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Review: Sucker – Charli XCX

Charli XCX (topo oficial)

Por Felipe Deliberaes

Vamos deixar uma coisa bem clara logo de início: 2014 foi um ano muito bom para a música pop. Desde o surgimento de algumas novas caras como Ariana Grande e Meghan Trainor, passando pelo fortalecimento de nomes já conhecidos como Nicki Minaj e Lana Del Rey, e chegando no furacão Taylor ‘traiu-o-movimento-country-cara’ Swift, o gênero recebeu uma verdadeira injeção de ânimo e espontaneidade – e ela veio em boa hora.

É esse, afinal de contas, o estilo que ainda mantém a indústria musical respirando por aparelhos: os fãs de artistas pop são, com certa tranquilidade, os mais dedicados. Eles compram os singles no iTunes, montam uma base de apoio através de compartilhamentos e hashtags e, não satisfeitos, adquirem o bom e velho CD. O formato segue em decadência e cada vez mais perto de bater as botas; Contudo, se não fossem as milhões de vendas de Taylor, Nicki, Lana e similares, é seguro dizer que o simpático disco flácido já estaria ao lado do VHS e da fita cassete nas listas de “antiguidades das quais sentimos falta”.

No entanto, o melhor álbum pop de 2014 não é um sucesso de vendas. Bem, também não é um fracasso, mas está longe de atingir seu primeiro milhão de cópias – coisa que aquela loirinha que escreveu canções pra todos seus 250 ex-namorados já cansou de fazer. Esse disco também não tem clipes com bundas gigantes e centenas de milhões de visualizações no YouTube. Finalmente, Charli XCX também pode não ser exatamente considerada o maior sex symbol da indústria – mas é, certamente, a revelação mais promissora do ano, já que seu terceiro álbum Sucker troca aparência por atitude e enxerga a concorrência de cima de um pedestal.

Sucker começa com dois gritos de revolta e auto-suficiência – a cartunística faixa-título e a dançante “Break the Rules” – que definem o tom do disco. Aqui, não há baladas românticas: quando Charlotte Aitchison se mostra apaixonada é com um estouro, como em “Boom Clap”; E se abaixa sua guarda certamente leva alguém junto, como na brilhantemente construída “Caught in the Middle”, esbarrando no jazz com um riff de classe. Batidas em 8-bits e vocais em coro tornam o álbum uma experiência incrivelmente divertida, e o ouvinte absorve toda a irreverência de Charli nos quarenta minutos de duração.

Já tendo encontrado sucesso como compositora – assinando “Fancy”, de Iggy Azalea, e “I Love It”, de Icona Pop, entre outras – a britânica demonstra versatilidade quando o assunto é emplacar um clima através da palavra. Na pomposa “London Queen”, ela canta: “indo embora de Holloway / disse “mamãe, isso não é um feriado” / se liga, eu não vou voltar / enquanto não encher o barraco com placas de ouro”, como se saísse borralheira e prometesse voltar gata. Já em “Doing It”, seu tom de voz mais sedutor diz: “esperei tanto só para estar aqui / e agora vamos trazer isso de volta à vida / quero que você saiba como sinto sua falta / e agora te tenho bem a meu lado”. Fica evidente que, apesar das parcerias bem sucedidas, Charli guardou as letras mais pessoais para si.


Entre uma música e outra, Charli canta sobre festas em quartos de amigos, dirigir na contramão e voar em jatinhos privados, fazendo tudo parecer a coisa mais legal do mundo. Levando Sucker como base, percebe-se a sinceridade com que a artista transmite suas experiências – e que ela se diverte em cada segundo do álbum. Eu sou, assumidamente, um crítico do gênero pop, e comprar álbuns, sejam eles físicos ou digitais, não é um dos meus hobbies mais economicamente viáveis – mas da próxima vez que entrar em uma loja e me deparar com um álbum da maior revelação pop do ano, terei bastante prazer em dar aquela for$$inha pra falida indústria fonográfica e levar o CD em questão. Afinal, nunca se sabe… ele pode ser o meu último. Que pelo menos seja bom, certo?

Nota: 8.5/10

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