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Review: Sabrina Carpenter entrega pop divertido e despretensioso em “Short n’ Sweet”

O sexto disco da cantora se estabelece como o ponto de virada de sua carreira, à esteira de sucessos como “Espresso” e “Please Please Please”

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Foto: Divulgação

Aos milhares de ouvintes que conheceram Sabrina Carpenter pelo sucesso global de “Espresso”, é até difícil explicar que “Short n’ Sweet” já seja o seu sexto álbum de estúdio. Nos últimos meses, a cantora viu seus números crescerem de maneira astronômica graças ao single, que a consolidou como uma das principais representantes de uma nova geração de artistas que tem conquistado cada vez mais espaço no pop.

Apesar de ser conhecida desde os seus tempos de Disney e já ter tantos outros trabalhos em sua discografia, “Short n’ Sweet” se tornou um caso à parte para Sabrina. O pesado investimento em streaming e divulgação e a atenção de milhares de ouvintes rapidamente fizeram de seu novo disco o seu mais aguardado lançamento – e um passo definitivo para a sua ascensão artística.

Assim sendo, “Short n’ Sweet” é o trabalho comercial que muitos esperavam, mas também sabe como exaltar a forte personalidade da artista que a transformou em um símbolo tão marcante do pop atual. O disco se estabelece como um marco para a carreira de Sabrina Carpenter e a eleva entre as principais cantoras da atualidade, um caminho que parecia apenas questão de tempo nos últimos anos.

“Short n’ Sweet” traz símbolo de um novo velho pop

De alguns anos para cá, a nova geração do pop tem deixado a sua digital no cenário mainstream com o toque de humor e leveza que os artistas mais jovens trouxeram para a indústria, recuperando aos poucos o frescor de épocas passadas. Sabrina Carpenter tem sido um dos principais símbolos dessa tendência, e a repercussão de músicas como “Espresso” e “Please Please Please” reforça o estreito diálogo que a artista mantém com o seu público e também fora dele.

Também foi assim que a cantora tem construído a sua identidade artística nos últimos anos: um pop divertido e despretensioso, mas muito confiante. O lançamento de “Emails I Can’t Send” (2022) foi uma ruptura com os seus primórdios de Disney, e apresentou ao mundo uma cantora com uma personalidade muito maior do que as telas mostravam. Hits como “Nonsense”, “Feather” e “Read Your Mind” destacaram a sua destreza em cantar sobre os flertes e as desilusões de um romance adolescente sobre produções cativantes, e evidenciaram um forte potencial para o surgimento de uma nova estrela.

Não é surpresa, portanto, que Sabrina soube como surfar na onda que tomou o verão do hemisfério norte de 2024. Em meio ao crescimento de músicas mais satíricas no mainstream, representado por artistas como Chappell Roan, Charli XCX e Tinashe, suas canções caíram como uma luva para as paradas musicais, uma visibilidade que se converteu no lançamento do que deve ser seu trabalho mais bem-sucedido até aqui.

“Short n’ Sweet” segue o mesmo caminho, e assim se mostra um disco divertido na maior parte do tempo. O pop rock de Taste dá início aos trabalhos com uma sonoridade extremamente dançante, que destaca todo o talento da cantora em criar hits vibrantes. Nas faixas seguintes, Carpenter alterna entre influências de synth pop, R&B e country, conforme canta sobre diferentes recortes de sua vida amorosa, desde desencontros mais doloridos até histórias mais engraçadas.

Uma das grandes artimanhas da música pop nos tempos recentes tem sido transformar histórias pessoais em uma porta de entrada para os trabalhos ao despertar a curiosidade do público. Sabrina volta a fazer isso em “Short n’ Sweet”, com relatos detalhados e indiretas bastante diretas ao suposto triângulo amoroso que viveu entre Shawn Mendes e Camila Cabello durante os anos de 2022 e 2023 —  uma história que poucos imaginavam que receberia tamanho destaque no disco.

“Taste” e “Coincidence” são as faixas mais explícitas sobre o caso, com vários versos que parecem conectar os pontos sobre os desencontros do trio. Esteja Sabrina cantando sobre Shawn e Camila ou não, a dedicação dos fãs em investigar os versos e ligá-los às vidas pessoais de cada um já serve muito à divulgação do álbum de forma orgânica.

Mais do que cantar sobre relacionamentos e vivências amorosas, entretanto, a artista também assume a sua versão mais autoconfiante em “Short n’ Sweet”. Sabrina se apresenta como a cantora descompromissada, sensual e disputada em grande parte das faixas, o que rende muitos versos engraçados e supostamente inocentes, mas também outros mais provocativos — um jogo de carisma que se tornou uma de suas marcas registradas.

Foto: Divulgação

Um dos principais destaques da obra, “Bed Chem” é um exemplo perfeito de como a personalidade da artista é traduzida à sua música. A cantora conta a história de uma paixonite e os desejos sexuais que tem sobre ele, com duplas interpretações que mantêm a sua pose intacta. Nem mesmo nas composições mais pessoais, como em “Coincidence” e “Slim Pickins”, Sabrina perde a postura irônica que moldou a sua figura; de forma sutil, as canções são acompanhadas por risadas e piadas que dão um ar leve e bem-humorado às letras. 

Uma sonoridade cativante, mas linear

A produção de “Short n’ Sweet” aposta em grandes nomes do pop para criar uma sonoridade mais atrativa para o grande público. Com vários sucessos do One Direction em seus currículos, Julian Bunetta e John Ryan voltam a assinar o desenvolvimento do novo disco após trabalharem juntos em “Emails I Can’t Send”, dando um retoque à maior parte das faixas. Ian Kirkpatrick também é um dos nomes da ficha técnica, depois de ter trabalhado com artistas como Dua Lipa, Selena Gomez e Jason Derulo.

Ao lado do trio, Jack Antonoff, um dos nomes mais concorridos da atualidade, também participou da construção do disco e deixa a sua marca bem evidente nas faixas em que foi envolvido — para o bem e para o mal. Enquanto o intimismo de músicas como “Sharpest Tool” ganha ainda mais ênfase sob sua produção, outras canções parecem perder sua autenticidade quando se levam pela fórmula oitentista de Antonoff e pelo excesso de sintetizadores que tem marcado os seus últimos trabalhos, como é o caso de “Please Please Please”.

Por vezes, inclusive, “Short n’ Sweet” pode soar bastante unidimensional. Apesar de começar em alta potência, o ritmo desacelera no decorrer do álbum com faixas mais lentas, e o repertório não varia o suficiente para dar um senso de novidade ao ouvinte. Salvo algumas exceções, o disco demonstra dificuldades em encontrar consistência ao longo de seus 36 minutos de duração, em meio a altos e baixos muito evidentes.

Um dos pontos fora da curva é “Juno“, talvez a melhor música de todo o álbum. Feita em referência ao filme de comédia de 2007, Carpenter entrega uma das performances mais emblemáticas do disco, que encanta junto à sua sonoridade extrovertida e dançante. “Don’t Smile” encerra o trabalho em um tom mais comedido e emocional que a maioria das demais músicas, mas igualmente contagiante.

Em suma, “Short n’ Sweet” não é um álbum exatamente inovador em nenhum sentido, e tampouco se propõe a ser. A cantora faz de seu carisma e de sua personalidade os principais trampolins para conquistar um espaço que, por anos, parecia inevitável até que a sua música chegasse lá. Ainda que não repita o mesmo primor de seu antecessor e possa soar menos surpreendente que outras obras, o disco reforça justamente as características mais marcantes de Sabrina —  algo mais do que suficiente para tomar o pop pelos próximos anos.

Nota: 7 / 10