in , ,

Review: “Life Support”, de Madison Beer

Após quase uma década desde que o seu primeiro contrato com uma gravadora foi assinado, Madison Beer lança nessa sexta-feira (26) o seu primeiro álbum de estúdio, “Life Support”. O disco contém 17 faixas e já é um dos projetos mais aguardados do ano. Vamos conhecer um pouco mais?

Leia mais: Conheça a trajetória de Madison Beer

Tendo como base o pop alternativo, art-pop, rock psicodélico e r&b, “Life Support” é aquele tipo de álbum com uma narrativa, estética e ambientação muito bem fechada. Elementos como a intro, interludes, efeitos sonoros e a produção lapidada ajudam a sustentar o projeto e criar uma coerência em toda a progressão do álbum. Em seus 46 minutos de duração, o disco é hipnotizante e deixa o ouvinte envolvido em cada aspecto e trajetória que a cantora compartilha, como se fosse um diário aberto de Madison.

Life Support

Entre as suas inspirações musicais é possível identificar algumas que ressoaram com mais vigor dentro do álbum, como Radiohead, Lana Del Rey e Tame Impala. Em termos de produção, o disco prioriza os instrumentos orgânicos e grande parte das canções são guiadas pela guitarra, o baixo e tambores. Mas as canções se expandem e ganham outra dimensão com o uso pontual de distorções vocais, beats eletrônicos e vocoder, dando uma textura à mais no seu som. Assim, o “Life Support” é uma imersão fonográfica, quase como se você estivesse escutando a trilha-sonora de um filme dramático e teatral.

Qual a narrativa?

O ponto de partida de “Life Support” é o fim de um relacionamento tóxico, os consequentes desgastes emocionais e como Madison lida com a sua saúde mental, mais especificamente com o seu transtorno de Borderline. Inteligente e com poucos vícios, o tema recorrente sobre término pode dar uma impressão superficial ao álbum mas que no final acaba se revelando um repertório sensível e com muitas camadas.

Destaques do álbum

“Blue”

A narrativa é sobre um antigo relacionamento e como aos poucos Madison foi sendo contagiada pela tristeza desse companheiro. Porém, hoje ela enxerga todos os sinais de que aquilo não daria certo e se sente aliviada de tudo já ter acabado. Na produção o destaque está na guitarra que acompanha toda a música junto aos beats de trap. A forma que os sintetizadores são usados no refrão dão uma intensidade maior para o que está sendo dito e até um aspecto mais “torto” para a música.

“You were always green with envy / Saw right through the tenderness / We were like a California sunset / Fated to die any minute / Gettin’ rid of you might be the best thing I ever did”

Assim, com a composição poética sobre esse relacionamento caótico e fatal é possível compreender melhor a referência direta do universo de Lana Del Rey. É como se fosse uma junção de elementos da era Born To Die com Ultraviolence.

“Follow the White Rabbit”

Disparada como uma das mais fortes do álbum, a produção se destaca com os acordes pesados da guitarra e uma linha de baixo estourada, tornando uma das canções mais energéticas e agressivas do disco. A adição da orquestra junto com as distorções vocais amplifica a sensação de dramaticidade e teatralidade da música. Por isso, com essa atmosfera cinematográfica, a faixa poderia facilmente tocar no clímax de um filme de suspense. Não à toa, segundo Madison, a inspiração da canção foi o filme Matrix junto com as referências de Alice no País das Maravilhas.

“Effortlessly”

Nessa faixa Madison conta um pouco mais de sua relação com a saúde mental e os remédios que ela precisa tomar. De uma forma crua e responsável ela consegue falar sobre esse assunto delicado, contando um pouco mais de sua história sem filtros. Sonoramente é uma faixa com reverberações, dando um ar mais etéreo, sem perder a atmosfera dark e misteriosa do disco. A adição do vocoder dá um toque mais interessante e até experimental a música.

“Stained Glass”

Com uma sonoridade psicodélica, nessa faixa Madison faz uma metáfora com o vitral, ao comparar com sua fragilidade e como as pessoas acabam focando apenas em seus defeitos, rachaduras e erros. Essa foi uma forma dela relacionar um momento difícil do seu estado mental, principalmente sob o olhar público. O ritmo marcado pelas baterias e os acordes agressivos de guitarra até lembram um pouco do pop/rock de garagem dos anos 2000. Já os detalhes, como o som de um vidro se quebrando e as distorções do vocal no refrão, deixam a produção frenética e cheia de nuances, traduzindo muito bem a montanha-russa emocional que Madison está passando. Segundo a cantora, as suas inspirações específicas para esse música foram “No Suprise”, do Radiohead“Alive”, do Kid Cudi; “Everything In It’s Right Place”, do Radiohead e “Eventully”, do Tame Impala.

Life Support vale a pena?

Mesmo longe das tendências musicais do momento, “Life Support” consegue fortalecer o universo particular de Madison Beer e naturalmente prova que é possível se reinventar dentro da indústria pop, sem precisar seguir fórmulas previsíveis. O projeto tem uma produção consistente e lapidada, e as robustas referências musicais da artista não ofuscam a sua própria identidade, e sim a fortalece. Os seus sentimentos são transformado em narrativas que abordam problemas com a sua saúde mental, um conturbado término de relacionamento, a volta de sua confiança e a sua sexualidade. No final, esse é um diário de altos e baixos desses últimos 10 anos na indústria, sendo efetivo para conhecer a real Madison por trás do holofotes.

NOTA: 9/10

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *