos do tipo ‘gás hélio’ como nessa faixa. Contudo, esse é o menor problema.

A letra de “Animals” mais parece uma promoção do sexismo por meio da objetificação da mulher. Adam canta versos como “Baby, serei seu predador esta noite / Vou te caçar, te comer viva / Como animais” e “É como se não conseguíssemos parar, como se fôssemos inimigos / Mas nos damos bem quando estou dentro de você” como se tudo estivesse bem no mundo. Ok, não foi a primeira vez na cultura pop e nem vai ser a última, mas é enfurecedor ouvir isso de quem um dia escreveu “She Will Be Loved”. Um claro retrocesso lírico e moral do vocalista, e de seja lá quais tenham sido os co-escritores de “Animals”.

Aqui, inclusive, toco em outra questão frustrante: a grande maioria das músicas do Maroon 5 eram escritas por Adam, o tecladista Jesse Carmichael e o guitarrista James Valentine. Isso mudou a partir de Overexposed, o álbum anterior a este, e o vocalista passou a ser o único contribuinte constante da banda, com dezenas de co-escritores assinando esses dois álbuns. Com tão pouca alma, não surpreende a qualidade lírica ter caído vertiginosamente. Saudades, Jesse e James. O conteúdo misógino não se limita a “Animals”: para nosso desprazer, “Sugar” e “Feelings” seguem a mesma tendência. A diferença é que, musicalmente, são dois pontos altos da montanha-russa que é o álbum. A primeira leva uma batida que remete a discotecas dos anos 80 e um refrão tão açucarado quanto o nome sugere, enquanto a segunda combina elementos eletrônicos e um falsete estridente de Adam para se tornar o número mais enérgico entre as onze faixas.

https://www.youtube.com/watch?v=tMxDObWa79o
O álbum como um todo sofre com a produção exagerada, as melodias genéricas e a falta de profundidade, mas não mede esforços no que se refere a refrões vibrantes e ritmos dançantes. No caso de não se importar com a questão das letras machistas, tudo fica bem menos complicado para o ouvinte. Mas repito: V tem seus altos e baixos. E os baixos são muito baixos. As outras duas músicas incrivelmente irritantes são “Unkiss Me”, uma balada na qual Adam (e amigos) extrapola o aceitável no que se refere a clichês, e “In Your Pocket”, onde Adam (e amigos) passa três minutos e meio questionando a fidelidade de uma parceira… e pedindo que mostre seu celular. Sim, pra ver se tem mensagens de outros caras e tudo mais. “Mostre-me o seu e lhe mostrarei o meu”, diz ele. Poético.

“Mas pera aí, por que ‘Adam e amigos’?”. Sim, amigos. Hoje, é difícil perceber o Maroon 5 como uma banda. Claro, o seu vocalista se destaca na voz, na aparência e no ego, mas isso não era um problema até algum tempo atrás. O divisor de águas foi o ano de 2011. Após um início relativamente fraco em vendas do terceiro álbum, Hands All Over, a banda estava descontente e preocupada com o futuro. Então, deixaram de lado o funk rock que os consagrou e trouxeram os nomes mais badalados da indústria para produzir o hit pop do verão: “Moves like Jagger”, com a participação de Christina Aguilera. Foi um sucesso, mas marcou o fim de uma era – a era ‘banda de rock’ do Maroon 5. Hoje, é um projeto solo de Adam Levine com esporádicas aparições de seus amigos, tocando uma guitarra aqui, uma bateria ali – tudo sob camadas e mais camadas de sintetizadores. Ouvir o primeiro sucesso do grupo, “Harder to Breathe”, e uma canção qualquer do novo álbum (vamos dizer “New Love”, a razoável faixa 8) em sequência é uma experiência quase chocante. Agora, o sexteto californiano se parece muito mais com a Rihanna do que com o Red Hot Chili Peppers ou o Sublime.

Ao final desta resenha, você perceberá que o álbum recebeu uma nota média, apesar de todas as críticas. Parte dela se deve à conveniente existência da opção “pular música” em um CD – e, no caso de ser um arquivo digital, somos agraciados com a opção “deletar”. Faça isso com as atrocidades que são “Animals”, “Unkiss Me” e “In Your Pocket”, e terá um disco mais ou menos agradável de uma ‘banda’ que precisa urgentemente repensar seus princípios e sua integridade artística. Pop genérico existe em abundância: o que anda em falta é versatilidade e alma, e aquele Maroon 5 que cantava (e tocava!) sobre uma “beauty queen of only eighteen” tinha tudo o que estes seis estão precisando resgatar hoje. Que saudade do verão de 2004…

Nota: 5/10

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