Após a divulgação das duas primeiras partes do projeto “HER MIND”, Urias chega com o álbum completo nesta quinta-feira (8). Como temática central, o segundo disco da artista mineira aborda a mente.
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O trabalho é baseado em um estudo da Universe de Liége, na Bélgica, onde se comprova que o cérebro de pessoas trans são semelhantes ao gênero às quais elas se identificam. “Através dessa pesquisa, posso provar que faço parte da natureza, que faço parte do natural, do biológico”, disse a cantora.
O álbum apresenta, ao todo, 13 faixas, sendo 5 destas inéditas. Na sonoridade, a artista incorpora ritmos latinos e beats eletrônicos, mostrando um novo jeito de fazer música brasileira.
Recentemente, Urias cedeu uma entrevista ao Tracklist para falar mais sobre o álbum “HER MIND”. Acompanhe a conversa abaixo!
Entrevista: Urias fala sobre “HER MIND” e mais
Essa semana, você apresenta o último volume do projeto “HER MIND”, que agora chega como uma obra completa – como seu segundo álbum de estúdio! Em questões de temáticas abordadas, o que você poderia adiantar sobre o trabalho?
“Esse álbum surgiu através de uma pesquisa científica. É um álbum que, para mim, é muito importante no sentido de prova, mesmo. No sentido de provar uma certa naturalidade em quem eu sou, num lugar até biológico; no sentido de que faço parte da natureza, faço parte da biologia, corpos como o meu fazem parte de tudo isso, e que além de social, é muito biológico. Aí eu tento colocar letras em inglês e espanhol, mas também com batidas de música eletrônica, com muitos elementos de música brasileira, para mostrar para o mundo inteiro que existem muitas formas de se fazer música brasileira”.
E falando um pouco mais sobre a sonoridade e sobre o visual, o que essa terceira parte vai apresentar? E como ela se difere dos outros dois volumes lançados anteriormente?
“Esse terceiro volume é meio que um encerramento de um assunto, um ponto final no que eu estou falando. Ele vem para concluir, principalmente através das letras, o assunto do álbum em geral. Então ele vem realmente para concluir, para dar aquele ar de ‘Olha, aqui está a peça completa’. Sonoramente falando, ele traz mais latinidade, mais elementos de funk, de música latina e caribenha… mas de maneira não óbvia. Então não esperem, tipo assim, ouvir funk, sabe? [Risos] Não é nesse lugar. Mas eu quis fazer uma coisa diferente, e essa terceira parte vem para fechar o álbum por completo mesmo. Tanto esteticamente, quanto sonoramente”.
Então você vai trazer elementos de gêneros brasileiros, e não o gênero em si, certo?
“Isso, são elementos do funk, por exemplo, e aí a gente pega e faz outra batida em cima. E transforma em outro tipo de música. Então, quando você escuta, você pensa: ‘Pera aí. Isso é do funk'”!
Seu primeiro álbum de estúdio, “FÚRIA”, foi lançado no ano passado. Agora, você já tem mais tempo de carreira e experiência nessa indústria. Queria saber se você consegue sentir essa maturidade nesse novo trabalho, e como isso se manifesta na prática.
“Ai, ano passado eu estava muito nervosa. A diferença é que eu ainda não fiquei nervosa do jeito que eu estava ano passado… ainda [risos]. Não sei o que vai rolar. E acho que a experiência com certeza faz você perceber e captar e responder diferente de tudo o que está rolando agora. Não que não estejam acontecendo as mesmas coisas do ano passado, de quando lancei o álbum. Mas dessa vez eu consigo entender melhor, entender o que significam as coisas, estratégias de lançamento, onde colocar certas expectativas e onde não colocar. Tem muita coisa que não depende de mim, não interessa quem eu for”.
“Mas eu acho que do ano passado para cá eu aprendi muito, principalmente no palco. Aprendi muito com o meu relacionamento para com as pessoas da internet – apesar de que isso muda o tempo inteiro. Toda hora a internet está mudando, então não tem como pegar e falar: ‘Ah, é assim que se faz’. Acho que, nessa coisa de experiência, eu não sou a mesma pessoa que eu era quando lancei o primeiro álbum. Nossa, sou completamente outra pessoa, principalmente no emocional. Mas eu acho que dessa vez vai ser melhor ainda. Estou animada para começar a fazer os shows desse álbum. Estou ensaiando, e estamos aí. Vamos fazendo”.
Também ia perguntar sobre a turnê – mas sem muitos spoilers, claro!
“Estou ensaiando para a ‘HER MIND TOUR’ oficial, depois de lançar todas as partes. E já estou me preparando, ensaiando muito. Estou nesse ritmo aí já”!
E como você falou anteriormente, esse álbum foi influenciado por uma pesquisa científica. De onde você tira essas inspirações?
“Eu já tinha lançado o ‘FÚRIA’ em janeiro. Daí veio fevereiro, março, e eu já tinha dado várias entrevistas. E, às vezes, as pessoas te perguntam a mesma coisa várias vezes, de várias formas – já que elas não ouviram ainda. Então tem uma hora que você tenta falar do mesmo assunto de maneiras diferentes, para não ficar a mesma coisa, entendeu? E eu já estava cansada de falar sobre o meu corpo. Seja ele meu corpo político, meu corpo social, enfim, estava nesse lugar. Eu pensava: ‘Gente, eu tenho que gerar algum outro assunto para não falar só sobre isso’. Eu comecei a pensar que poderia falar alguma coisa sobre a mente. E fiquei muito com isso na minha cabeça”.
“E aí, como o algoritmo lê a mente da gente, eu estava no TikTok, e veio um vídeo de uma mulher falando sobre essa pesquisa. Fui clicando em vários links e fui achando todos esses artigos. Daí eu achei essa pesquisa dessa mulher, que chama Dra. Bakker, que é belga. E nessa pesquisa ela compara o cérebro de crianças trans com crianças cis. E ela repara que o cérebro emite as mesmas ordens para os corpos. Os cérebros das meninas trans emitem as mesmas frequências, as mesmas ordens, os mesmos sinais que os cérebros das meninas cis emitem para os corpos delas. Então, na minha cabeça, isso me veio assim: ‘Meu Deus do céu, eu sou biologicamente mulher então, está aqui a prova’. Precisei estruturar sobre isso, e linkar isso com a minha mente, essa coisa da pesquisa do cérebro. E então surgiu a estética, e as cores, e uma coisa foi levando a outra. Mas eu juro para você, essa pesquisa caiu em mim”!
Era para ser, né?
“Nossa, eu estava pensando tanto nisso, sobre falar da minha mente. Eu precisava falar da minha mente em um lugar que não negasse a minha identidade, que faz parte de mim também. Não posso simplesmente me afastar disso, não é assim que funciona. Mas também não quero que as pessoas entendam a minha identidade de gênero como o meu todo. E através dessa pesquisa, posso provar que faço parte da natureza, que faço parte do natural, do biológico, do nascer do Sol, do florescer das flores. Eu faço parte disso tudo. Não é que eu tenha um desvio, um distúrbio mental, um problema. Eu não estou no corpo errado. Queria provar que sou natural. Foi nesse caminho que eu fui seguindo”.
Recentemente, você participou da São Paulo Fashion Week, modelando para a LED. Como é a sua relação com a moda e como você busca incorporar isso nos seus projetos musicais?
“Quando eu comecei a trabalhar com audiovisual, eu comecei como modelo, então eu já desfilei bastante. Aí foi meio que através disso, através do visual, que eu pude começar a fazer música também. É uma coisa que sempre vai estar com você, assim. Não tem como não relacionar o jeito que olho as coisas, minha visão de estética, com o que eu passei dentro desse mundo da moda. Não tem como separar isso de mim. E tudo mundo quer estar na moda, né? [Risos] Mas é de extrema importância a influência da moda na minha carreira, e acho que sempre vai ser. Antes, os artistas geralmente lançavam um disco, um álbum, e aí a pessoa comprava e ouvia na casa dela. Hoje em dia, eu preciso me apresentar imageticamente através das redes sociais também. Esse é o jeito que eu tenho de disseminar o meu trabalho, então acho que hoje as coisas estão muito atreladas a isso – à imagem. Acho que não tem como fugir disso”.
O que você deseja que as pessoas sintam ao ouvir o álbum completo?
“Eu queria que as pessoas sentissem vontade de saber mais sobre. Queria que esse álbum despertasse nas pessoas um instinto de pesquisa [risos]. Uma coisa de: ‘O que ela está falando? Deixa eu ir atrás’. Queria que despertasse essa curiosidade de saber sobre o que eu estou falando, tentar entender fora de um lugar que elas acham que é, porque nem eu sabia que isso existia até chegar em mim, e eu vivo isso. Eu não sabia que existiam essas pesquisas. Pesquisas que, inclusive, nos favorecem quando se trata de busca de direitos humanos e sociais. Porque geralmente fazem pesquisas só para poder barrar a gente das coisas, entendeu? Então queria que as pessoas entendessem isso, entendessem minha participação na natureza como corpo transexual. E é isso, o lugar do natural”.
Falando por mim, eu não sabia da existência desse estudo, e estou conhecendo agora. Então tenho certeza que isso vai alcançar mais e mais pessoas.
“Ah, e se quiser saber mais, tem vídeos no Youtube; artigos em inglês, espanhol, português. E também outras pesquisas que se baseiam nessa. Tem muita coisa. E eu li muita coisa para poder encaixar na minha cabeça”!
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