No final de 2021, a Lagum lançou seu terceiro álbum de estúdio, o ‘MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui)’. O disco foi lançado pouco mais de um ano após a morte de Tio Wilson, baterista da banda, e serviu como uma homenagem, pois foi o último em que ele participou da criação e produção.
Em um bate-papo descontraído, a Lagum concedeu uma entrevista ao Tracklist e falou sobre o novo álbum, responsabilidades de serem uma influência ao público jovem, turnê e a expectativa de subir no palco do Lollapalooza 2022.
Entrevista com Lagum
Tracklist: O álbum “Memórias (de onde eu nunca fui)” traz em suas letras um enredo sobre as experiências já vividas, que vão moldando as próximas vivências, mas também traz um ar descoberta, por conta própria, de como a vida é. Como foi o processo criativo do álbum considerando que ele nasceu justamente em um período que estávamos reclusos por conta da pandemia?
Pedro Calais [vocalista]: Na verdade, a gente começou a produção do álbum em 2019. Quando vamos entrar para o estúdio, pegamos músicas que já temos há muito tempo. Tem músicas (no álbum) que a gente já tem desde 2017, como é o caso de “Descobridor”, outras de 2018 e a gente vai levando isso e acumulando. De fato, esse álbum ele descreve as vivências que a gente teve na época.
Em 2019, estávamos vivendo um dos momentos áureos da nossa carreira: tínhamos lançado nosso segundo álbum, fazendo turnê pelo Brasil inteiro e pela Europa. Tudo aquilo que tava passando na nossa cabeça foi relatado. Um exemplo é a música que abre o disco, “Ninguém Me Ensinou”, que fala basicamente sobre você ser jovem, ter mil planos, saúde, disposição, mas, ao mesmo tempo, alguma coisa parece que não está certo e você precisa ficar se lembrando de onde você veio, de quem você é, e se autoafirmando para conseguir ter forças para fazer as coisas que você tem que precisa fazer.
A Lagum tem uma proximidade muito forte com os mais jovens. Como é a interação de vocês com esse público que tem vocês como inspiração?
Jorge [guitarrista]: Eu acho muito engraçado que hoje em dia o alcance que as informações e o conteúdo tem é muito grande. Então eu acho que quando a gente se comunica com essa galera, é uma responsabilidade muito grande, porque apesar de ser entretenimento e de ser uma coisa leve e que provoca algumas reflexões, que é o que nosso trabalho se propõe, acaba sendo uma responsabilidade e um dom que o Pedro tem de captar o que nossa geração sente e devolver isso na forma de arte. Eu acho que isso é que o causa essa identificação. Ao mesmo tempo, essa galera que nos acompanha e nos tem como referência é uma bênção e uma responsabilidade de estar todo dia tocando no ouvido deles e levando o nosso conteúdo.
Esse foi o primeiro álbum da banda depois da partida do Tio Wilson. Como foi pra vocês esse processo de reconfiguração da banda e também de homenagear o tio com esse álbum?
Pedro: A gente ainda tá nesse processo de reconfiguração da banda. Hoje em dia a gente tá indo pro shows com o Glauco [Borges, guitarrista], que chegou a dar umas aulas para o Tio, e tá tocando como freelancer com a gente. A banda mesmo permaneceu nós 4 após a partida do Tio, primeiro porque é impossível substituir uma peça tão única como ele e nós não vamos fazer isso no momento. Agora a gente lançou esse álbum, que foi o último que ele participou inteiramente, e a partir dele não temos mais nenhum conteúdo que ele produziu. Então lançamos esse álbum como uma maneira de homenagem e honrar a passagem dele pela nossa carreira.
Neste momento, a gente permanece assim: honrando a memória dele, tocando tudo o que ele fez parte, e ainda vamos pensar nessa reconfiguração mais para frente. Então eu diria que, nesse momento, ainda estamos vivendo um período de passagem ainda.
“Memórias” conta com a participação de grandes nomes, de diferentes gêneros, da música brasileira. Como foi gravar a experiência de gravar ao lado do Emicida, da Mart’nália e do L7nnon, e casar o pop/alternativo de vocês com o rap e o samba?
Chico Jardim [baixista]: A Lagum desde o início a gente nunca definiu o nosso gênero musical, porque temos várias referências como o samba, rap, e nos feats a gente tenta explorar isso. Essas participações no álbum foram muito singulares e importantes, em que tivemos muita troca tanto musical e de conhecimento. Todos eles agregaram de forma muito positiva na música e a soma deles para o álbum… a gente não tem como descrever a honra que foi trabalhar com esses artistas.
Pedro: E até pelas produções. Neste álbum a gente fez cada música com um produtor diferente, então tivemos uma pluralidade nas produções, nas parcerias e nos temas das músicas. Então essa pluralidade toda trouxe muita riqueza e conhecimento para a nossa carreira
A turnê de 2022 começou, depois de um adiamento por conta da variante ômicron. Como está sendo esse retorno aos palcos após quase 2 anos afastados por conta da pandemia? E como está a ansiedade para as datas europeias da turnê?
Pedro: Cara, a gente está trabalhando bastante para entregar essa turnê. Os shows que a gente fez até agora foram um pouco espaçados porque alguns caíram por conta de decretos (por conta da covid-19). E está todo mundo super animado para trabalhar, tanto a equipe quanto a gente está sentindo essa saudade do público, que é a recompensa que recebemos pelo nosso trabalho. E quando o show é f*da e o público corresponde pesado não é só a gente que está em cima do palco que fica motivado, todo mundo acaba ficando. E (quanto à) parte europeia, o Chicão é a pessoa que está mais animada para ir.
Chico: A gente está com vários shows de enorme importância para a nossa carreira. Então estamos fazendo um trabalho muito minucioso na parte artística, visual e de efeitos. Em todos os âmbitos, estamos trabalhando de forma muito detalhista para soma disso entregar um show gigantesco, com uma entrega fantástica. Inclusive, (quanto aos) fãs que forem nos shows, a galera pode esperar um show monstruoso em todos os aspectos.
Em breve, vocês sobem ao palco do Lollapalooza Brasil. Qual é a expectativa de vocês ao subir num dos três principais palcos de um dos maiores festivais do Brasil?
Chico: Uma coisa que a gente sempre procura fazer é criar uma carreira muita sólida, tentando fazer as coisas sempre da forma mais firme possível, para colocarmos um tijolo em cima do outro. Acho que a nossa casa está pronta para conquistar esse “tijolo novo”, esse novo patamar que estamos indo. Claro que o coração bate a milhão, é um festival de enorme relevância no cenário mundial, principalmente por estar no palco principal, mas acredito que o trabalho que nós temos feito até hoje nos colocou na posição de chegar lá e destruir tudo. Fora a (emoção) de dividir o palco com o Foo Fighters e toda a galera que vai estar lá. Mas tenho a certeza que nós vamos chegar lá e entregar tudo.
Como vocês encaram o fato de que hoje são uma das principais referências/nome do cenário pop/alternativo do Brasil? Como vocês enxergam o processo de amadurecimento de vocês individualmente e como banda nesses anos?
Pedro: Cara, a gente começou muito novo. Quando a Lagum começou eu tinha 17 anos e eu particularmente não sabia para onde a gente tava indo e nem o que a gente construindo. Só sabia que eu tava muito feliz em estar trabalhando.
Quando paramos para ver onde chegamos, a gente leva um susto. É muito louco porque nada foi estrategicamente montado, fazíamos pequenas estratégias para atingir o máximo possível de pessoas e fazer a nossa música chegar onde ela ainda não tinha chegado. E é uma responsabilidade muito grande que carregamos, já são quase 8 anos de banda e a gente já fez muita coisa – ainda mais como banda, que é uma coisa que não rola tanto hoje em dia. Nas grandes paradas, nos charts, nas rádios, a grande maioria é de artistas solos, e nós, como banda, é uma prova de que não tem formato para você ser artista. Se a música for boa, se você acreditar, se você estiver fazendo de coração, as coisas vão acontecer. Então a gente fez acontecer do nosso jeito, e somos muito felizes e gratos por todo mundo que apoiou nosso caminho até aqui. E a gente também fica feliz de ver mais bandas aparecendo e mais músicas que se assemelham a nossa, porque isso acaba fortalecendo a gente e criando um movimento.
Para encerrar a entrevista com Lagum, 3 perguntinhas bate e volta:
Com qual artista vocês gostariam de colaborar?
Jorge: Tom Misch
Chico: Marcelo D2
Música do repertório de vocês que vocês gostariam que fizessem parte da trilha sonora de um filme?
Pedro e Chico: FIFA
Especialidade mineira indispensável para comer/beber enquanto escuta o “Mémorias (de onde eu nunca fui)“?
Pedro: Canudinho de doce de leite
Chico: Goiabada com queijo
Jorge: Canastra
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