Em entrevista recente ao Tracklist, Guerra, baterista da Fresno, compartilhou detalhes sobre seu primeiro álbum de estúdio como solista, chamado “Nu Mato Futuro”.
Lançado em fevereiro, o disco inclui músicas como “Saudade”, que conta com a participação de Isadora Melo – que foi apresentada como a faixa-foco do projeto; “É Massa!” e “Love Love Love”.
Confira a conversa com o artista pernambucano na íntegra abaixo!
Entrevista: Guerra
Vamos falar sobre seu primeiro álbum, o “Nu Mato Futuro”. Como você descreveria esse trabalho?
“Eu descreveria como um relato humano, assim. Quando ele começou, que foi na pandemia, foi uma terapia – um momento de rever coisas que passam pela cabeça. E um momento daqueles era um momento único nas nossas vidas. E também [um momento] de lidar com aquilo, com as perspectivas do mundo e com os sentimentos. Aí, como a gente caminhando para um fim de túnel, ele também vai caminhando para o fim do túnel, sabe? Acho que ele foi o meu processo na pandemia. O que eu via, o que eu sentia falta das pessoas, de estar no mundo com a galera, e também do buraco que era a pandemia, enfim. Várias coisas humanas, eu diria. São os sentimentos de dentro para fora”.
Esse foi um projeto que começou lá em 2021, na época da pandemia, com “Love Love Love”. Naquela época, você já tinha essa ideia de lançar um disco?
“Então, na verdade, eu comecei o disco com ‘Saudade’, já antes da pandemia. Foi a única música que eu fiz escrita. E aí, depois, eu comecei já na pandemia a revisitar, e fazer essa terapia que eu falo. Eu ia para o estúdio, e eu não estava pensando em fazer disco. Eu faço trilhas, faço muitas produções aqui em casa, e comecei a revisitar algumas coisas e me divertir com aquilo. Aí foram surgindo as músicas. E então, quando eu já tinha algumas músicas – que não eram essas que estão no disco; são algumas dessas, mas outras que não ficaram –, amigos e pessoas ao meu redor começaram a dizer ‘Ah, bicho, começa a pensar em lançar isso aí’”.
“E ‘Love Love Love’ foi uma coisa especial. Porque o Rafael Kent – que era o meu irmãozão, e que nos deixou no pós-pandemia, que é um dos grandes responsáveis pela pilha necessária para que eu fizesse esse disco – começou um programa. E ele queria muito que essa música fosse o primeiro vídeo do programa novo dele. Eu não tinha o disco, e até doeu na hora. Eu falei: ‘Putz, mas eu vou lançar essa música agora, sendo que o disco só vai sair lá na frente?’ Então foi uma loucura orgânica, foi acontecendo. E é isso, acho que deu no que deu. Não foi uma coisa muito pensada, mas ao mesmo tempo foi muito legal. Quando você olha de fora, vê que deu tudo certo”.
O projeto tem “Saudade” como faixa-foco, uma música que tem a participação de Isadora Melo. Por que essa foi a escolhida para ser a principal, e como surgiu a colaboração com a Isadora?
“Então, quando eu já estava com o disco ‘pronto’, o Mago, um grande irmão da minha vida, chegou para mim e disse: ‘Cara, você tem que colocar uma mulher aí nesse disco. Vai ficar massa demais’. Ficou me infernizando. Eu já não estava aguentando mais ficar com o disco na mão, precisava lançar! Fiquei pensando: ‘Putz, mas vou ter que regravar uma música, uma voz, vai atrasar tudo’. E aí, eu cheguei em casa pensando no que fazer; e minha esposa, Julia, que é maravilhosa, e uma parte importantíssima desse trabalho, tem uma energia de produção muito forte. Ela logo entrou naquela chave dela. Me lembro que estava do sofá, e ela na minha mesa, e falando: ‘E tal pessoa?’ E eu: ‘Não, não vai dar, porque é de São Paulo, o sotaque vai ficar cruzando, não vai bater…’ A gente batendo cabeça, e ela no Spotify, pesquisando”.
“E eu sou o pisciano emocionado, que já fica em choque. Ela já é aquariana. Capricórnio e aquário. Ficou pesquisando. Daqui a pouco, ela deu play na voz de Isadora, e eu me apaixonei na hora. Eu nem tinha visto que era ela. Ela já conhecia a Isadora, mas eu não. E eu só ouvi aquela voz de anjo. A minha voz é bastante grave, então na hora eu percebi: ‘Esse agudo, com esse sotaque, com essa interpretação maravilhosa dela…’ Eu fiz assim: ‘É ela!’ E Julia já entrou em contato, e ela já topou. A Isadora é incrível. Quem não a conhece, procure saber, porque ela é uma artista incrível. Ela é um presente nesse disco. Eu agradeço a esse meu amigo Mago, agradeço à Julia, e agradeço demais à Isadora por esse trampo. Ela foi até o fim, e acho que isso foi um super presente para o álbum. Viva Isadora”.
Tinha que ser ela, então.
“Ela é demais, cara. Sou fã dela”.
Você já está com a Fresno há mais de uma década e, agora, lançou seu primeiro álbum de estúdio como solista. Qual foi o maior desafio – ou maiores desafios – de fazer esse trabalho?
“O maior desafio é a parte não-musical, eu acho; é a parte de ser uma pessoa sozinha. Quer dizer, não estou sozinho nem a pau, tenho uma galera ao redor trabalhando, ajudando e fazendo tudo. Mas estar sozinho artisticamente. Embora eu não me sinta assim, porque tenho essas pessoas, é o mais difícil. Na banda, você consegue dividir coisas e até sentimentos a respeito do que está acontecendo de dentro. E aí, quando você está sozinho nesse sentido, essa parte da música fica muito numa pessoa. Então a maior diferença que eu sinto é essa. Eu sempre fui cara de banda, e sempre fui muito bem nas bandas, nessa coisa de você saber jogar em um time. Um time é um time, precisa estar todo alinhadinho. E, sozinho, você fica numa sensação diferente. Acho que essa é a maior diferença para mim”.
Eu vi que você fez uma confraternização para comemorar o lançamento. Como foi esse evento?
“Foi muito massa! Tem que comemorar as coisas, né? Eu sou super adepto de comemorar as coisas boas que a gente faz, porque isso é o que fica depois. É o que preenche aquele lado. Tipo, eu estava sozinho em uma mesa, na pandemia, fazendo o disco. E aí eu encontro a galera, e quando eu os vejo, eles estão dançando aquela música, a que eu queria tanto levar esse sentimento. E aí eu estou vendo esse sentimento agindo nas pessoas, e no mesmo lugar onde eu fiz o disco. Teve toda essa energia”.
“[Foram] muitas pessoas especiais demais, e aí você sente todo o carinho depois de você fazer esse processo que é ‘estar nu’, assim; e recebe tudo de volta. É um preenchimento emocional muito grande. E dá uma felicidade de ver a galera mexendo o quadril. O termômetro é a rebolada, né? Nisso já deu certo o disco. Foi muito legal, e achei massa o feedback da galera, também. Estou muito feliz com isso. Para mim foi um sucesso, já. No melhor da palavra”.
Sei que é difícil, mas se você tivesse que escolher uma faixa como a preferida do projeto, qual seria?
“Então, quando você põe as músicas no mundo, já era. Você não tem mais nenhum controle. Você acha que aquela música é a música, mas quando vê já é outra. Cada cabeça é um mundo. E eu sempre vou trocando; tem horas que eu estou ouvindo uma música, tem horas que eu estou ouvindo outra. Por exemplo: ‘É Massa’, que foi a última composição do álbum, veio muito rápido, e se transformou em algo que a galera curtiu muito. Ela foi para o topo das mais ouvidas rápido. E é uma música que teve vida própria, que é algo que a gente não tem controle. E virou, talvez, o hit pop do disco, assim”.
“Mas a música que mais me pega é ‘Saudade’. É uma música que é até diferente desse lado mais festinha, mas é uma música que está comigo todo dia. O sentimento dela é algo que vou carregar para o resto da vida, a vida toda. Enquanto eu estiver longe de casa, eu vou estar sentindo isso. E é isso. Acho que ela é a música da vez. Embora o mundo escolha as músicas, e não tem como você controlar”.
Por fim, você acabou de lançar esse trabalho completo, então ele tem muito para ser aproveitado ainda. Mas, agora que você divulgou esse álbum, você já pensa em produzir outros projetos solo?
“Ah, claro! Isso é uma porta que se abre e não fecha mais. Porque, como eu disse, foi uma descoberta. E agora que eu descobri, vamos nessa. Eu virei a chavinha de como o meu processo funciona. Porque, às vezes, a pessoa é super criativa, é um músico massa, e só não descobriu o processo dela. E quando falo de processo, falo de uma coisa muito importante, que é você descobrir os seus canais”.
“Às vezes você está com um papel e caneta na mão, e você fica sem conseguir, você trava ali, porque não é o seu caminho. E eu descobri o meu caminho. Acho que quando você descobre isso, você fica com isso aberto. Ele fica livre para você andar nele. Você tira o mato ali da frente, e já era. E eu acho que, o que eu posso dizer para a galera, é para cada um descobrir o seu caminho. Descubra o canal de onde sai essa energia sua, porque todo mundo tem um. Para pintar, para cantar, para ser médico, sei lá, para qualquer coisa. Até para se relacionar. Descubra seu caminho, e descubra como que você funciona. Porque acho que é aí onde mora o X da questão”.
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