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Podcast: De Lá Até Aqui – Silva e os 10 anos de carreira, com Silva e Lucas Silva

Foi em um pequeno quarto em Vitória, Espírito Santo, que tudo começou. O ano era 2011 quando Lúcio, ou como conhecemos, Silva, decidiu que queria ser cantor. Mas sem muitas ambições, ele só queria mesmo produzir algo bom, que agradasse a ele e o ajudasse a expressar o turbilhão de sentimentos que tinha guardado em si. Porém, foi quando essas canções deixaram de ser só dele e começaram a tocar outras vidas ao redor do mundo, que a sua realidade mudou completamente. Agora, uma década depois, os palcos e multidões se tornaram a sua nova casa. Para comemorar, Silva presenteou os fãs e reviveu toda essa trajetória em seu novo disco, “De Lá Até Aqui”.

No novo álbum Silva canta diferentes versões de seu repertório, além da inédita “Pra Te Dizer Que Tô Feliz Assim” e o cover de Ara Ketu, “Amantes”. Além disso, Silva e seu irmão Lucas Silva, que é o seu empresário e que também faz parte das composições de suas músicas, bateram um papo com a nossa equipe no podcast “E Vamos De”, o Lucas Ribeiro (@lucasgcr_) e Giovana Bonfim (@giobonfim). No episódio especial eles contam curiosidades e também histórias de bastidores desses 10 anos de estrada, que você pode conferir exclusivamente no Spotify. Confira a seguir alguns destaques dessa conversa e da trajetória de Silva até aqui.

Leia mais: Conversamos com o Silva sobre o novo álbum “Cinco” e parceria com Anitta; Confira

“De Lá Até Aqui”: Uma década na estrada

Imagem: divulgação

Para quem conheceu o Silva apenas nos últimos anos, talvez não imagine que o “Claridão”, o seu primeiro álbum, é um trabalho repleto de sintetizadores e reverberações. E ainda com aquela pitada de folk/pop que estava rolando na música nacional ali por 2011/2012. No entanto, ainda que distante do som de hoje, o repertório não deixa de refletir a personalidade de Silva. Que naquela época ouvia Grimes, James Blake, Frank Ocean e muito outros artistas que navegavam pelo pop alternativo e r&b. O que torna ainda mais claro da onde a sonoridade desse disco se inspirou, só que um toque brasileiro e único que Silva faz muito bem em seus trabalhos. O disco foi começando a chamar atenção do público e da crítica, já ganhando um espaço ali no cenário mais alternativo.

O disco todo é muito intenso pra gente. 2012 eu escrevi vendo o meu avô no leito de morte dele no hospital. Mas tirando algo bom daquilo. Tipo, o mundo está acabando aqui mas eu não vou desistir. Não vou pular dessa sacada não, sabe?”

Lucas Silva sobre o significado do álbum para eles.

Já em “Vista Pro Mar”, em 2014, o segundo disco navega um pouco mais a fundo no indie pop, mas agora com um toque ainda mais brasileiro e com mais instrumentos orgânicos, e até um pequeno flerte com o r&b. E foi por aqui que as coisas começaram a ganhar uma proporção maior, afinal o primeiro show dessa era já começou no palco do Lollapalooza. O álbum em si teve uma forte intensidade na produção, que foi feito em maior parte do tempo em Portugal, e ainda com aquela pressão do segundo álbum. Mas o resultado agradou cada vez mais o público e a crítica, entrando na lista de melhores de 2014 da Rolling Stone Brasil. Sem contar que o disco tem a brilhante parceria com Fernanda Takai, em “Okinawa”.

“Comecei a ouvir mais João Donato. Comecei a ouvir mais coisas brasileiras dos anos 70 que eu ainda não tinha conhecido tão bem. (…) Aí eu fui ficando mais “brazuca”, querendo ser mais brasileiro e não um primo pobre do James Blake, sabe?”

Silva sobre as inspirações do “Vista Pro Mar”.

Mas foi com a chegada do terceiro disco “Júpiter” que Silva começou a de fato furar a bolha. Escutando o álbum é perceptível o tom de liberdade que é exalado em cada verso e escolha artística dele. Principalmente com composições que falam sobre amor, sexualidade, autodescoberta e se sentir confortável consigo mesmo. Não à toa, foi o mesmo momento em que Silva falou pela primeira vez sobre ser gay, sendo um momento muito marcante em sua vida e carreira. Sem contar que tem uma de suas canções mais sensíveis, “Sou Desse Jeito”. E também o grande hit, e um dos melhores videoclipes do Silva, “Feliz e Ponto”.

“A primeira vez que falei sobre a minha sexualidade foi nesse álbum. Com o clipe de “Feliz e Ponto”, e também “Sou Desse Jeito”, que a gente regravou agora nesse novo álbum. Foi uma música muito forte. O Lucas quando me mostrou essa letra, que ele tava falando sobre mim, eu fiquei muito emocionado.”

Silva sobre a importância de “Júpiter”.

“Silva Canta Marisa” além de ser uma bela homenagem a uma das maiores artistas nacionais, também apresentou Silva a um novo público. E foi a partir desse projeto, que Silva e Lucas estreitaram a relação com Marisa Monte, resultando na inédita “Noturna (Nada De Novo Na Noite)”, e mais tarde se tornaram os seus parceiros de composições, como na música “Totalmente Seu“, do último disco lançado por Marisa, “Portas”.

“Aí fomos eu e Lucas a casa dela. Ela recebeu a gente de uma forma muito carinhosa e a gente ficou um dia inteiro por lá. Então virou uma relação muito legal, sabe? Inclusive, em “Feliz e Ponto” a gente já tinha vontade de chamar Marisa para cantar.”

Silva conta uma das histórias dele e Lucas com Marisa Monte.

Em 2018 o contexto político do Brasil entrava em um dos momentos mais tensos da história. E por isso, o “Brasileiro” não podia deixar de retratar isso. Além de também representar um momento de reinvenção na sonoridade de Silva, que trousse mais instrumentos orgânicos e toda a sua veia da MPB mais clássica, flertando inúmeras vezes com a bossa nova, mas também com o pop. As composições que em alguns momentos mostram um Silva apaixonado, não deixam de também falar sobre a situação do país. Em momentos que referenciam a literatura brasileira e tenta resgatar também esse amor pelo país, que estava sendo roubada, pelo o que infelizmente se tornou o atual presidente.

“Eu considero o nosso disco mais forte, pelo menos pra mim, como autor e escritor, porque ele tem essas outras cargas e questões. Ele vem em um contexto, não só de Silva como artista se firmar como brasileiro, mas de todo mundo precisar se firmar brasileiro e lutar por um país que a gente acredita.”

Lucas sobre o contexto do “Brasileiro”.

E por último, chegamos em “Cinco”, o seu mais recente álbum lançado em 2020. Um disco que para Silva foi uma forma de ajudar a manter a sua sanidade mental. Já que foi criado, em grande parte, no contexto da pandemia e isolamento social. E sonoramente, as inspirações são do Ska, algo bem diferente em sua carreira, que remetem a um lugar muito particular e com um tom proposital de escapismo da realidade. Sem contar que o álbum tem participações especiais de Anitta, Criolo e João Donato.

“O Silva se cansa de ficar em um lugar só e ele precisa desse movimento. E eu acho isso muito rico e admirável. E é zero tradicional, né? Muitos artistas do no nosso mercado acabam se acomodando. (…) As pessoas fazem música pensando muito no momento e não na história.”

Lucas sobre as mudanças ao longo da carreira

Olhando em retrospectiva, Silva continua sendo um importante nome na música brasileira, que se preocupa na longevidade da sua arte. Afinal, a música e a arte são isso, né? Transcender o tempo em que foram criadas, conectar e inspirar as pessoas. É a forma que o artista tem de marcar o mundo. E no fim, Silva tem feito isso ao longo de sua carreira, relatando com todo o sentimentalismo e poesia, o cotidiano e os encontros e desencontros da vida. Mas acima de tudo, em seus 10 anos de estrada Silva expõe a sua verdade. Que pode não ser idêntica a todos, mas que conversa com muitas pessoas, inspiram elas a serem quem são e as ajudam a traduzir e compreender os seus próprios sentimentos. Que muitas vezes nem nós mesmos sabemos falar ou expressar, mas que a música consegue cumprir esse papel perfeitamente. Essa década é só o começo de algo que certamente já está eternizada nas vidas de muitos, ao redor do Brasil e do mundo.

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