Sem dúvidas, o álbum mais controverso de Lady Gaga, ARTPOP, segue reunindo diferentes opiniões, enquanto ele mesmo sofre modificações ao longo dos anos.
Lançado em 2013, o disco teve uma estreia considerada abaixo da média: vendeu cerca de 260 mil cópias, muito menos que o disco anterior da cantora.
No entanto, com o passar dos anos, seus números, popularidade e polêmicas aumentaram, tornando impossível avaliar o disco da mesma maneira que ele foi avaliado em seu lançamento.
Um pouco da Era ARTPOP
Lady Gaga deu início ao seu trabalho com o ARTPOP em 2011, após o lançamento de Born This Way, seu terceiro lançamento de estúdio. Muito era esperado da cantora, que debutou com The Fame e seus hits Just Dance, Paparazzi e Poker Face.
Ela também tinha lançado o EP The Fame Monster, consagrado com Bad Romance, Alejandro e a colaboração com Beyoncé, Telephone, e havia finalizado a Era Born This Way. A Era foi carregada de representatividade e poder em músicas como a homônima, Marry The Night, Judas e You And I.
Vale dizer que, em seu lançamento, o ARTPOP alcançou o primeiro lugar da Billboard 200 dos Estados Unidos.
Ele também foi o nono álbum mais vendido de 2013, contando 2,3 milhões de cópias, e liderou as paradas nacionais de cinco países.
Porém, tanto para a indústria, quanto para Gaga, ambas acostumadas com o alto desempenho da cantora, os números eram decepcionantes. Born This Way, seu álbum anterior, a título de comparação, vendeu dois milhões de cópias em sua primeira semana de estreia, e cinco milhões no ano de seu lançamento.
Com o número de vendas abaixo do esperado e recebendo críticas pelo aspecto experimentativo do álbum, Gaga reclamou sobre a recepção em seu Twitter dias após o lançamento.
Os singles e os clipes do álbum ARTPOP
Applause, Do What U Want e G.U.Y.
Estes foram os singles da Era ARTPOP, que também contou com os singles promocionais Venus e Dope.
Applause, o primeiro a ser lançado, foi destaque nas paradas de vinte países, alcançou o quarto lugar na Billboard 200 e foi um sucesso crítico.
Do What U Want, no entanto, não conseguiu manter o ritmo, chegando ao 13º lugar da parada estadunidense, e G.U.Y. ficou na posição 76 da Billboard.
Os videoclipes do álbum
A diferença de colocação entre os singles era gritante, e o desempenho das músicas não pôde ser ajudado pelos seus respectivos clipes.
Applause, o primeiro single, obteve um bom desempenho e foi abraçado pela crítica. No entanto, os lançamentos seguintes foram uma sucessão de escolhas inconvenientes.
Do What U Want, a opção de Gaga para segundo single, teve algumas imagens vazadas antes de seu lançamento. As cenas, que mostravam Gaga em posições sexuais com um homem em uma maca e no chão de um cômodo, com as paredes do local cobertas por manchetes de tabloides de fofocas, fizeram o público questionar se aquela era a melhor temática para um clipe.
Além disso, o homem que contracenava com a cantora era R Kelly, o qual também dividia a faixa com Gaga e que, na época, respondia por um processo de abuso de menor.
A polêmica causada após o vazamento das imagens do clipe fez com que a cantora desistisse do lançamento. O foco da artista foi, então, direcionado para a produção de G.U.Y. – An ARTPOP Film, um curta metragem de onze minutos contendo a música G.U.Y. e partes das faixas ARTPOP, Venus e MANICURE.
Apesar de não ter sido rejeitado pelo público, tampouco o filme obteve muitas visualizações. Talvez pelas polêmicas anteriores, talvez pela duração do clipe, já que vídeos tão longos não faziam tanto sucesso naquela época.
Limpeza de imagem e negação de Gaga
Após o fim da turnê ArtRave: The Artpop Ball, Lady Gaga também encerrou, definitivamente, a Era ARTPOP.
Depois de ter sofrido a pressão de si mesma, da indústria, dos fãs, de ter sido criticada por suas vendas, suas escolhas de colaboração e clipes, a cantora evitaria ao máximo, nos anos seguintes, tocar no nome do álbum ARTPOP.
O começo, com o álbum Cheek to Cheek
Em 2014, a cantora lançou, em conjunto com Tony Bennett, o álbum Cheek to Cheek. Apesar da grande diversidade de gêneros abrangida por Gaga, o lançamento de um álbum de jazz naquele momento soou, para muitos, como uma tentativa de desligar-se das polêmicas anteriores, o que ela pareceu ter conseguido fazer com sucesso.
O álbum foi aclamado pela crítica, ganhou um Grammy e foi capaz de descansar a imagem já desgastada de Lady Gaga.
No dia 6 de fevereiro de 2017, a cantora apresentou o Halftime Show do Super Bowl, por muitos considerado o topo da carreira de um artista (talvez até por ela, que iniciou sua apresentação com o verso “I’m on the edge“, da sua canção Edge of Glory).
O evento foi a oportunidade de a artista apresentar um compilado de suas músicas de maior sucesso, sem se preocupar com divulgações de singles recentes. Para os fãs, era a chance de ver cada Era de Lady Gaga materializar-se no palco novamente.
No entanto, apesar da expectativa, a cantora ignorou ARTPOP como se não se não fosse um álbum de sua discografia.
O fim da polêmica R Kelly
No início de 2019, no entanto, o lançamento da série documental Surviving R Kelly, que relata os casos de assédio cometidos pelo artista, fez com que Lady Gaga se pronunciasse sobre o assunto e, consequentemente, sua colaboração com o cantor.
Afirmando ter gravado a música e o clipe em um momento obscuro de sua vida, Gaga se compadeceu da dor das vítimas em um depoimento em que citou o abuso sexual que ela própria sofreu.
Seguido de tal pronunciamento, a cantora removeu sua parceria com R Kelly das plataformas digitais, influenciando outros artistas a fazerem o mesmo.
No fim do mesmo ano, no sexto aniversário de lançamento do álbum, os fãs voltaram a esperar que Lady Gaga comentasse algo a respeito do disco. Afinal, as grandes polêmicas pareciam, agora, terem ficado para trás. Mas a cantora não proporcionou aos fãs mais do que eles haviam recebido nos últimos anos.
2020: o álbum ARTPOP hoje
Sem dúvidas, ARTPOP foi um álbum que cresceu e tomou outras e diversas proporções com o passar dos anos.
Seus números, que a princípio pareciam um fracasso, hoje são vistos por muitos como um sucesso, uma vez que vendas físicas são menos comuns atualmente.
As polêmicas da época perderam força com o tempo. Inclusive porque a própria Lady Gaga, se pronunciando a respeito ou fazendo Eras mais organizadas, fez com que criticar aquela época soe, hoje em dia, fora de moda.
A musicalidade do ARTPOP, muito questionada por ser, em 2013, considerada demasiada experimental, com elementos eletrônicos pesados, foi, aos poucos, digerida pelo público. Assim, se tornou quase um ditado, na fanbase, dizer que o álbum foi lançado a frente de seu tempo, pois só agora suas músicas são apreciadas da forma que não foram no lançamento.
Como o álbum ARTPOP influenciou o Chromatica?
Com o lançamento de Chromatica, sexto álbum de estúdio de Lady Gaga, que tem elementos sonoros e estéticos parecidos com o ARTPOP, perceber a importância do quarto álbum de Gaga tornou-se mais fácil.
Chromatica conta com a influência da música eletrônica e com a experimentação, além de visuais chamativos que Gaga não usava desde a Era ARTPOP.
É fácil notar, por exemplo, que, para haver a existência das três interludes do álbum, em um momento em que qualquer faixa que não tenha potencial de ser um sucesso de streams tem sua presença em um disco questionada, foi preciso que Gaga experimentasse, no ARTPOP, também o diferente, o que ninguém fazia na época.
Para que Lady Gaga pudesse reunir, em um mesmo álbum, um nome clássico do rock, Elton John, e o maior grupo feminino de K-pop atual, Blackpink, em faixas de pop pesado, sem dúvidas foi de extrema importância ela não titubear em fazer misturas improváveis, o que, também, muito deve ao ARTPOP.
Enfim, ouvir o Chromatica hoje é saber que Lady Gaga digeriu as críticas que recebeu ao lançar o ARTPOP e soube entregar, em 2020, a experiência que ela queria que seus fãs tivessem vivido em 2013.
O que aprendemos com o ARTPOP?
Para nós, fica o aprendizado de que um disco pode amadurecer tal qual um ser vivo ou qualquer outra obra de arte: os anos passam, modificações são feitas, o mundo muda e o que em uma época foi rejeitado, na atualidade não causa tanta estranheza.
Não sabemos qual é a relação de Gaga com o ARTPOP hoje, se para ela é melhor não tocar nessa ferida ou se esse já é um tema passível de discussões. Mas, entre o público, a tendência é que o álbum continue a crescer e, dividindo opiniões ou não, que seu legado para a música seja cada vez uma certeza maior.