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Review: John Mayer revisita os anos 80 em seu novo disco, “Sob Rock”

Dentro de sua música, John Mayer já explorou diferentes épocas e possibilidades, sem abrir mão de sua própria forma de compor suas canções. Muitas vezes, sua criatividade custou diversas críticas em relação ao seu trabalho, mas sempre serviram como o principal gás para as suas maiores obras, bebendo de influências do blues e do folk para se consolidar como um dos mais talentosos guitarristas da geração.

Em “Sob Rock”, o oitavo álbum de estúdio da sua carreira, o cantor propõe uma imersão nos anos 80 com habilidade e inteligência ainda maiores para renovar sua arte. O novo disco se escora no pop rock da época para criar uma atmosfera própria para desabafar sobre os seus romances, relatados em uma das versões mais simplistas da escrita do norte-americano.

Desde o início da pandemia, Mayer se manteve isolado compondo e gravando suas músicas, distante dos palcos e dos holofotes da mídia. O resultado é tão introspectivo quanto o momento que nos aflige, permitindo-nos divagar pelas melodias, guitarras e pianos que percorrem um dos discos mais criativos já pensados pelo artista, mas que se esbarram em momentos de pura inconsistência.


John Mayer se transporta para os anos 80

Os primeiros segundos de “Last Train Home” remetem imediatamente ao clássico teclado de “Africa”, sucesso absoluto do Toto nos anos 80. Não é por acaso: quase como se propusesse uma releitura da canção, John Mayer ambienta seus dramas pessoais dentro de uma das principais décadas da música a partir de suas letras, o que se repete ao longo das faixas seguintes.

“Sob Rock” evidencia o talento de Mayer em camuflar sua música por diferentes estéticas sem parecer desconfortável por um só instante. O cantor alterna entre vários gêneros e instrumentações pelo disco, dando origem a novos formatos e ideias para performar suas composições ao lado de parceiros de longa data, como o baixista Pino Palladino e o baterista Aaron Sterling, além de nomes de peso como a estrela do country Maren Morris e o tecladista Greg Phillinganes, “apenas” ex-integrante da banda do Michael Jackson em suas turnês.

O resultado são faixas que parecerem diretamente extraídas dos anos 70 e 80, desde acenos às guitarras do Dire Straits e do Fleetwood Mac até as fortes melodias e refrãos do Eagles. “Wild Blue”, por exemplo, soa como uma versão alternativa de “Sultans Of Swing” em que Mayer se arrisca nos riffs, ao mesmo tempo que “Shot In The Dark” se destaca como uma das faixas mais densas e bem feitas do álbum.


Há momentos, entretanto, que a combinação não se repete com a mesma qualidade. “New Light”, a canção mais antiga do trabalho datada de um longínquo 2018, tem uma das performances mais preguiçosas da carreira do cantor, acompanhada de uma produção que pouquíssimo empolga ou convence a quem ouve. “Why You No Love Me” é outro exemplo em que a composição se mostra tão rasa que rouba qualquer charme que a música poderia vir a ter.

Já em outras ocasiões, Mayer consegue dizer mais falando menos. É o caso de “I Guess I Just Feel Like”, faixa que acentua o peso sentimental do disco em sua reta final apenas por meio de sua sonoridade. O contraste entre o violão e a guitarra ajuda a intensificar o clima da canção e até mesmo os desabafos mais simples de John.

“Carry Me Away” e “All I Want Is To Be With You” encerram o trabalho seguindo o mesmo tom, com claras inspirações no mesmo rock de arena pelo qual o U2 se popularizou com “The Joshua Tree”, de 1987. Embora boa parte das músicas carreguem influências óbvias em suas melodias, o cantor consegue dissecá-las à sua própria maneira, construindo o plano de fundo sobre o qual performa suas composições. “Música nova, feita à moda antiga”, como diz um dos vários pôsteres que divulgou pelas redes sociais.

John Mayer
Foto: Divulgação


Um mergulho raso

Aos seus 43 anos, John Mayer demonstra ter perfeita consciência sobre o momento menos conturbado de sua figura pública, mas sem deixar de escrever sobre os erros e mágoas do passado — algo que parece ter carregado para dentro de suas composições. Ao longo do álbum, o cantor demonstra vários momentos de vulnerabilidade e introspecção pelas quais descreve suas experiências, embora algumas delas pareçam não ter amadurecido tanto com a idade.

Ainda assim, o artista entrega canções sinceras e transparentes em torno de suas vivências amorosas, seja queixando-se sobre quem se foi ou esperançoso sobre quem está por chegar. Em “Shouldn’t Matter But It Does”, por exemplo, John lamenta os desdobramentos de um romance antigo que não consegue abandonar; já em “Til The Right One Comes”, a melodia alegre aponta para um futuro em que possa encontrar o seu par ideal.


Em nenhuma faixa, contudo, o cantor parece se aprofundar nas composições da mesma maneira pela qual ficou conhecido, embora o melodrama e o sentimentalismo ainda se façam presentes em meio aos bons e velhos clichês. Em boa parte das letras, John parece escrever para si mesmo de maneira descompromissada, uma espécie de solidão interna que parece acompanhá-lo dentro e fora dos palcos nos últimos anos.

Até mesmo a performance do artista soa apática: apesar de depositar seus sentimentos em palavras em boa parte das composições, em nenhum momento Mayer parece traduzi-los em seu canto, que mantém exatamente o mesmo tom indiferente do início ao fim do trabalho. Para um artista que, há quinze anos atrás, gravou o excepcional “Continuum”, o cantor parece sempre estar a um passo atrás de onde poderia estar — e de onde já esteve.

“Sob Rock” é um disco bem pensado desde o conceito até a sua sonoridade, mas que não consegue mergulhar o ouvinte consigo. As ideias são boas, mas executadas muito aquém do talento que John Mayer carrega consigo para compor suas experiências e se expressar pelo choro de sua guitarra, fazendo-nos questionar por vezes a vontade do cantor de ir além.

6 / 10

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