Ao longo das últimas três décadas, Pedro Paulo Soares Pereira construiu seu legado como Mano Brown, o maior rapper da história da música brasileira e um dos mais influentes comunicadores do país. Com um talento único para contar suas histórias e dar vida às suas experiências por meio das rimas, o artista leva as pautas para o seu novo podcast, “Mano a Mano”, uma produção original do Spotify.
Nessa terça-feira (24), o Tracklist foi convidado a participar do evento online de lançamento do podcast, que estreia oficialmente no serviço na quinta-feira (26). O rapper contou sobre como se preparou para ser o anfitrião do programa, as influências por trás do projeto e o impacto que espera ter com as 16 entrevistas, que irão ao ar semanalmente.
A primeira experiência de Mano Brown como apresentador
Brown, uma voz que sempre foi questionada sobre o mundo ao seu redor, é quem levanta os questionamentos em “Mano a Mano”, falando abertamente sobre os mais diversos temas presentes em seu cotidiano e dando ouvidos a relatos inéditos e controversos. A ideia do programa vem sendo alimentada desde março do ano passado, e 17 meses depois, toma forma com a produção da MugShot e da Boogie Naipe e com a codireção criativa da Agência GANA.
Apesar de sempre ter pautado os debates através da música, a produção será a primeira vez que o paulistano assume o papel de apresentador. “Eu não tenho experiência com esse tipo de trabalho, e fazendo você entende como é difícil pra um jornalista, um repórter, uma pessoa que tem que veicular a notícia, abordar um convidado e tirar dele a verdade, tirar dele o que você quer que as pessoas saibam”, contou sobre a experiência. “Isso é uma ciência também, não é simples, e apesar de eu não ter estudado isso, eu vi e assisti muitas entrevistas. A gente acaba aprendendo com os outros”, disse, apontando o rapper Thaíde como uma de suas principais inspirações como entrevistador.
Entre os convidados já confirmados do podcast, estão a cantora Karol Conká, o médico Dráuzio Varella, o pastor Henrique Vieira, o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo e o político Fernando Holiday. Além deles, o rapper também confirmou a gravação de uma edição com Juary, Gilberto Sorriso e Pita, ex-jogadores do time de 1978 do Santos, entre outras entrevistas que devem ser reveladas ao longo das próximas semanas.
De acordo com o cantor, o programa representa não só um diálogo entre os seus pensamentos e os ideais de seus convidados, mas também um espaço aberto a aprendizados e a questionamentos entre ambos os lados. “Essas pessoas, por mais que elas exerçam funções diferentes umas das outras, elas estão dentro do meu universo, e do universo que eu considero sendo nosso”, afirmou.
Os assuntos discutidos no podcast abrangem desde a cultura, a sociedade e o futebol, com quem Brown disse ter tido a oportunidade de conversar com ídolos de sua infância, até a religião, um dos temas que o rapper mais levantou dúvidas. Em sua conversa com o pastor Henrique Vieira, o cantor afirmou ter apresentado diferentes questionamentos: “Aonde estão os negros da Bíblia? Aonde que a Bíblia foi buscar aquelas informações, foi na África? Por que ninguém fala? Por onde andou Jesus dos 2 aos 32? Ele tava na Etiópia, ele tava na África?”.
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A participação de Karol Conká e Fernando Holiday
As entrevistas com Karol Conká e Fernando Holiday no podcast foram dois dos principais assuntos discutidos durante a coletiva de imprensa. A cantora, a entrevistada do primeiro episódio, não foi uma decisão unânime fora da equipe do programa devido à sua rejeição popular durante o “Big Brother Brasil”, mas foi escolhida por insistência de Brown. “Uma rejeição de 99% me interessa muito, talvez eu tivesse uma rejeição maior que a dela”, disse. “Em alguns momentos, eu conversando com ela, eu comparava ela com a minha mãe, e esse olhar fez o diálogo fluir melhor”, comentou.
Já a participação de Fernando Holiday, vereador de São Paulo pelo Partido Novo e uma das lideranças do Movimento Brasil Livre (MBL), chamou atenção pelo contraste de ideias entre o político e o apresentador. “Um cara que ninguém queria ouvir, eu quero ouvir. Ele é uma inteligência negra, emergente, embora esteja equivocado com o lado político dele — vou tomar o direito de falar isso, não concordo com o que ele pensa”, declarou. “Mas ele é uma inteligência negra em evidência, que discorda do que eu penso e que falava coisas erradas por não saber do que se tratava também. Ele expressou opiniões a respeito de Emicida, outras pessoas e tal, que eu não concordo, e provavelmente hoje em dia ele também não concorde mais.”
Brown também ressaltou a importância do diálogo com pessoas de diferentes camadas políticas, como o próprio Holiday. “A gente tem que analisar que o Fernando Holiday, como eleitores que votam em partidos de direita, ideias de direita ou centro-direita; eles estão nas ruas, eles estão assinando leis, eles estão executando e praticando o que eles pensam. Não é deixando de falar com ele que ele vai deixar de existir, ele vai continuar existindo”, comentou.
“São pessoas que a gente vai ter que dialogar na rua como os próprios eleitores, entendeu? Quem foi que votou no Bolsonaro na eleição de 2018? Eles estão por aí. Por mais que eles se escondam, eles estão por aí. E eles continuam pensando daquele jeito. Vamos dizer que o Bolsonaro foi uma decepção para eles, mas eles continuam pensando aquilo. A gente vai ter que conviver com esses caras, a gente vai ter que dialogar com eles. Não é uma massa que pode ser desprezada ou desconsiderada”, continuou o rapper.
Os impactos de “Mano a Mano”
Mano Brown enxerga o podcast como uma oportunidade de aliar a informação e os debates sociais ao entretenimento, em um formato mais dinâmico e acessível para o público. “Eu me coloco no lugar de um cara de 21 anos, no metrô, com fone, indo trabalhar. Ele tem um percurso de 40 minutos, de uma hora, uma hora e 20, da Cidade Tiradentes até o centro. E ali, ele tá ouvindo coisas que ele não costuma ouvir em outros veículos. Esse é o grande lance, fazer a diferença, trazer informações que não são veiculadas”, disse sobre o seu objetivo.
Questionado sobre quem podemos conhecer a fundo como o anfitrião do programa, o rapper respondeu: “Vão descobrir que eu sou o cara mais comum do mundo. Brasileiro médio, de mentalidade mediana, como diz o Jorge Ben, mas aprendendo. Sou um brasileiro médio, filho de uma mulher negra com um cara branco desconhecido. Sou a cara da massa, a cara da maioria. Sou um produto tipicamente brasileiro, filho da escravidão. É isso que eu sou”.
“Mano a Mano” promete promover um mergulho no universo de ideias de Mano Brown, permitindo-nos conhecer melhor os questionamentos, as dúvidas e os posicionamentos de uma das mais importantes figuras da música nacional. Um “forte abraço, sincero e leal, do Mano Brown”, todas as quintas-feiras no Spotify.
Ouça já o primeiro episódio de “Mano a Mano” com Karol Conká no Spotify: