Pop punk e pop rock são, provavelmente, os gêneros musicais dominantes na minha biblioteca. Quem me conhece, sabe que não dispenso um riff ecoando na cabeça e um refrão sobre crises de adolescência pra ser cantado no chuveiro. Dos ‘padrinhos’ The Offspring, Green Day e Blink-182 até os ‘novatos’ All Time Low, Mayday Parade e The Wonder Years, essa cena é parte muito grande da minha vida. E pouca coisa me faria mais feliz do que vê-la representada a nível popular de novo. No rádio, na TV, nos portais mais esdrúxulos da internet, na voz do meu amigo que só vai ouvir duas músicas e se considerar o maior fã – por que não? Tudo pela promoção de música boa. Acessível, sim, mas boa.
Falando em popularidade, o 5 Seconds of Summer tem feito muito barulho esse ano. Os quatro australianos que provavelmente ainda não têm idade para dirigir começaram a carreira fazendo covers no reino encantado de infinitas possibilidades da internet, e logo foram chamados para abrir uma turnê de um tal de One Direction. O resto é história, e ela está acontecendo agora: o quarteto vai tocar em arenas e estádios norte-americanos e deve ser a sensação do ano que vem. Sim, é muito provável que você ouça 5SOS em 2015 na mesma proporção em que ouviu 1D em 2013.
Então vamos à pergunta que não quer calar: “isso vai ser bom?”… Bem, depende do ponto de vista. Musicalmente falando, o álbum de estreia homônimo da banda não traz absolutamente nada de novo à mesa. Repleto de ‘uô-ôs’ e ‘hey-heys’, as músicas são formulaicas. “She Looks So Perfect”, o primeiro single e grande responsável pela ascensão meteórica do grupo, está entre as piores do disco, citando uma marca de roupas íntimas no refrão. Permanece um mistério se o ato foi proposital ou uma jogada de marketing absurdamente desnecessária. Não é até a quarta faixa, a razoável “Kiss Me, Kiss Me”, que o grupo consegue executar três minutos minimamente agradáveis (leia-se: que não proporcionem vergonha alheia) de música. A canção seguinte, “18”, merece atenção especial nesse assunto – fica pra depois.
“Everything I Didn’t Say” começa com (adivinhe) “o-o-ôs” e pode ser definida com, olha só, adjetivos bons. Bonitinha, simpática, inofensiva. Levando em conta o que foi a primeira metade do disco, é um progresso absurdo. O vocalista Luke Hemmings tem a típica voz “boa o suficiente pra uma carreira solo, mas nojenta o suficiente pra te dar câimbras faciais a cada refrão açucarado”, como o de “Beside You”. Ou de qualquer outra música, na verdade. “Heartbreak Girl” é o destaque do álbum, variando o ritmo entre os versos e o refrão – que conta com uma charmosa forçada de sotaque do menino Hemmings e é contagiante como o Ebola. Algo assim. Já “Amnesia” é uma faixa acústica que fecha o disco de estreia dos australianos de forma medíocre, embore ressalte a versatilidade vocal da banda.
Produzido e escrito por aproximadamente 23 bilhões de pessoas da indústria (ou quase isso), o resultado final decepciona. John Feldmann, um de meus heróis como líder do Goldfinger, também tem forte representatividade na cena como produtor, mas seu trabalho divide opiniões. Dessa vez, é seguro e limpo demais. Difícil culpá-lo: com uma grande gravadora, orçamento e expectativas excessivas, qualquer tiro no escuro poderia lhe custar a cabeça. E os mais de 20 co-escritores das canções fazem um trabalho bem pior. Vamos a um exemplo? A faixa “18” (lembra?), assinada por dois integrantes da banda e mais quatro co-escritores leva um trecho que diz: “Ela me disse para encontrá-la lá / mas eu não consigo pagar a passagem de ônibus / eu não sou velho o suficiente para ela / só estou esperando até completar 18 anos”.
Foram mesmo necessárias seis pessoas pra conseguir escrever essa atrocidade? Será que os dois meninos não conseguiriam essa proeza sozinhos? Tudo bem, o 5SOS é um produto destinado aos que se identificam com esse tipo de liricismo e, tecnicamente, não há nada de errado nisso. A letra é ruim se jogada num cenário amplo, mas é propositalmente ruim: seu público-alvo se identifica com ela. Quem assinou “18” tem consciência disso. O negócio é que não estamos aqui pra passar a mão na cabeça de ninguém, certo? Não vamos dar um 10 só porque a garotada gosta. É música como qualquer outra, assim deve ser julgada, e assim foi, pelo menos aqui.
E o veredito final é: 5 Seconds of Summer é um álbum de pop rock (longe, bem longe do pop punk que insistem em veicular por aí) pra se aproveitar os vários riffs que grudam na sua cabeça e alguns refrões pra cantar no chuveiro (dica: “Heartbreak Girl”) por uma ou duas semanas, talvez. Depois, vá ouvir o Take Off Your Pants and Jacket, do Blink-182, e comece por aí. Se tudo der certo, você vai descobrir um sem-número de bandas que passavam despercebidas aos seus ouvidos, e logo vai se lembrar destes quatro australianos como “aqueles meninos das músicas bobinhas, mas que me introduziram a um mundo incrível”. É a consequência pela qual torço com a iminente explosão deste quarteto bonitinho, mas ordinário. Desde já grato, 5SOS!
Nota: 4/10