Recomendo para quem gosta de Grimes, Björk, Chairlift, Glasser, Bat For Lashes, Kate Bush.
A primeira vez que ouvi Austra foi no ano passado, mas não me chamou tanta atenção embora deveria . A compositora canadense Katie Stelmanis já lançou três álbuns: Feel It Break (2011), Olympia (2013) e o mais recente, Future Politics (2017). Acredito que a razão pela qual o último me interessou mais é a situação política que vivemos no Brasil e no mundo, além de esse ser claro, um dos primeiros discos que escutei em 2017 ( depois de “I See You, do The XX e “Oczy Mlody”, do Flaming Lips).
Na canção título, abaixo, a artista canta que a única solução é “políticas para o futuro” e que talvez esteja sozinha sugerindo isso: I’m not a coward, like them, Well, I got my money (Eu não sou uma covarde como eles. Bem, eu tenho o meu dinheiro).
Com grande influência do synthpop, sua música se assemelha bastante à sua conterrânea Grimes (embora ela possua um tom de voz mais sóbrio). Os temas (desse novo álbum, principalmente) são mais frugais, embora também haja espaço pra melancolia em discos anteriores. Nesse quesito, diversidade de temas evidente, podemos fazer um paralelo com Björk, que trabalhou com vários temas ao longo da carreira, incluindo a política.
A canadense não poderia ter escolhido momento mais propício para o lançamento e a capa do material já faz referência – esteticamente – ao comunismo ( o vermelho está bem em evidência), uma forma de contrapôr o capitalismo que é abordado no material. Com certeza, teve um propósito.
“Eu escrevi “Future Politics” imediatamente após ler algo chamado “ACCELERATE MANIFESTO” que é basicamente a teoria de que a tecnologia irá eventualmente avançar o suficiente para nos libertar do capitalismo através da eliminação da necessidade de trabalhar e também eliminando a escassez. Os caras que escreveram isso são tipo celebridades futuristas e apesar da ideia ser um pouco forçada, é importante explorar a variedade de opções que nós temos na nossa frente e que nossos líderes nos dizem ser impossível” (Austra, em entrevista recente).
Apesar dessa ideia ser bem Black Mirror, é sempre legal quando um artista usa algum tipo de inspiração meio que inesperada no processo criativo.
“Utopia”, outra faixa interessantíssima do novo material, também remete à essa sensação de sonho, de um futuro que parece distante: “I can picture a place where everybody feels it too/ It might be fiction but I see it ahead (Eu posso imaginar um lugar onde todo mundo sinta o mesmo/ Pode ser ficção, mas eu sinto isso agora)”. O clipe ganhou um ar bem futurista também.
Outra faixa que já ganhou clipe também é “I Love You More Than You Love Yourself”, uma faixa que discorre sobre vazio, depressão. O vídeo traz a história da astronauta Lisa Nowak no que tange a tentativa de sequestro da engenheira Colleen Shipman.
“O diretor M Blash e eu estávamos fascinados pela história de Lisa Nowak, mas queríamos explorá-la pelas lentes da compaixão. Nós quisemos usar para explorar os problemas da saúde mental e depressão, coisas que muitos de nós experimentam, na tentativa de tirar o estigma dessas conversas no futuro”.
Com essa perspectiva, não deixa de ser outra faixa política, né nom?
“Gaia” também é uma canção pra prestar bem atenção ( mas, eu recomendo ouvir todas as músicas – sem pular). A música é praticamente um hino de conscientização: “The physical world is the only world/ If you kill the ground you walk on/Nobody will take you anyway; O mundo físico é o único mundo/ Se você mata o solo que você pisa/ Ninguém vai levá-lo de qualquer maneira”.
Conforme explicitou a artista, a ideia central do material (apesar de podermos analisar cada faixa de modo individual) é a de que “o futuro é algo totalmente maleável e indeciso”. Ela cita Malcolm X, em entrevista: “O futuro pertence a quem se prepara pra ele hoje”. “Nós temos esperado muito tempo na defensiva, e agora devemos nos mover para a ofensiva e começar a quebrar um monte de paradigmas fundamentais”.
Confira nossa playlist (com músicas de Austra e artistas relacionados):