in , , ,

REVIEW: All Time Low – Future Hearts

AllTimeLow
A fórmula do sucesso para uma banda independente nos anos 2000 nunca foi segredo: divulgação na internet e muita turnê. Fazer amigos ajuda, apoiar causas nobres ajuda, conquistar o respeito da cena e solidificar-se nela é fundamental. Mas ninguém nunca deve começar a escrever música com o objetivo de ser famoso – você tem mais chances de virar um rostinho popular fazendo vídeos bem editados no YouTube. A mais acessível das artes deve ser sempre um meio de expressão… de desafogar a mente, o coração e os olhos.

Mas o auge é quando a sua arte ressona com um público amplo e se transforma no seu trabalho diário, botando comida na sua mesa e pagando as suas noitadas. O All Time Low é um grupo de quatro amigos que cresceram na vida há cerca de oito anos, escrevendo canções sobre romances e festas (ambos temas testados e aprovados pela cultura pop) e se diferenciando através da familiaridade: Alex Gaskarth (vocal/guitarra), Jack Barakat (guitarra), Zack Merrick (baixo) e Rian Dawson (bateria) demonstraram, desde a época em que luzes neon e cabelos escorridos eram moda, ser “gente como a gente”. E como nós, eles tiveram de lutar por tudo o que conquistaram; O sexto álbum de estúdio da banda, “Future Hearts“, traz a arte mais refinada e “de coração” que o grupo é capaz de fazer. É a coroação de anos de trabalho, humildade e doses de despreparo – afinal, pra ser gente como a gente, é preciso fazer previsões infundadas e tomar decisões equivocadas.

Enquanto o disco anterior, “Don’t Panic” (2012) foi a redenção do quarteto após uma dessas decisões erradas – “Dirty Work”, de 2011, é uma coleção medíocre de músicas influenciadas pela grande gravadora a qual se submeteram – pode-se afirmar que “Future Hearts” combina as raízes punk da cena underground com as harmonias pop aperfeiçoadas pelas experiências do grupo na selva do capitalismo que move a indústria musical. No álbum estão presentes tanto o pop rock mais bem executado quanto o pop punk mais acessível do momento, além de números pop antes inimagináveis no catálogo do grupo. Abrindo com um breve hino na forma de “Satellite” e transitando pra dose de espontaneidade de “Kicking and Screaming”, fica aparente logo de início que os quatro jovens adultos/adultos jovens de Baltimore nunca estiveram tão confortáveis e confiantes quanto em 2015. Pudera: se eu, como artista independente, alcançasse o feito de tocar pra mais de 12 mil pessoas em outro continente, acordaria no dia seguinte me sentindo quase imortal.


Os singles “Something’s Gotta Give” e “Kids in the Dark” são dois exemplos da qualidade melódica que o All Time Low é capaz de executar. A primeira segue uma linha simples de guitarra que explode no refrão com um “oh!” pronto para ser gritado por milhares em shows, enquanto a segunda revela um lirismo que é contado, cantado e exclamado em partes iguais por trás de um ritmo dançante. “Missing You” é o inevitável terceiro single do disco, canalizando o “Hey Soul Sister” interior do grupo em um violão e frases motivacionais, como os “segure firme!” e “não perca sua motivação!” cantados por Gaskarth no refrão. É o tipo de pop que eles já tinham a capacidade de fazer quatro anos atrás, em “Dirty Work” – desta vez, no entanto, não foi preciso lidar com a interferência de superiores dando pitacos e corrompendo o produto final. O All Time Low trabalha melhor quando trabalha sozinho.

A sétima faixa, “Cinderblock Garden”, é uma das melhores da carreira da banda, variando de tom entre os versos e o refrão com uma ótima performance vocal. O álbum perde um pouco a passada com canções como “Don’t You Go” e “Bail Me Out” que, embora musicalmente divertidas, contam histórias bobas que remetem à fase adolescente do grupo. Estão longe de serem ruins, mas se mostram pouco coesas dado o contexto mais maduro do álbum; “Bail Me Out”, no entanto, apresenta uma das linhas de baixo mais interessantes de Merrick e uma participação (pouco inspirada) de Joel Madden. “Dancing With a Wolf” retoma a pegada com batidas firmes e riffs precisos, e é seguida por talvez a canção mais experimental da carreira do quarteto: a eletrônica “The Edge of Tonight”, remetendo aos anos 80 com sintetizadores e uma melodia atmosférica que não ficaria tão deslocada em discos de cantoras pop daquela época.

Mas nada do que a banda fez nas onze primeiras faixas de “Future Hearts” ou sequer no resto de sua carreira se mostra tão íntegro, intenso e afirmativo quanto o número derradeiro. “Old Scars/Future Hearts” reúne todos os elementos dominados pelo grupo, os acertos e erros ao longo dos tempos, e cria uma das melhores canções de encerramento do ano. Seja pela instrumentação cirúrgica com power chords viscerais nos versos e uma levada pop punk clássica nos refrões, seja pela paixão na voz de Gaskarth, seja pelo brado de independência em “eu não vou desaparecer / estou perdido dentro dessa neblina interminável da vida / mas essa vida é minha para viver”, é um resumo tanto da trajetória da banda quanto das vidas dos integrantes e de tantos jovens que encontrarão em “Old Scars/Future Hearts” uma motivação a mais para encarar, de peito aberto, seus iminentes desafios.

Importante notar, no entanto, que o lirismo é o ponto fraco do disco. As músicas escritas pela banda (grande parte em parceria com seu produtor John Feldmann) estão mais relacionáveis do que nunca, mas algumas letras vagam em um espaço criativo limitado e acabam arrastando por três minutos o que poderia ser contado em 15 segundos, como é o caso de “Something’s Gotta Give”. Também não há uma letra individual tão cativante ou interessante quanto as de “So Long, Soldier” ou “Oh, Calamity!”, do disco anterior: histórias separadas como estas duas foram trocadas por diversas situações corriqueiras e dilemas da juventude. Fica a esperança de que, beirando os 30 anos, o próximo álbum do grupo diversifique os assuntos abordados. Sugestão: casamento, filhos e contas a pagar! Bom, eles ainda tem tempo pra pensar…

“Future Hearts” é, objetivamente, o melhor álbum da banda, e tem todas as armas necessárias para alçá-los ao mainstream. A probabilidade de isso acontecer, contudo, depende de diversos fatores, como a estratégia de divulgação adotada pela gravadora Hopeless e a receptividade do rádio – o álbum “Nothing Personal”, de 2009, possuía tantos trunfos quanto este, mas chegou um ou dois anos tarde demais para agradar as principais emissoras, que começavam a trocar o pop rock colorido pelo indie folk de Mumford & Sons e Jake Bugg. Aqui, porém, temos melodias para todos os gostos; Seja com o pop de “Missing You”, o pop rock de “Cinderblock Garden” ou o pop punk de “Old Scars/Future Hearts”, o All Time Low nunca esteve tão perto de estampar seus rostos em outdoors e pôsteres de lojas mundo afora. Se não acontecer, tudo bem: a banda independente mais bem sucedida dos últimos tempos dormirá suas próximas noites com a certeza de que seu melhor disco veio inteiramente do coração.

Nota: 8/10

Um comentário

Leave a Reply

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *