O valor da assinatura da Netflix vem impactando o bolso (e a percepção) dos apaixonados por séries e filmes da plataforma. O aumento foi anunciado no final do mês de julho, sendo equivalente a 21,8% em comparação aos preços anteriores. A discussão foi comentada nas redes sociais, com comparativos a outras plataformas e, principalmente, debates sobre o catálogo justificar (ou não) esse reajuste. E, agora que a plataforma entra no “clube” dos maiores estúdios de Hollywood, o cenário parece mais entendível.
A problemática está em que, num momento em que estão sendo oferecidos preços mais baixos (sem declínio na qualidade de exibição). Em especial, a HBO Max, recém-lançada no país, surgiu com um preço diferenciado para conquistar novos assinantes – 50% de desconto definitivo, sendo a única exigência o mantimento da assinatura sem cancelamentos no futuro.
A Netflix não costuma divulgar o número de assinantes totais nos locais onde está presente, mas é possível ter uma ideia pela popularidade nas redes sociais e as referências entre o público jovem-adulto (entre 18 e 35 anos), principalmente. Em 2019, a plataforma totalizava uma média de 158 milhões de assinantes pelo mundo, sendo 10 milhões somente no Brasil. Estima-se que, com essa margem, a plataforma já ultrapassa a média de assinantes da TV paga no país.
Netflix finalmente chega em Hollywood
O fato é que, ao longo dos anos, a Netflix mereceu a fama que ganhou pelo seu padrão de qualidade e investimento independente para séries e longa-metragens. Tudo começou em 2013, com o lançamento de “House of Cards”, a primeira produção original que ganhou o Emmy e o Globo de Ouro (com a atriz Robin Wright), principais premiações da televisão.
A partir disso, foi uma verdadeira sequência de sucessos. “Orange is the New Black” (2013), “Stranger Things” (2016), “BoJack Horseman” (2014) e “The Crown” (2016) enfeitam um catálogo bem acertado, com elencos de qualidade, roteiros bem desenhados e direção impecáveis.
No âmbito do cinema, a plataforma também deu um salto em premiações, batendo de frente com grandes estúdios de Hollywood. Entre 2015 e 2021, a Netflix liderou entre as principais indicações, apostas do ano, e no número de títulos produzidos – e planeja repetir a dose em 2022.
“Roma” (2014), o primeiro filme da plataforma indicado ao Oscar, fez florescer a ambição pela conquista mais cobiçada do mundo cinematográfico. E, dentre os mais populares, estão “História de Um Casamento” (2019), “O Irlandês” (2019) e “Os 7 de Chicago” (2020), além de documentários como “Professor Polvo” (2020), “A 13ª Emenda” (2016) e o brasileiro “Democracia em Vertigem” (2019).
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Preço da assinatura é reflexo dos investimentos?
O fato de se pagar uma média de 55 reais para obter a melhor experiência para assistir TV é algo que divide opiniões. Dois argumentos são muito fortes para ser contra ou a favor da medida.
A primeira é que, pelo alto valor, apaga-se a premissa que foi a coluna vertebral da plataforma desde o seu lançamento (aqui no Brasil, em setembro de 2011): ser um veículo acessível para o consumo da cultura (tanto nacional, quanto exterior). Com o aumento do preço dos cinemas brasileiros, o streaming é a maneira mais fácil, barata e confortável para se divertir.
A Netflix conquistou os brasileiros por possuir em seu catálogo títulos que, fora da TV à cabo, só poderiam ser consumidas por métodos não-convencionais, como “Friends” (1994), “Breaking Bad” (2008), “The Office” (2005) e “How I Met Your Mother” (2005). Ao longo desses 10 anos no Brasil, houve muita volatilidade, com a retirada de alguns, dando o lugar que conhecemos às produções originais.
O segundo argumento é que, com o aumento dessas produções, aumenta-se o custo de manter a plataforma no ar. Para se ter uma ideia, somente em 2018 a Netflix anunciou um budget de 13 bilhões de dólares somente em conteúdos originais (uma estimativa de 700 títulos somente naquele ano). Essa argumentação também leva ao entendimento de que esse sistema é retroalimentado: com maior investimento, mais qualidade, e para mais qualidade, busca-se maior investimento.
Após anos buscando espaço no mercado, a Netflix finalmente não é mais desdenhada pela elite do cinema em Hollywood. Agora, ela integra a Alliance of Motion Picture and Television Producers. E, com isso, entra no “hall da fama” ao lado de outras 350 produtoras norte-americanas. Ao seu lado, caminham outras plataformas que também vêm fazendo barulho (e que, graças à Netflix, ganharam um lugar à mesa): Amazon Prime Video e AppleTV.
E, se esse investimento é caro (porque fatalmente pesa no bolso que ganha um salário mínimo) para os brasileiros, pode-se dizer que, pelo menos, a trajetória da Netflix incentivou outras a expandirem seus negócios. Não à toa, o ecossistema de plataformas no Brasil obteve uma melhora significativa, com opções de escolha que vão da Globoplay à Disney+, passando por outras bastante promissoras, como o Hulu e, agora, o Crunchyroll (que promete crescer, agora que foi comprado pela Sony).
De maneira resumida, essa é a melhor época para ser um assinante de streaming – enquanto não são criados monopólios ou oligopólios de plataformas, como resultado, ainda somos entregues com a melhor qualidade e originalidade que um dia foi somente dos cinemas.