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Entrevista: Hozier conversa sobre influências, novo single e processo criativo

Quem nunca cantou “Take Me To Church”? Com letras que mesclam a religião com temas como a sexualidade, o cantor Hozier está lançando mais um passo em sua carreira, que recebeu seu segundo EP, “Nina Cried Power”, em setembro. Com o lançamento de um novo single, “Movement”, e a previsão de um novo álbum em 2019, o irlandês conversou com o Tracklist sobre parcerias com outros artistas, seu processo criativo e a vontade de tocar no Brasil. Confira!

Por Ana Flávia Sanção

Tracklist: Nas suas letras, nós escutamos várias referências religiosas. Isso é devido à forte cultura católica irlandesa?
Hozier: Em certo grau, às vezes, sim. Assim, há esse discurso natural irlandês. Às vezes procuramos tanto por Deus o tempo todo, que às vezes isso pode ser num sentido de brincadeira. Há esse elemento de busca por algo superior e tem o elemento de brincar com essas ideias. Instituições religiosas, eu diria, são ainda poderosas e afetam na maneira das pessoas se conduzirem e pensarem. Eu acho que apenas brinco com essas ideias.

No seu primeiro álbum você falou sobre sexualidade e liberdade corporal. Você se considera uma pessoa muito engajada em questões sociais?
Não mais do que qualquer outra pessoa é. Sim, há muitas coisas acontecendo ao redor do mundo que afetam a todos nós de diferentes maneiras. E eu apenas acho essas coisas mais interessantes e mais valorosas para se falar, nos dar crédito e nomear e colocar num CD. E há outras coisas que você pode escrever sobre com música pop. Eu acho que, para mim, isso afeta a pessoa e eu acho interessante de escrever isso num nível pessoal. Qualquer experiência pessoal de alguém é uma experiência política. Se você escreve sobre como algo afeta alguém, por exemplo, dificuldade para pagar o aluguel, e você grava aquilo – isso é algo válido para centenas de milhares de pessoas que estão na mesma situação. Para mim, haverá talvez problemas nas músicas ou as músicas serão relacionadas a problemas, mas é tudo sobre como isso nos afeta, como isso afeta nossa experiência com o dia-a-dia.

 

De onde vieram as inspirações para o seu segundo álbum? O que podemos esperar baseado no seu EP ‘Nina Cried Power’?
O álbum estará disponível no início do próximo ano, nos primeiros meses de 2019. Eu acabei de lançar um single e estou ansioso para deixar as pessoas o escutarem. O EP é um exemplo do tipo de trabalho que será encontrado no álbum. Há muitas músicas alegres e músicas tristes. Nos leva a um certo sentimento de fim do mundo. É brincando com essa ideia, brincando com essa ultrajante mudança que está pendurada no ar. Então muitas músicas trazem esse sentimento, por isso foi legal trabalhar com essa ideia num tom de brincadeira. É um exemplo do tipo de tema que você encontrará [no álbum].

Agora falando sobre fãs! Eu sei que você esteve nos Estados Unidos e agora está com uma turnê pela Europa. Mas e e o Brasil? Você planeja vir ao Brasil em breve?
Eu adoraria. Eu realmente adoraria. É um grande ponto na minha lista de coisas que quero fazer próximo ano. Estamos planejando, no momento, a turnê do próximo ano e se eu pudesse eu definitivamente adoraria ir [ao Brasil]. Eu sei que tenho muitos fãs maravilhosos lá e que eles são uma das melhores audiências do mundo – e todo mundo sabe disso. É algo que você escuta de músicos. É genuinamente algo que você escuta os músicos falarem – que a audiência é escandalosamente maravilhosa. Eu realmente adoraria isso. E eu estou vivendo na esperança por enquanto, e eu adoraria estar lá com certeza.

Ao escutar suas músicas conseguimos perceber uma grande influência de rock e soul music. Quais artistas te inspiraram?
Sim! Eu me apaixonei pela voz de Nina Simone quando era uma criança e meio que me abriu para a música. Eu também me apaixonei pela voz de Augusto Ready. Então eu meio que descobri o soul music quando muito jovem. Então August Ready and Sam Cooke e Nina Simone. E também muitos artistas do blues… Helen Wood foi uma grande cantora para mim e Molly Waters e Johnny Hooker. Tudo é meio voltado para artistas do blues e vários do soul, mas também rock clássico como Led Zeppelin e The Beatles. É tudo um mix, eu acho. Ah, e Bille Holiday, eu escutei nada mais do que Billie Holiday.

E quem é seu artista preferido no momento?
Ainda são muitos artistas antigos que eu escuto, como James Brown. Eu gosto de Maggie Rogers, eu acho que ela é uma ótima artista. Eu acho que seria interessante de ver vários dos fantásticos novos talentos, como ver alguém como King Princess. Eu a acho incrível. E então… ah, essa é uma pergunta difícil. Eu ainda escuto muita música antiga. Anderson Paak também, eu escuto um pouco e acho que ele é igualmente fantástico.

Hozier e Mavis Staples em estúdio

Recentemente você lançou o single ‘Nina Cried Power’, com participação de Mavis Staples (cantora de blues e gospel). A letra até fala dela em alguns versos. Como a ideia de colaborar com ela surgiu? Você teve a ideia antes de escrever a música ou foi algo que surgiu depois?
Nós não nunca tínhamos colaborado propriamente antes. Nós tentamos algumas vezes nos encontrar para trabalhar em algo mas infelizmente nunca aconteceu. Mas em ‘Nina Cried Power’, eu precisei chamar Mavis. E Deus, ela é incrível. É uma heroína absoluta. Ela é uma das pessoas mais legais, mais calorosas e mais gentis que eu já conheci, e é uma importante artista. The Staples Singers (banda que levou Mavis Staples ao estrelato) criou toda a poesia e a música na qual o movimento dos direitos civis americanos marchou ao som. Na era dos direitos civis dos Estados Unidos, Mavis Staples é alguém que é um ponto tão central naquele momento e para aquela típica trilha sonora ela foi uma artista importantíssima. Quando você pensa no que os The Staples Singers fizeram – você sabe, movimentos como aquele necessitam que o seu espírito seja capturado pela música em algum ponto.

Há algum outro artista que você gostaria de fazer uma colaboração?
Sim, definitivamente. Sou um grande fã de Tom Weights, que é um cantor e compósitos que teve uma enorme influência sobre mim enquanto eu crescia.  E Thomas Welsh, que eu adoraria, em algum momento, escrever uma canção com ele.

Você lançou um novo single recentemente, chamado ‘Movement’. O que você pode contar a nós sobre ele? Eu escrevi “Movement” na Irlanda, em Wicklow, quando eu estava tirando um tempo fora, quando eu estava morando sozinho. Eu meio que escrevi a música sobre um teclado. E eu acho que a música foi mais ou menos como uma carta de amor ao movimento, eu suponho, ao movimento extra das pessoas. E, mais ainda, havia aquele sentimento de que algo estava no ar novamente, no momento em que eu escrevia a música, de que havia movimento tomando conta de todo o mundo constantemente. Esse sentimento de ser movido com o mundo… Essa é a ideia por trás da música.

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