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Review: “God Said No” é a reafirmação artística de Omar Apollo

O segundo disco do cantor finca os seus pés no R&B e destaca a versatilidade de sua música

omar apollo
Foto: Divulgação

Desde os primeiros trabalhos de sua carreira, Omar Apollo se expressa de uma forma diferente por meio de sua música. Com seu álbum de estreia, “Ivory” (2022), o cantor mexicano-estadunidense se apresentou ao mundo com composições tocantes e uma sonoridade bastante versátil, que rendeu ao mundo sucessos como “Evergreen (You Didn’t Deserve Me At All)” e uma indicação inédita ao Grammy na categoria de “Artista Revelação”.

Em “God Said No”, o seu novo álbum de estúdio lançado na última sexta-feira (28), Omar finca os seus pés no R&B e volta a se aprofundar em temáticas mais pessoais. O disco explora diferentes lados e influências de sua música, permitindo ao artista atravessar ritmos mais agitados e baladas mais lentas. O disco é uma reafirmação do cantor como um dos nomes mais interessantes da nova geração do R&B, e destaca o talento e a versatilidade que marcam o seu trabalho.

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Um registro pessoal de Omar Apollo

O dedilhar do violão anuncia a abertura do disco em “Be Careful With Me”, e ambienta o tom sentimental que percorre muitas outras faixas para dar início aos trabalhos. “Spite” e “Done With You” vêm em seguida para levantar a atmosfera do álbum com refrãos fáceis e melodias contagiantes, destacando desde cedo a versatilidade do artista em transitar entre a extroversão e o intimismo.

Ao longo do álbum, Omar disseca temas que são comuns em suas composições, como a frustração amorosa e a vulnerabilidade, e são nos momentos em que o cantor desperta o seu lado mais sensível em que o disco alcança o seu ápice. “Plane Trees”, interessante parceria com Mustafa, é um dos primeiros exemplos durante a audição, no qual canta sobre o mundo ao seu redor; já “While U Can”, uma das faixas mais intensas e impressionantes do trabalho, aproveita-se da potência vocal de seus falsetes para dar ainda mais força à composição em um dos pontos altos da obra.

Em “Empty”, Omar canta alguns versos em espanhol como uma forma interessante de homenagear as suas raízes e expor a sua vulnerabilidade dentro de uma relação. “Canto em outra língua para que não me entenda”, declara-se em seu idioma enquanto se abre sobre ter sido deixado vazio após um término, em uma das faixas mais comoventes do disco.

“God Said No” também conta com uma lista inusitada de colaborações. O cantor Mustafa empresta sua voz ao dueto de “Plane Trees”, enquanto John Mayer assina as suas características linhas de guitarra em“Done With You”. Até mesmo o ator Pedro Pascal marca presença na faixa “Pedro”, na qual gravou um depoimento direto à Omar.

Uma produção imersiva

Aos fãs que esperavam ver uma maior transformação artística de Omar em seu segundo disco, “God Said No” pode soar mais semelhante do que deveria ao seu antecessor. O álbum não é exatamente um grande avanço em experimentações ou em inovações, mas sim uma reafirmação do cantor no território no qual se consagrou, fincando os seus pés em estilos como o R&B e o soul.

Porém, em determinados momentos, Omar explora algumas mudanças de rota em sua sonoridade durante o álbum. Com a ajuda de sintetizadores e de fortes batidas, algumas canções ganham um fôlego renovado e ajudam a dar mais ritmo ao disco. São os casos da agitada “Less Of You”, acompanhada por uma produção bastante oitentista, e de “Drifting”, moldada sobre uma percussão eletrônica e autotunes. Já em “Against Me”, o cantor chega a arriscar algumas rimas sobre batidas de trap — o que, apesar de soar deslocada pela performance de Omar, certamente vale a tentativa.

“Glow”, canção que dá fim ao disco, acumula a frustração e o desafeto expressos nas faixas anteriores em uma belíssima carta aberta sobre a despedida de um amor. Repleta de sintetizadores, a produção da música envolve o ouvinte em uma atmosfera estelar com a ajuda de pianos e arpas, complementando-se às letras de maneira umbilical.

Apesar de render alguns dos melhores momentos da obra, o estilo escolhido por Omar para as faixas em questão não é exatamente uma experimentação inédita —  e inclusive pode soar bastante semelhante ao que fazem outros artistas contemporâneos, como Frank Ocean e Daniel Caesar. Talvez o grande questionamento em torno do álbum seja a falta de uma identidade própria para o cantor, algo que em nada prejudica o seu talento, mas certamente deixa de potencializá-lo.

Com um trabalho especial em sua produção, “God Said No” reafirma o nome de Omar Apollo entre as principais revelações do R&B nos últimos anos. O cantor explora os diferentes lados de seu talento artístico e vocal ao longo do disco, que apesar de repetir fórmulas e não representar grandes transformações para a sua carreira, ainda confirma a versatilidade e a competência de um artista em plena ascensão.

Nota: 8/10