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Análise: SZA retoma narrativa confessional em melancólico “SOS”

Novo projeto conta com 23 faixas e explora sonoridade mais eclética sem perder autenticidade

Foto: Divulgação

Sucessor do aclamado debut Ctrl” (2017), “SOS” é o segundo disco de estúdio de SZA, lançado na última sexta-feira, 09 de dezembro. O extenso projeto, que conta com 23 faixas e 1 hora e 8 minutos de duração, retoma narrativas familiares aos trabalhos anteriores de SZA, seja na contemplação, na nostalgia, na rejeição ou no autoquestionamento. 

O novo disco, que já era esperado ansiosamente pelos fãs desde o sucesso de “Ctrl”, conta com a participação de Don Toliver, Travis Scott, Phoebe Bridgers e Ol’ Dirty Bastard ao longo do projeto — que apesar do predominante R&B, explora o conhecido pop-punk na faixa “F2F” e até mesmo “slow jams” com a balada “Nobody Gets Me”. 

Foto: Divulgação

Conceito: “SOS” não é só um pedido de socorro

No dia 30 de novembro, SZA divulgou em suas redes sociais a capa de “SOS”, que logo de cara se mostrou uma referência à fotografia da princesa Diana de férias em Portofino, na Itália, em 1997. A cantora confirmou a teoria dos fãs em entrevista à HOT 97: “Eu apenas amei a sensação de isolamento que ela demonstra, e foi isso que eu quis transmitir.” (via Consequence).

A relação da capa com a narrativa do disco é clara. Nas 23 faixas, a ideia de contemplação e autodescoberta deslancha junto à nostalgia e inseguranças pessoais. Um diário aberto como é de praxe nos trabalhos de SZA, o mundo da artista e da princesa de Gales se cruza na ideia do distanciamento pela proteção, ainda que sejam encarados os riscos: se sentam na ponta de uma passarela que serve de trampolim, mas ao invés do salto, permanecem sozinhas e contemplam um horizonte infinito. 

Na solidão indiscutível e declarada, ambas acabam se distanciando na postura. Diana se acata e se abraça em uma quase pequenez, SZA se projeta de peito aberto, como quem encara suas próprias dores e narrativas. Isso fica claro em faixas como “Seek & Destroy”: “Now that I’ve ruined everything, keep it all for me / Now that I’ve ruined everything, space is all I need” (“Agora que eu arruinei tudo, deixo tudo para mim / Agora que eu arruinei tudo, espaço é tudo o que eu preciso”).

Faixa a faixa: intimismo e experimentações na medida certa

Em seu segundo disco, SZA repete a fórmula que fez “Ctrl” ter o reconhecimento e sucesso que teve. A open track “SOS”, também faixa-título do álbum, traz uma introdução narrativa do projeto e é seguida por “Kill Bill“, uma das muitas referências que SZA espalha pelo projeto e que já é queridinha dos fãs com aposta para single. A segunda faixa assumiu o topo do Spotify Global nesta quarta-feira (14), tirando a posição cativa nessa época do ano de Mariah Carey com “All I Want For Christmas Is You”.

O novo hit é seguido por “Seek & Destroy”, “Low” e “Love Language“, trinca que reforça o confessional perfil de SZA com pitadas de pensamentos intrusivos e inquietações. Mas nas faixas como “Blind”, “Snooze” e “Gone Girl”, fica perceptível o crescimento sonoro de SZA a partir de produções robustas em um R&B menos experimental e mais encorpado em sua própria identidade. 

Ainda assim, certamente, o ponto fora da curva é com “F2F”, trabalho com composição de Lizzo e que pode ser considerada um pop-punk perdido na metade do disco após o feat com Phoebe Bridgers na romântica “Ghost in the Machine“. Ela é seguida pela potente “Nobody Gets Me”, faixa elevada a single com videoclipe melancólico lançado junto ao disco. 

Ainda sobre a segunda metade do extenso álbum, SZA sustenta sua potência em faixas reaproveitadas de lançamentos anteriores. “Shirt”, por exemplo, reaparece antecedendo o feat com Travis Scott, em “Open Arms” — que conta com uma mensagem da avó de SZA, Norma Rowe, na introdução. Além delas, o álbum conta ainda com “I Hate U“, lançada em 2021, e o icônico “Good Days“, single de dezembro de 2020 e sua primeira faixa a ocupar o top 10 da Billboard Hot 100

Mesmo com 23 músicas e sem muitos critérios na construção do álbum como um projeto único, mas de uma compilação de faixas, SZA ainda assim faz o que poucos conseguem — superar um debut aclamado mesmo após um longo, mesmo que compreensível, hiatus. “SOS” não significa somente um pedido de socorro sobre ardores pessoais, traumas de exs ou processos de desapego, mas é também um trabalho no qual se impera uma jornada de autodescoberta e reconstrução a partir da vulnerabilidade.

9,0/10

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