A overdose de shows do Abril pro Rock já começou deixando viciados por sua 23ª edição, dessa vez por ser um dos pioneiros a montar uma programação voltada especialmente para os músicos de Pernambuco. Na noite do último sábado (18), o festival levou para o palco do Baile Perfumado, atrações clássicas como Paulo Diniz, Flaviola e Ave Sangria. O intuito era de homenagear o “Udigrudi”, movimento dos artistas da década de 70 que precedeu o conceito associado ao Mangue Beat de realizar a fusão de elementos da cultura nordestina com a música do exterior.
Participando da vibe astral da platéia, nomes da nova cena musical como Caapora, Aninha Martins e Almério, foram oferecidos ao público em uma bandeja que trazia o melhor das revelações dessa mistura de gêneros musicais das raízes pernambucanas. Marcados pela influência do tropicalismo, cultura popular e bossa nova, o grupo Caapora apresentou músicas do seu disco “Verde Vingança”. A apresentação da banda lembrou em certo momento a Banda de Pífanos de Caruaru, município localizado no agreste pernambucano, principalmente através das notas emitidas pelo integrante flautista, Igor Taborg.
Em seguida, foi à vez de Paulo Diniz, cujos hits “Quero Voltar prá Bahia”, “Pingos de Amor” e “Um Chopp para Distrair” foram relembrados e aplaudidos pelo público, apesar do cantor, por conta de problemas de saúde, ter feito uma apresentação sentado em uma cadeira. Almério com sua vestimenta de plumas coloridas também deu seu recado com um show vibrante, mostrando seu desempenho enigmático e atrativo adquirida por sua veia teatral.
O retorno do misterioso Flaviola depois de 20 anos longe dos palcos do Recife contou com uma banda composta por Juvenil Silva, Juliano Holanda e Gilú Amaral. O momento foi emocionante principalmente quando Flaviola recitou a letra “O Tempo”. A noite então caminhava para o psicodélico fim com o Ave Sangria. Uma das últimas apresentações da banda foi em 1974, no Teatro Santa Isabel. O curioso foi que depois de 40 anos afastado do palco, o Ave retornou para o cenário musical recentemente realizando o show de seu retorno no mesmo lugar em que fora sua despedida. No festival, os “Stones Nordestinos” considerados como ícone mor do Udigrudi, ficaram surpresos com a receptividade do público que em sua maioria eram jovens de 20 a 30 anos. Mesmo o grupo tendo o desfalque do guitarrista Ivinho por causa de uma hemorragia gástrica, Paulo Rafael fez jornada dupla nessa noite. Quem estava presente não sentiu nenhum vazio nas canções. “Hey Man”, “Corpo Em Chamas”, “Seu Waldir”, “Geórgia, A Carniceria” e outros clássicos foram recebidos com entusiasmo pela platéia que transmitia uma energia descomunal.
Referência nacional por apoiar bandas e artistas da cena independente do país e do exterior, o Abril pro Rock conseguiu comunicar a platéia presente que é possível realizar o encontro de gerações e que essa iniciativa, beneficia a juventude em seu contato com o marco musical de suas raízes. Afinal, música boa é pro resto da vida.
O gancho da matéria é sobre as definições que se encaixam a cena da década de 70 em contraste com a cena musical atual do estado e o encontro entre as gerações.
Cobertura por: Sabbahana Cavalcanti (Canal Like Som)