A essa altura, você com certeza já deve ter ouvido falar sobre MTG. O termo é uma abreviação para “montagem” e se trata de músicas que recebem, como o próprio nome diz, montagens de trechos de outras canções, criando uma versão totalmente nova. Mas como e por que elas se popularizaram no país? Entenda!
Como as MTGs se popularizaram no Brasil?
Especialista no assunto, Brenda Espasandin, CMO da distribuidora digital nacional MusicPRO, explicou ao Tracklist que as montagens já existem há muito tempo, mas ganhou as graças do grande público recentemente. “Atualmente, a maior visibilidade das montagens pode ser atribuída a vários fatores. Primeiramente, o aumento da popularidade do funk de Belo Horizonte, com artistas como Gordão do PC e Saci, que já são grandes nomes nos serviços de streaming”, conta.
Mas por que especificamente o funk de BH? “A popularização, de modo geral, é pelo fato de [as montagens] terem o aspecto já conhecido do público e trazendo batidas novas. Acredito que o funk de BH foi pioneiro nisso por conta dos bailes que acontecem por lá. O gênero que sempre predominou nesses eventos são essas montagens com alguns sons bem específicos da cultura ali”, diz a especialista.
Além disso, a popularização geral das MTGs se deve muito a plataformas como TikTok e Instagram, que favorecem a criação de conteúdo original e, consequentemente, a sua expansão. “Artistas como Gordão do PC e Saci produzem músicas que são bem virais e que performam muito bem em plataformas de vídeo curto, que valorizam transições, batidas fortes, graves. Acredito que é um mix do momento das redes sociais curta e da popularização do gênero de montagem de uma maneira geral nessas plataformas, e BH por ter esses bailes de rua”, reforça Brenda.
Além do funk, produtores também trabalham as MTGs com outros gêneros. “A combinação de elementos queridos e conhecidos com uma roupagem atual, seja no funk, eletrônico ou piseiro, é um sucesso. No Brasil, a regionalidade é muito forte, então uma música de MPB popular no norte, por exemplo, pode ser ainda mais ouvida em uma versão piseiro”, comenta a CMO da MusicPRO.
No Google Brasil, o aumento de busca pelo termo “MTG” atingiu seu pico entre os dias 16 e 22 de junho. Um mês antes, em 24 de maio, o produtor e DJ Mulú divulgou, no YouTube, sua versão da faixa “CHIHIRO”, de Billie Eilish. Com mais de 8 milhões de visualizações, a canção caiu no gosto popular, mas ainda não havia obtido uma autorização oficial de seu lançamento. Após um acordo com a equipe de Billie, Mulú lançou, oficialmente, um cover da música com os vocais da cantora Duda Beat.
A procura pelas versões em MTG também estão em alta no Spotify. Na playlist Top Brasil, por exemplo, que mostra as 50 canções mais ouvidas no país na plataforma, seis faixas MTG integram a lista até o fechamento desta matéria – dentre elas, “Não Fosse Tão Tarde – MTG Remix”, de Lou Garcia com Dj Luan Gomes, “MTG PASSA PASSA PRA EU SARRAR”, de Mc Livinho com DJ TOPO, e “MTG QUEM NÃO QUER SOU EU”, também de DJ TOPO com Seu Jorge e Mc Leozin.
MTG de Seu Jorge, DJ TOPO e Mc Leozin: como nasceu o hit
Provavelmente, você já deve ter se deparado com a versão MTG da canção “Quem Não Quer Sou Eu”, de Seu Jorge. A faixa, lançada em 2011 e presente no disco “Musica para Churrasco, Vol. 1”, ganhou uma nova roupagem pelo DJ TOPO.
“[A MTG] teve início com o DJ TOPO, que criou e montou a faixa lançando-a nas suas redes sociais, especificamente no TikTok. Nós descobrimos a música através do TikTok, onde obteve uma grande aceitação do público. Em seguida, entramos em contato com o DJ, oferecendo a possibilidade de licenciar a faixa em parceria com o Seu Jorge, um parceiro estratégico da nossa empresa”, conta Brenda.
Atualmente, a MusicPRO está envolvida em diversos negócios com o cantor, além de serem responsáveis pela distribuição do selo dele, Black Service. “Levamos essa possibilidade ao Seu Jorge, que apreciou a faixa. É importante destacar que a ausência de termos pejorativos e palavrões na música facilitou a obtenção da licença. Após isso, realizamos os processos administrativos necessários, incluindo a divisão de receita, e lançamos a faixa em conjunto nas plataformas digitais, além das redes sociais. Portanto, embora a música tenha sido inicialmente criada pelo DJ TOPO e lançada no TikTok, nós a licenciamos para plataformas como Spotify, Deezer, YouTube, entre outras”, detalha Espasandin.
A questão dos direitos autorais nas MTGs
Com o processo de licenciar devidamente a faixa com seus respectivos autores, a CMO da MusicPRO conta ainda que, apesar da popularização das MTGs, as pessoas seguem sem entender ou procurar saber como disponibilizar e licenciar as faixas de maneira correta, a fim de respeitar os direitos autorais e fonográficos.
“O principal fator que contribui para isso é a desinformação. É fundamental que os produtores entendam como solicitar essas autorizações. Temos consciência de que nem todos agem por desinformação – algumas pessoas agem com a intenção de evitar consequências, o que é extremamente prejudicial para o ecossistema musical. A criação de montagens de catálogos originais e a cocriação desses catálogos trazem benefícios significativos para todos os envolvidos, incluindo os autores originais, os proprietários dos fonogramas e os remixers”, alerta Brenda.
Quanto a MusicPRO, a especialista conta que a plataforma tem investido e dado atenção às MTGs há muito tempo e que ganhou ainda mais força depois da MTG com Seu Jorge. “No próprio MusicPRO já estabelecemos pré-acordos com alguns MCs de funk, como GW e TH, que permitem o uso de suas faixas a capela, dentro de um acordo de divisão de receita. Portanto, algumas faixas e fonogramas já estão pré-autorizados para os produtores utilizarem, conforme esses pré-acordos que temos com os intérpretes e autores”, reforça.