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Review: Ghost Stories – Coldplay

Coldplay
Com o passar das décadas e o envelhecer dos clássicos, menos e menos artistas vêm pra ficar. O novo milênio trouxe um número limitado de músicos com ‘staying power’. Adele? Katy Perry? The Black Keys? Difícil dizer quais vão ter seus sucessos tocados nas rádios daqui a vinte anos (confio na sobrevivência do formato até lá!). Bom, isso até é bastante tempo. Vamos encurtar um pouco: há dez anos, uma das bandas recorrentes no rádio, na TV, em grandes festivais e no MP3 da minha mãe é o Coldplay. O piano hipnotizante de “Clocks” e a vibrância contida de “Speed of Sound” foram alguns dos elementos que catapultaram o grupo às rádios de Top 40 e programas da MTV, mesmo sendo provenientes de uma escola bem diferente das que esses formatos estavam acostumados.

Embora U2 e Radiohead, algumas das influências óbvias da banda, sejam nomes colossais por si mesmos, falta a eles a sensibilidade pop de Chris Martin e companhia: a facilidade em transitar do arena rock para o post-britpop, e deste para o mais puro pop melódico. Eu, particularmente, não fui fã deste último. “Paradise” não me tocou como outros singles dos três primeiros álbuns. Essa música em questão sugeria uma reflexão bem diferente da de “God Put a Smile Upon Your Face”: eram mais cores, mais vibrações, mais positividade. E o mainstream está cheio de positividade. O que fazia o Coldplay destoar de seus companheiros do topo da Billboard era essa sutileza. E Ghost Stories, o novo disco dos britânicos, traz consigo algumas das canções mais sutis de suas carreiras.

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Abrindo com “Always in my Head”, minimalista e sonhadora ao mesmo tempo, o quarteto demonstra ser, no seu sexto álbum de estúdio, mais ‘pé no chão’ do que demonstrou ao longo dos últimos cinco ou seis anos. “Magic” vê Chris Martin experimentar com o R’n’B e já grudar um refrão na sua cabeça logo na segunda música. As próximas faixas apagam, como num verdadeiro passo de mágica, quaisquer rastros de cores e unicórnios deixados pelos últimos álbuns da banda. “Ink” te convida a dançar à luz de velas num deserto do Oriente Médio, e “True Love” mostra o lado sentimental de um grupo de simples humanos, harmonizando e criando uma balada frágil – tão frágil e humana quanto um adeus a um ‘amor verdadeiro’ que não durou mais que algumas semanas.

“Another’s Arms” deixa tudo ainda mais escuro e sutil; É uma música criada pra ser ouvida ou a sós, num quarto escuro, ou com a companhia mais confortável possível, num quarto escuro. Já “Oceans” é a última parada, a complacência de um fim de noite, o fechar de olhos antes de um sonho. E um sonho bastante colorido: “A Sky Full of Stars” traz os unicórnios e cores e vibrações de volta. Produzida pelo renomado artista dance Avicii, a música parece mais um trabalho dele que do Coldplay. E, mesmo assim, faz todo o sentido ela estar no álbum e ser a faixa que quebra o silêncio e o assombro característicos das outras músicas.


Esse é outro ponto a favor de Ghost Stories: é muito mais ‘álbum’ que seus antecessores recentes. Existe uma ponte imaginária ligando cada ‘trecho’ da obra, nunca deixando o ouvinte sem direção. “O” contrasta com toda a agitação de “A Sky Full of Stars” e fecha o disco da forma que começou: sutil, sincero, humano. As letras falam sobre despedidas e decepções amorosas, e às vezes podem soar simples demais em meio ao ambiente proporcionado pela música – ou até mesmo encaixar perfeitamente na simplicidade da maioria das faixas.

Ghost Stories é, como li por aí, um álbum “pra quando não houver mais nada a se dizer”. No cenário amplo das coisas, contudo, seus criadores disseram em alto e bom som “dane-se, nós somos a maior banda britânica dos últimos anos e fazemos o que bem quisermos”, e criaram algo que praticamente se opõe aos seus trabalhos recentes, demonstrando a diversidade de influências e conhecimento que os quatro ingleses ostentam. Embora não seja o álbum para formar uma base mais ampla de fãs, dada a falta de apelo popular, é tudo o que eles queriam fazer no momento – e isso, com certeza, é o suficiente para erguer mais um pilar desse império chamado Coldplay.

Nota: 7/10

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