Em 2014, o duo inglês Royal Blood surpreendeu o mundo com seu excelente auto-intitulado álbum de estreia. Uma banda sem um guitarrista não era novidade, afinal, gente como Death From Above e Morphine já haviam explorado a possibilidade com sucesso – porém, uma banda de rock sem guitarra é sempre um desafio e tanto. Teriam um contrabaixo e um contrabaixista capacidade de substituir esse papel? Pois foi explorando uma infinidade de efeitos e timbres que Mike Kerr (baixo e vocal), ao lado do baterista Ben Thatcher, veio a público com um dos discos mais legais daquele ano.
A partir dali, foram shows e mais shows, sempre com sucesso, e participações em grandes festivais que chamaram muito a atenção de público e crítica. Aqui no Brasil, os caras participaram do Rock in Rio de 2015, fazendo um show realmente impressionante. Porém, com grandes álbuns vêm grandes responsabilidades. Teria o Royal Blood criatividade e competência para não deixar a peteca cair no segundo álbum? Essa pergunta, que veio sendo respondida nas últimas semanas com o lançamento dos singles “Lights Out”, “I Only Lie When I Love You” e “Hook, Line and Sinker”, foi respondida de forma definitiva no último dia 16 de junho, com o lançamento de “How Did We Get So Dark?”.
A bolacha começa com a faixa título, que apresenta uma sonoridade diferente: explorando sons mais agudos, “How Did We Get So Dark?” deixa o ouvinte no limite da dúvida se não existe ali um guitarrista. Ainda que não tão brilhante quanto outras faixas, a canção que dá nome ao álbum é uma boa escolha para iniciar a curta jornada pelo novo trabalho da dupla. Na sequência, temos de volta ao controle o baixo que deu fama ao grupo: “Lights Out”, primeiro single e primeiro vídeo extraído o novo trabalho, casa perfeitamente com a faixa anterior e levanta a dinâmica do álbum com peso e energia, clima que é mantido por “I Only Lie When I Love You”. Estas duas são certamente as faixas mais grudentas do álbum; earworms que podem durar uma semana na sua cabeça.
“She’s Creeping” apresenta uma pegada mais low beat, um wah-wah interessante no baixo e um bom trabalho de backing vocals no refrão, levando a audição para outra direção e se destacando por ser aquela que apresenta um clima à parte do tradicional casamento de baixo distorcido com bateria pesada. Não que isso desabone a canção, mas é um ponto diferente do que se espera e isso é ótimo. As quatro canções seguintes mantêm um mesmo nível, suprindo as expectativas sem excessos: “Look Like You Know”, “Where Are You Now?”, “Don’t Tell” e “Hook, Line & Sinker” são uma boa ponte até o fechamento perfeito do novo álbum; “Hole in Your Heart” é uma pedrada rock de primeira linha com um interessante, simples e muito bem composto arranjo de teclados; e a belíssima “Sleep”, a mais criativa e artística das faixas do álbum, servem para deixar o ouvinte com a sensação de que o álbum é excelente e é curto demais. São dez faixas em 34 minutos que passam voando. Há de se destacar, ainda, os aspectos técnicos, como as performances de Kerr e Thatcher, ambos donos de técnica e feeling invejáveis, e o belo trabalho de produção, mixagem e masterização.
Seguindo a tradição Royalbloodiana, “How Did We Get So Dark?” é, ao mesmo tempo, minimalista e grandioso. Criativo sem inventar moda, direto sem ser óbvio e certeiro sem ser clichê, o novo álbum do Royal Blood já nasce candidato ao título de um dos melhores álbuns de rock de 2017. Se alguém tinha dúvidas quanto ao sucesso do grupo no enfrentamento do desafio de lançar um segundo trabalho à altura do primeiro, essa discussão pode ser dada por encerrada. “How Did We Get So Dark?” é audição obrigatória para quem gosta de rock e sabe que o estilo, além de não estar morto, vai muito bem, obrigado.