Você provavelmente tem o TikTok instalado em seu celular. Popular especialmente entre os adolescentes e jovens adultos, segundo pesquisa mais recente realizada pelo jornal Nikkei Asia, a rede social chinesa ultrapassou empresas como o Facebook, Instagram e WhatsApp, tornando-se o mais baixado em todo o mundo. Conhecida pelas dancinhas, trends e pela viralização de conteúdos de rápido consumo, a plataforma vem sendo usada, também, para descobrir e divulgar música.
Se precisássemos fazer uma linha cronológica da música nas décadas passadas, poderíamos dizer que, entre os anos 70 e 80, o rádio era a melhor fonte para divulgar bandas e artistas (inclusive, foi importantíssimo para bandas brasileiras ganharem reconhecimento). Já nos anos 90 e 2000, a televisão (destaque aqui para a MTV, que hoje já é considerada “retrô”) era o que nos mantinha atualizados do que acontecia na indústria. Nesta década, são as redes sociais que ditam as tendências musicais, com diferentes plataformas para o consumo.
O TikTok se destacou por seus algoritmos mais assertivos e por produtores de conteúdo mais velozes. Por seu público ser altamente engajado e intenso, qualquer produção caseira e independente tem o potencial de ganhar milhões de visualizações da noite para o dia. E, nesse cenário, muita gente teve sua vida transformada graças a isso.
Leia também: Músicas virais do TikTok sobem nos streams! Veja 4 exemplos
O fenômeno começou com Doja Cat e “Say So”, do seu segundo álbum, “Hot Pink”, lançado em 2019. Atualmente com mais de 800 milhões de streams (somente neste single, somados a quase 60 milhões de ouvintes mensais em toda sua discografia), a cantora coleciona uma série de hits de sucesso e parcerias bem elencadas, que a transformaram em uma das artistas mais bem sucedidas do pop dos últimos anos.
Outro exemplo é Bella Poarch, que começou sua carreira na música após bombar com um vídeo fazendo caretas, totalmente despretensiosa. Totalizando quase 13 milhões de ouvintes mensais no Spotify, seu primeiro single, “Build a Bitch”, agora bate a marca de quase 200 milhões de streams. Tudo isso graças ao seu reconhecimento na rede social.
Assim como Bella, outros artistas viram sua popularidade crescer exponencialmente. Reyanna Maria, do hit “So Pretty”, teve sua música viralizada em uma corrente, o que a rendeu 20 milhões de streams. Recentemente, o single ganhou uma repaginada em parceria com o rapper Tyga.
Já um pouco distante do meio pop e do hip-hop, L.Dre vem recebendo destaque por “Steven Universe”, com quase 24 milhões de streams, mostrando forte influência do lo-fi em suas produções. E, para mostrar que o TikTok é um reflexo de diversidade, JAWNY, carregado da identidade do pop rock, conquistou o público da plataforma com “Honeypie”, totalizando mais de 154 milhões streams no single do álbum “For Abby”, de 2020.
Música no TikTok e “a volta dos que não foram”
Se por um lado o TikTok se tornou uma excelente forma de ganhar reconhecimento do absoluto zero, por outro, é a chance que os artistas receberam de ser lembrados. Afinal, ainda que todo dia alguém lance música nova, existem alguns hits que simplesmente não morrem, e poderíamos dizer que apenas tiram um longo repouso.
Esse é o caso do Maneskin, que viu seu principal single de 2017, “Beggin’” (do álbum “Chosen”, o primeiro da banda), simplesmente escalonar e viralizar nas últimas semanas – mais 400 milhões de streams únicos, devolvendo ao grupo o mesmo entusiasmo da época em que foi descoberto no programa The X Factor. O surgimento (e renascimento) do quarteto italiano ganha destaque, especialmente, por colocar o rock de volta às paradas musicais, algo que vinha se perdendo na última década.
E, se é para falar de saber comunicar, quem vem dando aula é Aurora. Além de suas composições e produções próprias, que totalizam 11 milhões de ouvintes mensais no Spotify, ela se destaca por improvisar em duetos com remixes que só existem no TikTok. Com um nicho musical específico, que beira o pop e o psicodélico, a norueguesa brinca com os fãs e, a partir disso, nascem mashups únicos, o que alimenta a exclusividade da plataforma.
Em conclusão, fica claro que a graça do TikTok não está em unicamente fazer sucesso, mas sim em divertir-se sem comprometimento algum. É um lugar que dá espaço para todo mundo, democrático, e que reflete os perfis de grupos, nichos, tais quais “clubes”. Principalmente, é um espelho da personalidade fluida da nova geração de consumidores de música e conteúdo, que não mais se prende a um único estilo, e muito menos se comprometem na atenção exclusiva ao artista favorito. Se isso é um aspecto positivo ou negativo, depende apenas da perspectiva.