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Carta aberta a Biel e à cultura do estupro

“Cultura do Estupro” é um termo utilizado para culpar a vitima de assédios sexuais,  estupro e/ou qualquer outro tipo de violência feminina. Além disso, a cultura do estupro normaliza o comportamento violento masculino diante das vítimas.

Diante disso,  podemos afirmar que a atitude do cantor de funk Biel, que teve seu nome em toda a internet após assediar uma jornalista em seu exercício de trabalho, pode sim ser inserida na cultura do estupro.  A cada 11 minutos, uma mulher sofre assédio sexual, é estuprada ou passa por qualquer tipo de violência nesse sentido. E, nesse tempo, sempre sobram acusações ou questionamentos para a vítima: “Que roupa ela estava usando? O que ela disse ou fez  para que merecesse isso? A jornalista só quer o nome na mídia e ganhar dinheiro em cima do Biel!”.

É triste chegarmos a esse ponto em pleno século XXI, mas não é novidade que mulher é tida como objeto sexual. Tratando-se de música, vocês podem achar que isso só acontece no funk – mas se engana quem pensa assim. Existem na MPB, rock, axé, sertanejo, entre outros; letras que reforçam esse nosso pensamento. Abaixo algumas composições de cantores e compositores bastante conhecidos:

”Se eu fosse o teu patrão
Aí, eu tratava
Como uma escrava
Aí, eu não te dava perdão
Te rasgava a roupa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu te encarcerava
Te acorrentava
Te atava ao pé do fogão
Não te dava sopa, morena
Se eu fosse o teu patrão
Eu encurralava
Te dominava
Te violava no chão
Te deixava rota, morena” – Se eu fosse Teu Patrão, Chico Buarque.

”E tu vem, meu coração parte e grita assim
Arrasa bi…scate!
Merece era uma surra de espada de São Jorge
Um chá de Comigo Ninguém Pode” – Trepadeira, Emicida part. Wilson das Neves

Feia de cara, mas é boa de bunda
Olhe só é a pequena Raimunda
Se ela tá indo até que dá pra enganar
Se ela tá vindo não é bom nem olhar
Ela de 4 fica maravilhosa
Na 3×4 é horrorosa
Shit, shit pequena Raimunda
Bunda de sonho a cara é um pesadelo” – Pequena Raimunda (Ramona) – Raimundos

A objetificação feminina também ocorre dentro de vários outros gêneros musicais, e isso nos faz pensar que não é justificativa para livrar a barra do Biel ou de qualquer outra pessoa. Inclusive, música é manifestação da cultura. Se a cultura é machista, infelizmente isso vai se refletir. E deveria ser o contrário, devemos difundir coisas que edificam, o direito de igualdade de gênero e que mulheres merecem respeito.

‘’Você me fala que não,
Mas eu te provo que sim.
Você duvida se é bom
E eu te mostro no fim.
Eu sei que você me quer,
Garota, eu sinto no ar.
Só que você não aceita,
Sem antes titubear.”

Essa é a letra de Química, música do cantor que fez maior sucesso por aqui. Podemos ouvir na televisão, ruas, nas propagandas que abrem sem a nossa permissão aqui na internet, entre outros lugares. Se formos parar pra analisar essa composição, chegamos à conclusão de que é um claro caso de um homem (sim, porque a partir dos 18 o ser humano já é caracterizado como adulto) abusando de uma mulher. E existem outras músicas que podemos avaliar e no fim, todas nos trarão a mesma resposta: o cara acha que mulher é objeto e que ele pode ter total controle sobre qualquer uma. Porque ele é bonito, porque ele é rico, porque ele é malhado,  porque ele faz sucesso por aí ou só por ele ser homem. Chegamos a um ponto que é difícil esperar atitude contrária de alguém que dissemina a cultura do estupro pelas músicas, pelas mídias em geral, pelos discursos do dia a dia. E além disso, como esperar algo bom vindo de quem acha que assediar qualquer mulher é brincadeira?!

A gente perde o amigo, mas não perde a piada, Biel. É muito compressivo que suas fãs o defendam, porque são jovens e ainda não têm conhecimento sobre o empoderamento feminino e tudo referente a esse assunto. Diferente de você que não importa o que faça, assim como qualquer outro homem, sua barra vai ser limpa exatamente por ser do sexo que é.

É muito triste a gente ter que ter a consciência que a cultura do estupro é muito comum aqui no nosso país, e é triste saber que sempre um homem terá todos os argumentos positivos voltados pra si quando uma mulher for assediada, violentada, abusada e invadida física e/ou psicológica, mesmo que tenha sido por uma letra de música ou uma ameaça clara de que ela pode ser quebrada ao meio – e estuprada.

É impossível afirmar que um pedido de desculpas mude a realidade da vítima, que, infelizmente, já foi exposta em todas as mídias possíveis; porém, é o minimo que se pode fazer como pessoa pública e ser humano.

Nosso site se solidariza com a vítima desse caso e de tantos outros existentes por aí. Não compactuamos com nenhum tipo de violência, tampouco com a exposição de material utilizado como meio de provas pertencente à justiça.


> A informação é muito importante e empoderadora. Links esclarecedores sobre Cultura do Estupro, Empoderamento Feminino  e Igualdade de Gênero.

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