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CRÍTICA: James Bay aventura-se por novos ares em “Electric Light”

Debaixo de seu longo cabelo e seu chapéu característico, James Bay escondia uma curiosa história de ascensão pela indústria fonográfica. O cantor subitamente surgiu como uma das grandes revelações musicais britânicas com “Chaos And The Calm” e conquistou cada canto do mundo com seu folk grudento e facilmente digerível — que bem justifica o bem-sucedido desempenho de baladas acústicas como “Hold Back The River” e “Let It Go”, alguns dos responsáveis pela sua indicação ao Grammy de “Artista Revelação”, em 2016.

Dado o sucesso de sua estreia em cenários internacionais, muito começou a se questionar acerca dos temidos próximos passos em uma carreira tão nova (e consequentemente tão frágil) quanto a sua. Afinal, apesar de cativante, a sonoridade de Bay já sofria por não ser das mais originais: repentinamente, o inglês via-se disputando espaço ao lado de nomes como Ed Sheeran e Shawn Mendes em um padrão de cantores solo que ainda teria muito a evoluir nos anos seguintes.

“Electric Light”, lançado três anos depois de seu primeiro disco, é um dos claros sinais desse amadurecimento criativo. Em busca de novos ares, James substituiu seu jeito simples de se vestir e performar por um estilo mais despojado, cabelos curtos e, principalmente, uma sonoridade mais poderosa, diversificada e ousada.

O disco representa uma metamorfose artística completa do inglês, que em muito parece ter se influenciado ao longo dos últimos anos. A forte percussão e as potentes linhas de guitarra que percorrem canções como a explosiva “Pink Lemonade” e a introdutória “Wasted On Each Other” encontram um meio-termo entre o rock galante de Prince e o descompromissado gênio de Jack Antonoff, ao mesmo tempo que os vocais de James são muito mais discursados do que cantados — que junto aos sintetizadores, lembram os trabalhos de figuras mais modernas, como LCD Soundsystem e Frank Ocean.

Todos esses fatores se desenrolam a partir da história de um casal, confusamente apresentado em dois interlúdios deslocados em meio à tracklist, que divide as faixas em momentos de separação e reconciliação. Por vezes o cantor disserta sobre as ambiguidades em recomeçar sua relação, bem como se aproveita dos elementos sonoros para ilustrar seus desejos amorosos. O resultado são faixas bem produzidas de tanto potencial comercial quanto seus dois principais hits, como os singles promocionais “Wild Love” e “Us”, e passagens verdadeiramente memoráveis, como as monumentais “In My Head” e “I Found You”, ambas com refrões intensificados por coros grandiosos.

Contudo, enquanto a absorção de tamanhas referências indiquem uma expansão do repertório musical de Bay em uma primeira audição, o britânico parece em boa parte do trabalho estar procurando sua própria identidade artística. “Electric Light” se revela como um grande conjunto de inspirações sonoras que, em faixas isoladas, mostram-se eficientes e inteligentes — mas que como um álbum de estúdio, desgastam a unidade do título em meio à mistura de estilos em que se aventura.

Ao longo dos versos, James demonstra talento o suficiente para repaginar canções de diferentes estilos a fim de conferi-las seu próprio toque, porém não o bastante para apresentar um claro domínio sobre cada uma delas. É possível, por exemplo, imaginar as faixas do disco sendo performadas ainda melhor por outros contemporâneos: “Just For Tonight” soa desde seu início como um sucesso de George Ezra, enquanto “Wanderlust” é quase um ode ao The War On Drugs.

Ainda que não tenha encontrado o caminho exato em direção à originalidade criativa que a indústria clama nos dias de hoje, “Electric Light” não deixa de ser um bom trabalho para uma audição ocasional. O disco é repleto de grandes ideias e destaca a determinação de um artista em abandonar sua zona de conforto e entrar em contato com novas inspirações — afinal, depois de um sucesso de vendas como “Chaos And The Calm”, é satisfatório saber que um artista não se permitiu sucumbir às pressões comerciais que um segundo álbum pode trazer. Todavia, a ambição de James torna-se uma faca de dois gumes à medida que o trabalho perde sua essência ao ingerir variadas influências e distintas personalidades. Felizmente, sua heterogeneidade basta para comprovar ao ouvinte o potencial de James Bay como um dos artistas mais audaciosos de sua geração.


6/10

DÊ UM PLAY EM: “Pink Lemonade”, “Us”, “In My Head”, “I Found You”

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