Em julho de 2023, o mundo foi tomado pelo fenômeno “Barbie”. Dirigido por Greta Gerwig, o filme de comédia e fantasia transportou o público para um universo mágico, colorido, irônico e cheio de nostalgia.
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O resultado não poderia ser melhor: nas bilheterias, o longa arrecadou mais de US$ 1,4 bilhão ao redor do mundo. Além disso, a produção também se destacou entre os críticos. No agregador Rotten Tomatoes, o filme conquistou uma aprovação de 88%, baseada em 497 resenhas.
O longa também tem tido uma campanha bem-sucedida na atual temporada de premiações, recebendo honrarias em cerimônias como o Globo de Ouro e Critics’ Choice Awards. No Oscar 2024, a produção concorre a oito prêmios, incluindo a categoria de Melhor Filme.
No live-action inspirado na famosa boneca da Mattel, Barbie vive num mundo perfeito, a Barbielândia. Tudo muda, porém, quando ela começa a ter emoções negativas e encontra “defeitos” em sua aparência. Assim, ela parte para o mundo real com Ken, onde tenta encontrar uma solução para os seus problemas.
A construção do universo de “Barbie”
Em “Barbie”, e especialmente na Barbielândia, tudo é alegre e colorido – com uma abundância de tons de rosa. Os cenários são exagerados e as roupas são vibrantes. Ao decorrer do filme, é possível encontrar dezenas de referências à linhas e edições da marca: a Casa dos Sonhos, o Trailer dos Sonhos, a Barbie Astronauta, a Barbie Sereia, Barbie Presidente e muito mais.
Em um primeiro momento, tudo que está na tela é feito para encantar o espectador – e essa construção de universo é um dos pontos altos de “Barbie”. E, mesmo quando Barbie e Ken estão no mundo real, o longa trabalha muito bem com as distinções: as características dos personagens sempre evidenciam que eles não fazem parte daquele local.
E são nesses quesitos que a direção de arte (liderada por Sarah Greenwood; e Katie Spencer, que foi responsável pela decoração dos sets) e a equipe de figurino (que são assinados por Jacqueline Durran) brilham. Portanto, não é surpresa que o filme tenha ganhado o reconhecimento da bancada nestas categorias.
A comédia e a ironia como abordagens principais
Todo o marketing de “Barbie” foi feito pensando em algo lúdico e bem-humorado. E, sim, o público encontra essas características na produção. Mas a grande sacada de Greta Gerwig é que, apesar de pensar no divertimento dos espectadores, o longa não abre mão de discussões relevantes.
Para alcançar isso, as principais abordagens são a comédia e a ironia. Dessa forma, o filme consegue abordar, de forma leve, temas como o feminismo, a supervalorização da masculinidade e o patriarcado – termo que é, inclusive, citado diversas vezes.
Boa parte do mérito fica para o grande elenco do filme, que consegue lidar brilhantemente com todas as nuances exploradas no andamento da trama. E o protagonismo aqui é de Margot Robbie, que interpreta a Barbie Estereotipada. A atriz consegue dar à personagem uma carga de emoções tão grande que, ao final da história, é impossível não se identificar ao menos um pouco com seus questionamentos.
Margot conseguiu encarnar perfeitamente a ideia da personagem; no entanto, a artista foi esnobada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Sua ausência na categoria de Melhor Atriz gerou o questionamento de diversos veículos, como a Variety, além de despertar a indignação do público geral.
A própria Greta Gerwig também foi esnobada pelo Oscar e não conseguiu uma nomeação na categoria de Melhor Direção – algo que a cineasta já tinha conquistado com “Lady Bird”, de 2017. Ela disputa, porém, na divisão de Melhor Roteiro Adaptado, o qual assina junto de Noah Baumbach.
Quem também conseguiu uma indicação foi o ator Ryan Gosling, que concorre ao título de Melhor Ator Coadjuvante. Apesar da falta de reconhecimento da Academia em relação à Margot e Greta – em uma produção que fala muito sobre feminismo, ironicamente –, também é necessário destacar a performance de Gosling, que consegue elevar e trazer diversas camadas para o personagem de Ken.
America Ferrera (que vive Gloria, uma funcionária da Mattel) também foi notada pela Academia e disputa a categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. A interpretação da atriz imprime na tela a parte mais humana do filme, tanto literal quanto figurativamente. É ela quem protagoniza um dos momentos mais marcantes da trama, com um poderoso monólogo.
Trilha sonora
Mais um ponto de destaque em “Barbie” é a trilha sonora. As músicas originais do filme foram gravadas por vários artistas, como Ryan Gosling, Billie Eilish, Dua Lipa, Nicki Minaj, Ice Spice, Charli XCX, PinkPantheress e mais.
Além das premiações de cinema, as faixas da trilha sonora conseguiram indicações em premiações como Grammy Awards, VMA e Billboad Music Awards. E as composições também não passaram despercebidas pela bancada do Oscar.
“I’m Just Ken”, escrita por Mark Ronson e Andrew Wyatt, concorre ao Oscar de Melhor Canção Original. Interpretada por Ryan Gosling, a música é utilizada em um momento crucial da história. É, provavelmente, a cena mais divertida do filme, quando a direção assume uma característica de musical.
Também está na disputa a faixa “What Was I Made For?”, escrita por Billie Eilish e Finneas O’Connell. Em uma antítese da canção anterior, o single da artista é utilizado como plano de fundo de uma cena emocionante, que com certeza tira algumas lágrimas dos mais sensíveis.
“Barbie” no Oscar 2024
“Barbie” não é um dos favoritos para o Oscar de Melhor Filme. Na principal categoria da noite, o longa compete com obras como “Oppenheimer” e “Anatomia de uma Queda”, que estão entre as mais cotadas para chamar a atenção dos votantes.
Por outro lado, a categoria de Melhor Roteiro Adaptado é uma possibilidade. O texto de Gerwig e Baumbach rendeu um prêmio no último Critics’ Choice Awards, o que mostra que a indústria ainda está atenta ao filme. Em contrapartida, títulos como “American Fiction” e “Oppenheimer” também estão na corrida pela estatueta.
O longa também tem chances em Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte, já que as equipes foram responsáveis por criar um verdadeiro universo fictício para a produção. Em Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante, as possibilidades de vitória são um pouco menores: Robert Downey Jr., de “Oppenheimer”; e Da’Vine Joy Randolph, de “Os Rejeitados”, apontam como os favoritos das respectivas categorias.
O grande trunfo do filme na cerimônia fica com a trilha sonora. Nesta categoria, o prêmio está quase garantido. Agora, resta apenas a dúvida: qual faixa irá levar o troféu? A comovente “What Was I Made For?”, de Billie Elish, ou a épica “I’m Just Ken”, de Ryan Gosling?
De toda forma, “Barbie” já se consagrou como um dos principais títulos de 2023, arrastando verdadeiras multidões para os cinemas de todo o mundo. Com a obra, Greta Gerwig também consegue elevar seu nome para outro nível, destacando-se como uma das mais relevantes e versáteis diretoras atualmente.