Semana passada, mostrei a vocês uma banda que está buscando espaço no cenário independente e que vocês precisavam conhecer, a Black Cold Bottles. Mas antes que eu continue informando vocês sobe bandas, shows, oportunidades e curiosidades, precisamos entender o que faz a música independente no Brasil ser tão… independente.
KEXP Radio, é uma estação de rádio FM baseada em Seattle, Washington, fundada em 1971 sob o nome de KCMU, mas quando o projeto passou pelas mãos dos alunos da Universidade de Washington, John Kean, Cliff Noonan, Victoria Fiedler e Brent Wilcox, passou a ser chamada de KEXP
Basta alguns minutos de pesquisa no site ou mesmo no canal do YouTube para você perceber que a KEXP é um pouco mais que uma rádio de rock alternativo que mescla bandas pop já conhecidas. Como eles mesmos definiram, “A KEXP é uma organização de artes dinâmicas, que faz e fornece ricas experiências de música no ar, on-line e nas ruas. Serviços exclusivos da KEXP para beneficiar três grupos distintos: Amantes da Música, Artistas, e a comunidade artística em geral.
Funciona assim: As músicas que a rádio reproduz são em sua grande maioria, produzidas por eles mesmos. A banda vai até eles, grava sessões ao vivo de 30 minutos, em média, com pequenas entrevistas entre as músicas, mantendo um som intimista e minimalista, dada a preferência para instrumentos acústicos. Contando com uma produção enorme com cerca de 35 DJs da própria KEXP que trabalham nesses projetos. E essas sessões são filmadas e editadas, então vão todas para o site da KEXP ou para o canal do YouTube deles, mantendo a mesma fórmula: Estética minimalista, intimista, dando preferência a instrumentos acústicos.
Mas o fator “político” que quero levantar aqui é o seguinte: a rádio é mantida financeiramente pela Universidade de Washington, e todas as produções e os resultados dessas produções são propriedade da Universidade. Ou seja, toda a tecnologia usada pela KEXP, tudo que é usado por eles, é proveniente do dinheiro que o governo americano investe nos projetos da própria Universidade de Washington. Isso faz com que a cultura independente seja incentivada pelos próprios elementos dessa cultura, os próprios músicos e alunos que se formam na Universidade de Washington, podem trabalhar na KEXP, o que torna o projeto sempre novo, com pessoas novas e com novas referências.
Infelizmente não existe algo parecido no Brasil, ao menos, não que seja financiado pelo governo. Alguns projetos fazem isso muito bem, como a Elefante Sessions e o Studio62, porém com uma produção independente de todas as formas possíveis, criando um ciclo vicioso: o canal independente que distribui música independente. Ninguém se ajuda verdadeiramente, nesse caso. Podemos ver então, uma rádio financiada pela Universidade de Washington, com dinheiro do governo e que já gravou e distribuiu artistas como Florence & The Machine, Of Monsters and Men e Tallest Man on Earth. Ao mesmo tempo que gravou e distribuiu outras bandas que nem sequer possuem discos gravados.
Vale muito a pena perder algumas boas horas escutando as belezas que essa rádio já produziu. E até ter esperanças de que um dia as leis de incentivo a cultura no Brasil sejam mais abrangentes ou a própria indústria fonográfica seja ao menos uma porcentagem do que é em alguns países. Onde artistas distribuem seus trabalhos sem se preocupar com todo um pacote burocrático, que infelizmente ainda faz do cenário independente do Brasil uma realidade pequena.