in , ,

Review: Drake exala autoconfiança e frustração em “Certified Lover Boy”

Foto: Drake/Divulgação
Foto: Drake/Divulgação

Sucessor do aclamado “Scorpion”, o rapper Drake lançou nesta sexta-feira (3) o seu sexto disco de estúdio, o esperado “Certified Lover Boy”. Composto for 21 faixas, o disco traz participações de JAY-Z, Travis Scott, Kid Cudi, Tems, Lil Wayne, entre vários outros artistas.

Previsto anteriormente para em janeiro deste ano, o material foi adiado devido à recuperação de Drake de uma cirurgia. Um pouco mais agressivo e direto do que seus trabalhos anteriores, o “Certified Lover Boy” foi denominado pelo o canadense como um trabalho pessoal, mas será que sentimos isso também?

Foto: Divulgação

Certified Lover Boy e sua essência egocêntrica

Um dos nomes mais fortes nas plataformas de stream – se não o maior – Drake não tem medo de ousar e falar o que quer. No seu sexto disco de estúdio não ia ser diferente. O rapper abre os trabalhos do material com a ousada “Champagne Poetry”, uma espécie de autoagradecimento e engrandecimento exarcebardo no qual o rapper tira proveito da sua fama e todos os recordes que alcançou ao longo da sua carreira. “Estou aproveitando ao máximo essa merda”, diz o rapper na faixa que possui sample de “Michelle”, canção dos Beatles lançada em 1695 no disco Rubber Soul.

“Papi’s Home” e “Girls Want Girls” provavelmente serão alguns dos hits do material. Com letras cômicas e instrumentais que remetem alguns virais recentes, as faixas trazem o antigo Drake que costuma cantar sobre lealdade e curtição. A curiosidade aqui fica com a participação oculta da rapper Nicki Minaj em Papi’s Home, que aparece conversando com o canadense sobre irmandade.

Embora o projeto possua inúmeras colaborações, algumas passam despercebidas, como é o caso de “In “The Bible” com Lil Durk e Giveon e “Love All” com o JAY-Z. Esse último era um dos antigos desafetos do rapper na indústria, mas que pelo visto ficou no passado e eles hoje lamentam da falta de lealdade quando se está no topo. “Ninguém liga até que você esteja morto”, indaga Drake.

Mais adiante temos uma sequência de músicas que parecem tiradas cada uma de um material antigo diferente do rapper. “Fair Trade” é um hit instantâneo cantando e produzido pelo hypado Travis Scott. “Way Too Sexy” é uma parceria com os rapper Future e Young Thug, colaboradores recorrentes do canadense e que poderiam ter ficado de fora. A faixa até é empolgante, tem sample do mega hit ” I’m Too Sexy” da banda inglesa Right Said Fred, mas se perde totalmente quando os rappers começam suas partes, tudo confuso e solto.

Drake não é Drake sem polêmicas. Olhando a lista de compositores e produtores do “Certified Lover Boy”, é possível ver uma lista enorme, a maioria recorrente nos trabalhos do rapper, porém uma me chamou bastante atenção. Acusado de diversos crimes sexuais, o rapper R.Kelly é creditado como compositor na faixa “TSU” — para mim não está claro se houve uma sample, um trecho de música de Kelly ou se ele de fato colaborou na canção, mas que está creditado, ele está.

A vulnerabilidade também ganha espaço no Certified Lover Boy

Quem conhece o Drake há um bom tempo sabe que ele ganhou notoriedade cantando sobre temas que geralmente não são abordados por rappers. No seu novo disco essa essência também se encontra presente, mas não tão melosa como antigamente. Nas faixas “N 2 Deep”, “Pipe Down” e “Yebba’s Heartbreak” Drake deixa o ritmo frenético que o disco estava seguindo para fazer algo mais melódico e falar de algumas questões que assolam a sua vida.

“Ninguém está do meu lado quando eu estou mal” e “quanta dor eu vou ter que sentir para superar você?” são alguns versos cantado pelo rapper em “Pipe Down”, que são rapidamente seguidos por um tipo de interlude cantada brilhantemente pela cantora de soul norte-americana Yebba.

“Fucking Fans” também é outra que é possível ver esse lado exposto. Drake pede desculpa aos seus fãs pelas vezes que os desapontou com alguma atitude. Alguns pontinhos para o rapper por fazer o mínimo, vai.

Foto: Drake/Divulgação
Foto: Drake/Divulgação

Agressividade e remorso são recorrentes no projeto

Da mesma forma que o rapper sugere ser o maior dos maiores do mercado e fala sobre seu coração partido, ele também apresenta uma constante preocupação com a falsidade dos seus colegas de indústria no materal. “No friends In The Industry”, “Knife Talk”, “7am On Bridle Path” e “Race My Mind” falam por si só.

Com hype do “Donda” nas alturas e com a treta com Kanye West ainda de pé após o americano ter publicado uma captura de tela com o endereço da casa de Drake em Toronto, o tema foi abordado em “7am On Bridle Path,” música em que Drake prolonga sua rivalidade e rima em tradução livre: “Dê aquele endereço ao seu motorista / Em vez de fazer uma postagem por desespero”. Let the fight begin, meus caros.

“IMY2” é uma colaboração de com Kid Cudi, outro artista que Drake teve alguns desafetos anteriormente, mas que parece ter ficado no passado. A música retrata as realizações do artista e como ele ainda está em evolução. Aqui é bonito ver como o canadense aborda suas constantes mudanças e os desafios para se tornar uma pessoa melhor.

Outro ponto positivo do material é “The Remorse”, que traz um lado mais pensativo de Drake, no qual o artista coloca todo o remorso para fora e aconselha os rappers que virão posteriormente, falando sobre o caminho é difícil e que nem tudo são flores. Essa e “Fountains”, com a cantora nigeriana Tems, talvez sejam as melhores do projeto inteiro.

Conclusão

Drake explicou que o álbum seria sobre “masculinidade tóxica” e a “aceitação dolorosa” de reconhecer o erro. Até aí tudo bem, mas o tema não foi abordado como deveria ao longo do projeto. Muitas vezes parece até ser tratado como deboche. Esperava produções mais ousadas, letras variadas como ele mesmo falou que abordaria.

A paternidade, o coração partido, o certificado de amante como ele mesmo denominou o nome do álbum são temas tratados de forma pincelada ao longo de todo o material. Nada é de fato aprofundado.

Que o disco vai quebrar recordes (como já quebrou alguns) eu não tenho dúvidas, porém é extremamente maçante e confuso. Drake parece ser resistente a mudanças e isso é frustrante uma vez que ele é um excelente rapper. As músicas não são ruins e, em alguns casos, são até excelentes, mas a fórmula monótona não vai soar agradável para sempre.

Nota: 6,5

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *