Panic! At The Disco normalmente está nas listas de bandas favoritas daqueles que acompanharam o cenário do pop rock nos anos 2000. A banda de Brendon Urie, inegavelmente, foi referência musical para grande parte da geração mais nova. E, anos depois, “Viva Las Vengeance”, sétimo álbum de estúdio lançado nesta sexta-feira, quer ressuscitar esse mesmo entusiasmo de descoberta.
“Viva Las Vengeance” chegou para os fãs em todas as plataformas de áudio quatro anos após um álbum pouco lembrado, “Pray For The Wicked” (2018). Antes dele, “Too Weird to Live, Too Rare to Die!” (2013) dava indícios de uma fase completamente fora do comum. Mas não é essa a proposta desse novo trabalho. Dessa vez, a banda quer que você volte para o ano de lançamento de “A Fever You Can’t Sweat Out” (2005) e “Pretty. Odd.” (2008), sucessos arrebatadores do grupo.
Talvez seja forçar a barra demais voltar aproximadamente vinte anos, mas “Viva Las Vengeance” chega quase lá, e tenta bastante. Um pouco mais distante do pop chiclete e dos flertes eletrônicos, dessa vez o grupo de Las Vegas dá lugar às suas influências mais orgânicas, com guitarras e baterias bem marcadas, deixando nítidas as referências dos anos 1970 e 1980.
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“Viva Las Vengeance”: Expectativas e conceito do álbum
É importante ter em mente que “Viva Las Vengeance” tem diversas camadas para serem exploradas. Afinal, é um dos primeiros trabalhos de Brendon Urie com a banda após um bom tempo do frontman testar novas experiências como artista solo, no qual até fez uma parceira com Taylor Swift em “ME!”, do álbum “Lover” (2019).
Por isso, “Viva Las Vengeance” parece ter um gostinho diferente. É um pouco mais amargo, mais provocante, e brinca com a famosa canção “Viva Las Vegas”, de Elvis Presley, que tornou-se um mantra para o resto do mundo.
“Essa é uma história sobre crescer em Las Vegas. É sobre amor, fama, burnout e tudo no meio do caminho. [O álbum] É um olhar de volta aos meus 17 anos para quem eu sou hoje, com uma ternura que eu não tinha antes. Eu não percebi que estava fazendo um álbum, e tinha algo no gravador que me mantinha honesto”, explicou o artista.
Sendo assim, o sétimo álbum da banda tem uma dose um pouco maior de drama, e é mais cinemático do que os trabalhos mais recentes. O ar teatral fica mais denso como em trabalhos passados, exceto que, dessa vez, a maturidade na voz de Urie é mais marcante, atingindo notas mais altas do que de costume.
Destaques
Essa comparação não é à toa. Por esse excesso de dramatização ao longo das faixas, há um glamour cênico em “Viva Las Vengeance”. A faixa-título abre o disco e cria imediatamente a atmosfera que vamos encontrar ao longo das próximas cinco faixas. É onde habita, também, um dos principais singles, “Middle of a Breakup”, que teve seu clipe lançado no mês passado. No entanto, quem brilha nessa fase inicial do disco é “Don’t Let The Light Go Out”. Terceira na lista, parece um primo distante ou irmão mais velho do hit “Nine in the Afternoon”.
Para reforçar essa influência teatral, “God Killed Rock and Roll” tem um arranjo que é, inegavelmente, inspirado em “Bohemian Rhapsody”, do Queen. A mensagem chega a ser cômica, considerando que a todo momento alguém diz que o rock está morto. É uma das faixas mais divertidas, assim como as que vêm em seguida: “Say It Louder”, “Sugar Soaker”, “Something About Maggie” e “Sad Clown”. É nessa última que os talentos vocais de Urie, literalmente, sobem um volume a mais e colocam o artista em um novo patamar dentre os artistas de sua geração.
As duas faixas que encerram o disco, “All By Yourself” (que relembra o clássico “All By Myself” de Céline Dion) e “Do It To Death” se afirmam como uma ode à juventude. Podemos dizer que são as faixas que sintetizam o conceito do álbum – tirar proveito dos seus dias mais jovens, e quase morrer por causa disso. Em especial, “Do It To Death” tem um ar de clássico musical, algo entre o rock progressivo e um enredo fantasmagórico.
Conclusão
“Viva Las Vengeance” definitivamente cumpre o propósito de relembrar à indústria o que uma banda de pop rock é capaz de fazer. O novo trabalho do Panic! At The Disco é “barulhento” ao nível suportável, com uma qualidade superior comparado ao disco antecessor. Pode demorar a “pegar no tranco”, mas, quando embarcamos na jornada, o fim é satisfatório.
Com uma produção enxuta, a viagem no tempo não está somente em retomar o pique de trabalhos brilhantes da discografia, mas de render ao público a sensação de estar em uma arena fechada, lotada para um show de bandas clássicas de décadas atrás. Ainda assim, não é um projeto datado por tendências ditadas pelo mercado e ganha a simpatia por ser capaz de surpreender em diversos momentos.
Nota: 8,5/10