Quando “Casa Gucci” foi anunciado como o novo longa com Lady Gaga e Adam Driver, foi uma missão quase impossível conter o entusiasmo. Vencedores do Oscar, os protagonistas são acompanhados de nomes de peso, como Al Pacino, Jeremy Irons, Salma Hayek e Jared Leto. Somente pela ficha técnica, ainda que se saiba pouco ou quase nada sobre a história da família Gucci, somos tomados pela curiosidade de ver esse núcleo em cena.
O filme, dirigido por Ridley Scott e baseado no livro “House of Gucci: A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour, and Greed”, de Sasha Gay Forman, conta sobre os fatos que antecederam e culminaram na morte do empresário Maurizio Gucci (interpretado por Driver), herdeiro de uma das principais grifes italianas. Gaga, por sua vez, vive a ambiciosa Patrizia Reggiani, principal suspeita e condenada pelo crime.
Dificilmente “Casa Gucci” seria um fracasso, ainda que com um roteiro quase shakesperiano. A direção de Scott é astuta e veloz, narrando os fatos de maneira rápida (às vezes, até demais, tanto que não vemos os “pulos” entre as décadas). No entanto, essa pressa em narrar os fatos em 157 minutos não permite criar o apego por nenhum dos personagens – e, possivelmente, isso foi intencional.
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“Casa Gucci”: flutuante entre o romance, traição e assassinato
“Casa Gucci” inicia sua narrativa em meados dos anos 1970, quando Patrizia ainda é solteira e jovem. Com trejeitos espalhafatosos e pouco elegantes, já fica evidente a busca de Patrizia por um espaço no lugar onde ela acreditava merecer estar: entre os ricos e mais famosos da Itália.
O Maurizio Gucci de Driver, um pouco diferente do verdadeiro, é tímido e retraído, chegando a ser constrangedor sua falta de atitude em alguns momentos. Discreto e até mesmo desajeitado pela pouca experiência, ele faz um bom contraponto com a Patrizia Reggiani de Gaga, que pensa sempre um passo à frente.
Até metade da trama, Gucci e Reggiani são um só, mas, em algum momento (que não fica evidente no filme, embora dê indícios), há uma ruptura. Os personagens deixam de se entender, mesmo quando tinham o mesmo objetivo: a conquista do poder. Porém, em nenhum momento, gera empolgação no espectador para que um deles cumpra seus objetivos.
Caracterização (e polêmicas)
A caracterização dos personagens foi tema de polêmicas nos últimos meses, com pronunciamentos da própria família Gucci sendo contrária às decisões tomadas pela direção do filme.
Um dos mais latentes é o Paolo Gucci de Jared Leto, um personagem extremamente caricato, que é retratado na trama como um designer de péssimo gosto, sem criatividade e que não tem futuro na família. Quase como um alívio cômico, perde-se o tom da narrativa e a tensão necessária em certos momentos.
Lady Gaga, como contraponto, incorpora Patrizia Reggiani de maneira cirúrgica – o que a coloca como umas das favoritas na indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Embora seu sotaque tenha sido considerado “forçado” para alguns, basta buscar por entrevistas da personalidade real para compreender que houve, ao menos, trabalho de pesquisa. Gaga imprime bem os trejeitos e a expressão corporal de Reggiani, mesmo não optando por encontrar a socialite para a concepção da personagem.
Um dos pontos altos da trama é a apresentação de personagens que, para a história real, foram cruciais para mudar os rumos da Gucci. O designer Tom Ford, Anna Wintour (editora-chefe da Vogue) e os empresários da Investcorp (fundo de investimento que compra as ações da empresa), que foram fundamentais para o renascimento e consolidação da grife, são colocados como easter eggs na trama, sendo necessário ter mais conhecimento para conseguir captar.
Ao todo, “Casa Gucci” é uma excelente porta de entrada para aqueles que desejam compreender mais sobre o gerenciamento da moda. Essencialmente, é menos glamuroso do que o prometido, e mais divertido do que o American Crime Story de Gianni Versace, produzido pela Netflix. E, para os apaixonados por moda, é interessante estudar figurinos, que retratam muito bem as décadas vividas e contam histórias por si, além de entender referências.