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Review: Viral do pop inglês, Raye faz debut arrebatador com “My 21st Century Blues”

Após o hit “Escapism.”, cantora explora influências do jazz ao rap em primeiro álbum

My 21st Century Blues

Quem nunca viveu uma grande decepção? Raye, revelação do último trimestre dos principais charts do pop music na Europa, conseguiu explorar perfeitamente todas as fases de um coração partido. Em “My 21st Century Blues”, seu disco de estreia lançado na sexta-feira (3), a cantora inglesa não tem medo de arriscar e dar nome a todos os seus demônios.

Raye, um nome conhecido na indústria por compor para grandes nomes da música (como Ellie Goulding, Diplo e Beyoncé), atualmente contabiliza 35 milhões de ouvintes mensais nas plataformas de streaming. Ela marcou o último trimestre com o hit “Escapism.”, que atualmente conta com 25 milhões de visualizações no Youtube. 

Ainda que seu maior sucesso tenha uma produção pautada no rap e no hip-hop, todas as suas versões ao vivo demonstram um lado muito mais vulnerável, e que flerta, principalmente, com o jazz e o blues.

“My 21st Century Blues”: a vulnerabilidade enquanto potência musical

É muito comum que, para discos de estreia, exista uma linearidade sonora entre as faixas e a própria narrativa lírica – um básico de um “o que podemos esperar” do artista, semelhante aos seus singles. Mas “My 21st Century Blues” não se encaixa nesse caso. 

Por ser um relato tão íntimo de um caos emocional, Raye vivencia todas as emoções possíveis em 15 faixas inéditas, num total de quase 47 minutos. O álbum inicia como uma apresentação em um show clássico de jazz, com uma salva de palmas tímida e, até mesmo, triste. Então, a cantora avisa: “Por favor, fique bem confortável e bloqueie seu telefone, porque a história está prestes a começar”.

Oscar Winning Tears.” e “Hard Out Here.” iniciam o álbum e, por si só, já tiram o fôlego, ainda que muito diferentes. Enquanto na primeira a cantora aproveita de um blues em alto e bom som, alcançando notas altas, a segunda é muito mais centrada em ser um som mais contemporâneo, que remonta a música pop nos anos 2000. 

Essa dualidade é encontrada por diversas vezes ao longo do disco. No entanto, são nas faixas mais melódicas (ainda que pouco comerciais) que Raye se destaca. Podemos sentir até mesmo um “quê” de Amy Winehouse e Norah Jones em canções como “The Thrill Is Gone.” e “Worth It.

“My 21st Century Blues” também abre espaço para discussões importantes, como o assédio sexual. “Ice Cream Man.” deixa um recado importante, em especial para mulheres, com reconhecimento de coragem. A artista intitula seu trabalho como “feito por Raye, para Raye” (uma forma de entender a si mesma), “mas também um hino para outras mulheres, para aqueles que se sentem presos no ciclo da misoginia”.

Imagem promocional do single “Black Mascara.”; Raye narra especialmente sua relação com homens em “My 21st Century Blues” | Foto: Divulgação

Recepção

Produzido e distribuído de forma independente, “My 21st Century Blues” tem a capacidade de tornar-se um álbum relatable pela temática do caos emocional. Talvez seja interessante ressaltar: alerta de gatilhos. Inevitavelmente, Raye narra de forma muito sincera e pessoal seu processo terapêutico contra seus vícios, inseguranças e traumas.

Ainda assim, o álbum não deixa de ser um frescor para o pop atual. De acordo com o Metacritic, “My 21st Century Blues” está classificado com 88/100, o que o configura como “aclamação universal”. 

O jornal britânico The Telegraph descreveu bem: assim como o “Caprisongs” de FKA Twigs, o “Renaissance” de Beyoncé e “SOS” de SZA, esse é um álbum que merece ser ouvido do começo ao fim, e depois de novo, e de novo. Já a Pitchfork, conhecida por suas críticas mais ácidas, incluiu o disco na lista de “novos álbuns que você deveria escutar agora”.

De forma resumida, “My 21st Century Blues” definitivamente coloca Raye no radar de novidades, mas que esperamos ver mais. Por ser um disco lançado no início do ano, a expectativa é que, ao longo de 2023, possamos ouvir mais seu nome por aí.

Nota: 9/10

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