Eles chegaram até a final do EMA, fizeram turnê gringa esse ano e se mantêm no cenário independente com a mente a cada dia mais megalomaníaca. Com uma nova formação, os rapazes da banda Fresno chegam às prateleiras e lojas online com uma maturidade estridente e temáticas bem engajadas.
Depois de se isolarem num sítio por uma semana, Mario, Lucas, Vavo, os novatos Guerra e Tom Vicentini (membro não oficial), gravaram as 5 faixas que compõe o EP. Tudo isso foi registrado em vídeo e virou documentário na TV fechada. Nesse clima, o 11º trabalho dos rapazes, “Eu Sou a Maré Viva”, traz uma abordagem vista de outra ótica, uma posição mais crítica sobre temas maduros, acompanhada de uma notável experiência empírica passada através das novas composições.
Se em Infinito estávamos todos pasmos com a nova presença de teclado, dessa vez podemos destacar a nova timbragem e pegada da bateria e toda a produção do EP, assinada pelo próprio Lucas Silveira. Outro fator extremamente importante pra essa roupagem (que pode vir a ser vanguardista e caracterizar o rock nacional nos anos 10) são as influências claras e a forma sagaz como elas foram aplicadas. As percussões à la Imagine Dragons, uns riffs, delays e uns tímidos metais próximos de 30 Seconds to Mars, aquela pegada de macaco do Letlive e uma pitada bem leve de Anberlin, que é uma das bandas preferidas do Lucas.
Os toques finais de arranjo vêm assinados pelo Lucas Lima, que já deu seu ar da graça nos dois últimos trabalhos dos rapazes com um pouco mais de evidência que nesse (talvez por toda aquela questão de tornar o show “menos playback e mais make yourself”). Infelizmente, observei que a síndrome de “baixofobia” assolou esse trabalho e, com a tímida presença do jovem Vicentini, se você quiser ouvir um groove legal vai ter que garimpar teu equalizador.
A Fresno criou o hábito de usar a primeira música pra preparar o terreno dos ouvintes do álbum. Foi assim, por exemplo, com Crocodilia no “Cemitério” ou com Homem ao Mar em “Infinito”. Dessa vez, ao dar o play você dá de cara com À Prova de Balas. A faixa consegue ser uma introdução e um resumão do EP todo ao mesmo tempo. Aqui fica nítida a referência de 30 Seconds to Mars nos adornos e arranjo. À Prova de Balas apresenta uma bateria “viva” (em relação à tendência de baterias eletrônicas que vem se consolidado nessa década), uns rifs tendendo pro breakdown (quase, quase…) e a mensagem das Plêiades no final, que pode muito bem virar um tamborzaço nos shows (aproveitando a tendência das influências);
Manifesto traz consigo o peso dos nomes “Lenine” e “Emicida”. Confesso que quando li a letra há tempos não conseguia visualizar esse encaixe melódico tão bem casado, mas depois de pronta, desafio qualquer banda desse Brasilzão de meu Deus a fazer uma música tão grandiosa quanto essa em 2014. As vozes e sotaques de Lucas e Lenine se intercalam e se sobrepõem de forma genial, além do Rap do Emicida que soube encaixar as duas vertentes com sua letra sem soar como algo já feito (sim, linkin park, e uns caras brasileiros que tentaram fazer igual que prefiro nem citar);
Em Eu Sou a Maré Viva a banda escolheu ir por um caminho mais simplista, onde a diferença melódica se dá através da voz. Ao vivo, em particular, vai funcionar muito melhor com a experiência de troca de instrumentos entre os integrantes (Vavo e Mario na bateria e Guerra na guitarra);
As referências gritam em O Único A Perder, onde percebe-se uma mistura de City Eletric do Anberlin com uma pegada meio 30 Seconds que enaltecem esse clima de “esperança” e auto ajuda da faixa. Segundo o próprio Lucas, a faixa fala sobre suicídio, sobre dar uma chance pra vida. O roteiro do clipe já ficou pronto na minha cabeça. Ouso dizer que a faixa é uma continuação de “Sobreviver e Acreditar”;
Por último, mas não menos importante –até mais importante, talvez- temos a ousada Icarus, faixa originada de uma brincadeira nas gravações. O riff prog rock embala a letra baseada na história do mito de Icarus (aquele do labirinto) e a mensagem ambígua que fica é bem clara: Não existe prisão. É um grito do rock contemporâneo contra toda opressão física ou mental. A pegada de semi música nordestina no finalzinho foi sagaz e bem bolada. Senti falta de um solo mais sujo, voltado pro hard rock… Acho que não seria pedir demais.
Há quem diga que o EP traz críticas ao atual mercado da música, mas na verdade esse tipo de crítica já vem sendo feita pela banda desde “Revanche” (sendo evidenciada no independente “Cemitério das Boas Intenções”), e não se torna nada surpreendente encontrar mensagens implícitas e explicitas em todas as músicas que nem cabe a mim citar aqui.
Em suma, Eu Sou a Maré Viva é um EP genial e inovador. Não só boas referências captadas de uma forma bem sintetizada que a banda soube agregar sem “manchar” o som, como também um trunfo ousado e criativo para o rock nacional.
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Disponível também no iTunes, FresnoShop, ou na loja física mais próxima.
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