Lagum está de volta com um álbum de inéditas, “Depois do Fim”, que chegou na última sexta-feira (14), desenvolvendo uma história de cura, auto descoberta e amadurecimento que teve início em março, com o lançamento do EP “Fim”. A banda mineira, que lançou seu primeiro disco em 2016 e se consolidou com músicas descontraídas, dá um salto artístico que marca um recomeço merecido para Pedro Calais, Zani, Jorge e Chico.
“Depois do Fim” chega como sucessor de “Memórias (de onde eu nunca fui)”, disco lançado em dezembro de 2021. Desde então, a banda voltou para os palcos com a turnê “Para ficar na memória”, lançou o pórprio festival, chamado “A Ilha”, e se aventurou em parcerias com artistas como Marina Sena, Anavitória e Bárbara Tinoco. Dessa vez, o disco vem sem nenhuma colaboração, escolha pensada para consolidar ainda mais a identidade de Lagum.
O trabalho é resultado de um processo de dois meses de imersão da banda na cidade de Campinas, interior de São Paulo. Durante esse tempo, eles se dedicaram totalmente a esse trabalho de forma profunda, um processo até então inédito para a banda. “É um álbum de cura. Me curou escrever ele, e acho que ele pode servir para isso para outras pessoas também”, compartilhou Pedro Calais, vocalista da Lagum, em vídeo no Instagram.
O fim é sinal de recomeço
De forma inédita na discografia da banda, “Depois do Fim” tem início com uma faixa intro, que nos transporta para o universo do disco. Nos primeiros segundos da faixa é possível ouvir o barulho da boca de um fogão sendo ligada e, em seguida, o fogo queimando em crescente. A voz de Zani se insere na melodia dando o tom da história a ser contada no decorrer do disco. “O acaso vai me guiar / O mundo reiniciou / E diz que é para melhorar / Aonde eu tô? Pra onde eu vou? / O acaso vai me guiar”.
Na sequência, Pedro volta ao comando do vocal na canção “Depois do Fim”, que apesar do ritmo dançante, trata sobre as dificuldades do fim de um relacionamento. “De Amor Eu Não Morri”, aponta que a banda bebe das fontes de grandes nomes da música brasileira, ao usar sample da clássica “Samurai”, do Djavan.
Mesmo aterrissando em um novo momento de sonoridade e temática, Lagum não perde a identidade já consolidada em trabalhos anteriores e aposta até mesmo em referências a outros trabalhos que os fãs não demoram a notar. “Olha Bela” traz influências de reggae já exploradas anteriormente em músicas como “Reggae Bom”, uma das favoritas do disco “Coisas da Geração”. A faixa, lançada em fevereiro, se junta a “Ponto de Vista” como sendo as duas únicas não inéditas do álbum.
Sonoridades e elementos surpresa
“Depois do Fim” segue com surpresas positivas. O desapego é tema em “Nem Vi Que O Tempo Voou”, e somos apresentados a um Pedro Calais poliglota em “Outro Alguém”, com versos em inglês e italiano. “Habite-se” é um dos pontos mais altos do projeto, fazendo um trabalho de introspecção que resulta em autoconhecimento a medida que a melodia cresce com o amadurecimento do eu-lírico. “Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato”, é o que diz a voz do avô de Pedro em meio a música.
“Frágil” traz elementos do rap e intriga quando nos segundos finais da faixa, uma voz feminina entra em uma gravação de caixa de mensagem. O toque do telefone que antecede a gravação remete ao trecho “Falando a verdade, deu vontade de ligar / Dizer um ‘Oi, sumida. Como você tá?'”, da música “Falando a Verdade”, também do disco “Coisas da Geração”.
Servindo como um interlude, “Mudou Nada” retrata um possível episódio de recaída, que resulta na saudade e sofrência apresentados logo na sequência, em “Ou Não”. A faixa se destaca pela forte presença de instrumentos de sopro em seus minutos finais – aumentando as expectativas para a versão ao vivo das músicas. A experiência de shows da Lagum é um dos fortes da banda, que sabe criar uma atmosfera ideal para o ao vivo a cada novo lançamento.
O visual “Depois do Fim”
Desde a capa do disco, é notável o cuidado estético e visual com o novo projeto. A capa mostra os integrantes da banda no telhado de uma casa, enquanto pelas laterais, as chamas de fogo crescem. O fogo é escolhido como sinal de renovação, algo que a banda buscou durante o processo do álbum.
Em conjunto com as 13 faixas que compõem “Depois do Fim”, o trabalho segue uma tendência cada vez mais adotada no mercado musical brasileiro atual: o álbum visual. Artistas como Manu Gavassi, Anavitória e Carol Biazin já exploraram esse conceito, e agora foi a vez de Lagum. Cada faixa do disco conta com um visualizer, que adiciona a experiência visual para as músicas, enriquecendo a experiência sonora para uma audiovisual.
O trabalho é resultado de processos pessoais e profundos de uma banda que passou por momentos individuais e coletivos nos últimos tempos. Novos projetos, fins de relacionamentos e a perda precoce de Tio Wilson, baterista da banda, em 2020, são alguns dos motivos pelos quais o projeto é considerado pela banda o seu mais profundo até aqui.
Como um convite para mergulhar no desconhecido, “Depois do Fim” é um abraço para quem precisa de um novo início. E quem não se identifica com as temáticas propostas, não é? A banda segue por um novo caminho, mas não perde a sua essência. Cantam para a juventude e para quem mais precisar se identificar no processo da busca por uma cura. Nem todo fim é fácil, mas Lagum mostra que existe muita beleza em recomeçar e se reinventar.
Nota: 9,5/10
Siga o Tracklist nas redes sociais!