Diretamente do bairro paulistano de Perdizes, O Terno daria luz às canções que mudariam em definitivo o patamar de suas carreiras. “Melhor do Que Parece”, o terceiro álbum de estúdio da banda, completa cinco anos de lançamento como um marco em sua trajetória, consagrando a criatividade artística que tornaria o grupo um dos mais importantes nomes da nova geração da música brasileira.
Em 2016, o trio já era conhecido como uma das grandes promessas do rock nacional, construindo sua identidade a partir de discos ricos e autênticos. Com fortes inspirações nos anos 60, “66”, de 2012, e “O Terno”, de 2014, apresentaram ao país os talentos que os integrantes carregavam para compor e criar melodias de acordo com seus dramas e questionamentos pessoais, traduzidos no eco das guitarras e na honestidade das palavras.
“Melhor do Que Parece” é, em todos os sentidos, um passo além. O álbum reflete o amadurecimento musical e pessoal da banda, escancarando ao público sua habilidade única para renovar seu estilo e transformar os sentimentos em um dos melhores discos nacionais dos últimos anos.
Um novo lado d’O Terno
No Estúdio Canoa, onde gravaram o trabalho em sessões diárias de 12 horas por três meses, Tim Bernardes, Guilherme D’Almeida e Gabriel Basile, recém-integrado à banda na época, moldaram aos poucos as músicas sem sequer terem ideia de onde gostariam de chegar. Ao contrário de seu antecessor, que foi melhor planejada pelo grupo antes das sessões, “Melhor do Que Parece” foi sendo idealizado ao longo das gravações, propondo aos músicos maior liberdade para inovar e experimentar.
O resultado é nítido em cada faixa do disco, desde as letras até a sonoridade. A maior parte das canções foram feitas sobre metais e orquestrações, criando uma atmosfera especial que percorre todo o álbum e intensifica ainda mais o peso sentimental das composições. Apesar da profundidade que carregam, as músicas seguem uma linha linear e coesa que revelam a temática central da obra: uma história de amor, dividida em suas várias fases.
Por isso, o trabalho também é separado em diferentes momentos de altos e baixos. “Nó” e “Não Espero Mais”, por exemplo, simbolizam os anseios de conhecer alguém em uma nova fase da vida, que, aos poucos, transformam-se em medos e inseguranças, como é representado em canções como “Depois Que a Dor Passar”, em um som mais contido, e “O Orgulho e o Perdão”, em meio à euforia de um término.
Já a segunda metade do disco é conduzida em um ritmo muito mais calmo e contemplativo, retratando os conflitos após um relacionamento. Desde o clima nostálgico de “Volta” e “Minas Gerais” até a sinceridade cruel de “Deixa Fugir” e “Vamos Assumir”, as faixas parecem representar o amadurecimento pelos quais muitos podem passar por meio de suas experiências pessoais.
O trabalho, porém, não se concentra simplesmente nas idas e vindas de um romance, mas intercala vários outros temas no decorrer das canções. A história se passa em meio aos choques e aos cansaços da vida adulta que também ganham forma ao longo dos versos, esboçando um plano de fundo para as músicas e para os próprios integrantes.
“Melhor do Que Parece”, a faixa final do trabalho, reúne todos os sentimentos em um mesmo canto, encerrando o álbum de forma apoteótica com um olhar otimista sobre a vida que soa ainda mais atual nos dias de hoje — mesmo quando as coisas não parecem nem um pouco melhores do que parecem.
O amadurecimento de “Melhor do Que Parece”
Além das narrativas contadas ao longo da obra, o principal destaque da obra está na maturidade criativa da banda para criar o clima das músicas, usando diferentes instrumentos para dar vida aos sentimentos expressados. O uso de metais, órgãos, harpas, orquestras e tantos outros elementos ajudam a enriquecer ainda mais a sonoridade, distribuindo-os conscientemente em cada canção, sem fazer que nenhum minuto do disco pareça repetitivo.
Em comparação aos dois outros álbuns, a escrita de Tim Bernardes também evoluiu consideravelmente, demonstrando um talento único para descrever suas emoções mais pessoais de maneiras sutis, mas poéticas. O cantor traduz suas experiências em composições universais, uma habilidade que desenvolveria ainda mais em seu disco solo, “Recomeçar” (2017), e no projeto seguinte d’O Terno, “<atrás/além>” (2019).
“Melhor do Que Parece” é um clássico instantâneo na carreira do trio paulistano, marcando um ponto de virada para o grupo. Hoje, O Terno é reconhecido com todos os méritos como uma das principais bandas brasileiras não só pelo público, mas por várias de suas referências, que também enxergam em Tim, Peixe e Biel uma inspiração para se reinventarem e explorarem novos caminhos por meio da música.