Uma verdadeira jornada tecnológica, repleta de reflexões e provocações. Essa é a premissa do novo álbum do Bastille, “Give Me The Future”. O quarto álbum de estúdio da banda foi gravado como boa parte dos artistas têm feito atualmente, antes e depois da pandemia. Assim, o grupo traz muito dessa questão para dentro de suas músicas, mas vai além do que poderíamos esperar.
Review de “Give Me The Future”, do Bastille
Já nos primeiros versos da “Distorted Light Beam”, faixa de entrada do álbum, Bastille nos convida a uma realidade virtual. Assim como no clipe, em que as pessoas estão hipnotizadas com o aparelho que as desligam da realidade, o refrão insiste nessa premissa: “Quando estou sonhando, eu posso fazer qualquer coisa. Então, não me acorde”.
Na sequência, temos a feliz “Thelma + Louise” e destaque para a já divulgada “No Bad Days” (a música mais “Bad Blood” (2013) do álbum). Ambas se mantêm nesse mergulho impressionante no mundo tecnológico em que optamos por viver livremente – ou não. Outro ponto interessante são essas referências claras à cultura pop. Como o próprio vocalista já nos contou em entrevista, “Give Me The Future” é uma obra completamente de ficção científica, composta por muitas referências da cultura pop desse gênero.
Tais referências se fazem presentes também na “Back To The Future”, que leva o nome do clássico filme de 1985, “De Volta Para o Futuro”. Até a sua sonoridade, mais dançante, com introdução ao som de saxofones, remete um pouco ao pop dos anos 80. Em “Plug In…”, há uma mistura agradável de violinos, batidas graves, vocal impecável e aquele quê de anos 80 novamente. A faixa “Promisses”, que contém um poema recitado pelo ator Riz Ahmed, resgata a parte mais humana do que a banda tenta nos avisar o álbum inteiro: apesar da tecnologia avançar rapidamente e o mundo estar acabando, o que importa é termos uns aos outros.
O que é bem válido, pois logo na sequência vem “Shut Off The Lights”. Um dos principais singles do “Give Me The Future” foi gravado com o vocal da banda toda. “Eu acho que é meio irônico que, nos tempos de maior isolamento que nós já tivemos, nós acabamos gravando o álbum mais colaborativo”, disse Dan Smith, o vocalista, em entrevista para o Tracklist.
“Stay Awake?” é a faixa mais intensa. Começa com uma voz eletrônica recitando “Stop the world / I want to get off / Lucid dreams / I can’t get enough” (“pare o mundo, eu quero descer; sonhos lúcidos – eu não me canso”) – seu contexto é relacionamentos online, em que a banda se pergunta: “Por que eu me manteria acordado?”. Depois, temos a canção homônima ao álbum, que não poderia ter sido outra melhor para nomear o disco; sua letra traz as inúmeras “vantagens” da realidade virtual, então “Por que iríamos embora?”.
Após essa sequência menos otimista, o álbum volta a se animar com “Club 57”. Uma música leve, com refrão cantarolante e com muitos assobios para acompanhar. Caminhando para o fim de GMTF, há um interlude e fecha com a “Future Holds”. Seu trabalho é encerrar o discurso tecnológico preocupante e caótico com o lado positivo, humanizado: “Quem sabe o que nos aguarda no futuro? Não importa, desde que eu tenha você”.
Por fim, “Give Me The Future” é o resultado de um disco bem sólido. O universo fechado do álbum é único, com um discurso claro: a tecnologia existe, é boa, mas não exagere – ainda precisamos viver a vida real. Somos reféns dessa realidade? Talvez, mas ainda há o lado bom de tudo isso, e eles nos apresentaram muito bem como superar, ainda mais em tempos de pandemia.
Musicalmente, apesar do uso bem presente de sintetizadores e outros arranjos diferentes que nos fazem aliar imediatamente à tecnologia, o Bastille usou bem seu lado orquestral para entregar um disco atual, sem perder a sua essência principal.
Nota: 9,0 / 10
“Give Me The Future” chegou a todas as plataformas digitais nesta sexta-feira, 4 de fevereiro. Lembrando que o Bastille virá ao Brasil para se apresentar no Palco Mundo, do Rock in Rio, no dia 10 de setembro.