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Entrevista: Rodrigo França fala sobre filme “Barba, Cabelo & Bigode”

Dirigido por França, o longa estreou no final de julho na Netflix

Foto: Divulgação/Cacau Fernandes

Por Ingrid da Matta – O filme “Barba, Cabelo & Bigode” estreou dia 28 de julho na Netflix. Com produção da Fábrica Filmes e trilha sonora da Duto, o longa possui direção de Rodrigo França e conta com Lucas Penteado, Solange Couto, Juliana Alves, Jeniffer Dias, Neusa Borges, Nando Cunha, Serjão Loroza, Yuri Marçal, Luana Xavier, Xando Graça, Bruno Jablonski e MC Carol no elenco. 

O personagem principal Richardsson (Lucas Penteado), cria da Zona Norte carioca, mais especificamente da Penha, tenta salvar o salão de sua mãe da falência, acaba descobrindo um grande talento e se torna o herói da história. Veja o trailer da comédia:


Conversamos com o diretor Rodrigo França, que também é ator, dramaturgo, filósofo, professor, articulador cultural, produtor, escritor, artista plástico e empresário, além de ativista pelos direitos civis, sociais e políticos da população negra no Brasil. França falou sobre a produção do filme e o seu sucesso – o longa está atualmente no Top 10 filmes mais assistidos da Netflix Brasil.

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Entrevista com Rodrigo França

Você tem muitos anos de carreira, coleciona diversas experiências profissionais, além de ser um multiartista. Quais foram os principais desafios na direção do seu primeiro longa metragem? 
Rodrigo França: Sem dúvidas foi construir novas narrativas no mundo do cinema e do audiovisual. Estar em uma posição que é institucionalmente determinada para homens, brancos, ricos, heteros sexuais e cis generos. É óbvio que há um estranhamento, quando você cria uma “fissura”, ou seja, quebra um padrão. E,  a partir de um novo comportamento, um novo olhar, um novo corpo você determina e entende que vai fazer diferente de uma escola aristocrática que é imposta pelo cinema. É uma tarefa árdua, mas que no filme foi muito vitoriosa. 

Por ser uma comédia muito divertida, como foi retratar o subúrbio do Rio de maneira tão fiel e nada caricata?
Rodrigo França:
Eu sou nascido e criado no subúrbio carioca. Diversas pessoas que compuseram a cadeia produtiva do filme são também pessoas do subúrbio. Ou seja, pessoas reais, pessoas que têm vivência. Há um grande respeito, não é uma invenção. O que existe é a reprodução das nossas vivências, sempre respeitando a subjetividade e pluralidade de cada um. Então, não vai ficar caricato, não vai ser um “pseudo subúrbio”. Vai ser uma criação a partir do nosso olhar. Olhar, diverso, múltiplo, plural, um olhar suburbano. 

Nós, o público, podemos ver o protagonismo negro na frente das câmeras. Acredito que essa seja uma obra revolucionária para o audiovisual nacional, apesar de saber que ainda há muito a ser feito. Poderia nos contar como foi esse protagonismo por trás das câmeras e sobre a diversidade desse projeto?
Rodrigo França:
Para construir um projeto diverso, você precisa esgotar a cadeia produtiva ou o máximo da cadeia produtiva com profissionais diversos. Já sabia que o projeto exigia essa demanda, e fui estabelecendo e construindo essas possibilidades. Não há nada mais estimulante do que você olhar para o lado e encontrar seus pares. Não há nada mais potente do que discutir subúrbio e negritude, tendo ali no set de filmagem profissionais com o mesmo olhar. Sem ter que parar para discutir, sem precisar explicar porque há uma vivência. A diversidade é o caminho. E, esse caminho não tem volta porque ele traz frutos, lucro, beleza, identidade. Traz lealdade aquilo que se estabelece como vivência e visão na arte. 

O filme é muito contemporâneo e nos traz uma sensação de pertencimento. Poderia ser amiga de muitos personagens, ou até mesmo parente. Conseguimos perceber o quanto você utilizou uma linguagem jovem e atual, muitas gírias e linguagens próprias da internet, e o uso de redes sociais e aplicativos como Instagram e Whatsapp. Você acredita que a utilização desses recursos causam uma aproximação maior com o público, principalmente jovem?
Rodrigo França:
É o que vivemos no mundo atual, no mundo real. Não digo para os jovens, digo para todo o público. A gente precisa de uma linguagem que se comunique com todo mundo, ou pelo menos a maioria da população. Mais do que jovem, é uma linguagem popular. Não popularesca. Eu estabeleço fazer arte a partir daquilo que é popular e que vai atingir a minha mãe, a minha avó, minhas tias, a periferia, subúrbio, morro e favela pelo mundo. Não tem a ver com a juventude em si, tem a ver com querer aprender com o povo porque faz parte do povo.  

O filme já estreou no Top 3 da Netflix Brasil, e continua na lista de mais assistidos da plataforma. Ao que você atribui tamanho sucesso? Podemos esperar pela continuação? 
Um filme é um esforço coletivo, embora se construa essa imagem do diretor. Todo mundo no final faz parte do filme. Desde o diretor, os atores, até o pessoal que limpa o set de gravações. Sucesso porque é um filme de muitas mãos, muitas mentes, muitos corações, e de muitas pessoas envolvidas que amaram o que fizeram e que tem orgulho de divulgar para os seus e suas. Sobre a continuidade, eu espero que haja, porém isso é uma decisão do canal de streaming que é a Netflix e da Fábrica, a qual me orgulho muito de ter atuado neste projeto. 

Cena do filme “Barba, Cabelo & Bigode”. Foto: Reprodução/Netflix

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